O Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) anunciou nesta segunda-feira (10) que abriu um processo ético a fim de investigar a propaganda da Volkswagen que, para convencer o público a comprar seus carros, utilizou da Inteligência Artificial para colocar a cantora Elis Regina, falecida em 1982, em um dueto com sua filha Maria Rita.
De acordo com o órgão, queixas de consumidores que questionaram o aspecto ético do comercial foram o estopim para a abertura da representação. O principal questionamento é se o uso da Inteligência Artificial para “trazer à vida” uma pessoa morta não estaria ferindo algum princípio ético da publicidade.
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“Eles questionam se é ético ou não o uso de ferramenta tecnológica e Inteligência Artificial (IA) para trazer pessoa falecida de volta à vida como realizado na campanha, a ser examinado à luz do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, em particular os princípios de respeitabilidade, no caso o respeito à personalidade e existência da artista, e veracidade”, diz trecho da nota publicada pelo Conar.
Entre os aspectos que o processo pretende analisar está a possibilidade dos herdeiros da cantora autorizarem o uso da sua imagem. Elis jamais viveu a cena ilustrada no comercial, em que aparece dirigindo uma Kombi antiga e cantando “Como nossos pais”, um dos seus maiores clássicos. Ainda em vida, Elis combateu a ditadura militar, enquanto a Volkswagen, que hoje usa sua imagem, foi uma importante colaboradora do regime.
“Ao assistir à campanha e ver Elis Regina cantando de dentro de uma Kombi, senti um profundo estranhamento. Uma sensação de profundo mal-estar. Afinal, estamos diante da maior cantora do Brasil, alguém que lutou contra a ditadura e que, antes mesmo de se tornar moda, já acreditava no lema de ‘um outro mundo é possível’... Será que ela concordaria em ser garota-propaganda da Volks? Não é Elis Regina que está ali e, sinceramente, não há semelhança material. O que vemos dentro da Kombi parece um boneco de plástico com feições alienígenas. É equivocado e profundamente cafona”, escreveu o jornalista Marcelo Hailer em artigo publicado na Revista Fórum na última semana.
O Conar também quer apurar se o uso da Inteligência Artificial fraudou a identidade de Elis Regina perante o público mais jovem, que não tem conhecimento a respeito da sua trajetória. A ação busca esclarecer se o comercial criou confusão entre o que é ficção e o que é realidade diante do referido público.
O Conselho de Ética do Conar irá julgar a representação nos próximos dias, garantindo o direito à defesa da montadora e da agência de publicidade responsável pelo anúncio. O prazo para conclusão dos trabalhos é de 45 dias.