Após um mês contínuo de chuvas e inundações devastando grande parte do seu território, o Rio Grande do Sul assiste a uma crise pública múltipla, além da climática, com a necessidade da alta alocação de recursos pelo governo federal. Com mais de 650 mil gaúchos deslocados de suas casas, cada vez mais a tragédia no estado se prova como a maior do país e se coloca como uma das maiores do mundo.
Em uma avaliação do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), a tragédia climática teve um impacto significativo no mercado de trabalho local. A catástrofe afetou 95% dos 3,2 milhões de empregos existentes no estado. A entidade alerta que o tempo necessário para a recuperação é desalentador.
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Para o presidente-executivo do IBPT, João Eloi Olenike, o governo do Rio Grande do Sul “terá de criar um plano de fomento e subsídios para que novamente os habitantes possam ter uma vida digna, próxima dos padrões que tinham antes da supertragédia acontecer”, diz.
Em razão disso, protestos e manifestações estão crescendo na região, com o objetivo de chamar atenção para os efeitos da tragédia, segundo o ClimaInfo. Na última sexta (31), a organização Eco pelo Clima realizou em Porto Alegre a “Marcha Global pelo Clima”, solicitando a declaração de emergência climática no estado - uma demanda já feita em novembro do ano anterior. Os manifestantes enfatizaram que as inundações são resultado da negligência dos líderes políticos, aos quais se chamaram de “descuidados e incompetentes”, direcionando-as ao governador Eduardo Leite (PSDB) e ao prefeito da capital, Sebastião Melo (MDB).
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Uma outra iniciativa surgiu com a “Manifestação aos porto-alegrenses sobre o sistema de proteção contra inundações de Porto Alegre”. Este documento, que conta com o apoio de vários engenheiros, arquitetos e ex-membros do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE) e do extinto Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) da capital, enfatiza a necessidade de estudos para expandir e aprimorar, em nível estadual, alternativas para os sistemas de proteção contra inundações.
Trabalhadores da cultura
As enchentes também atingiram centros históricos de Porto Alegre e pontos culturais de referência no Sul, como pontos de cultura. As águas invadiram o centro histórico da cidade, alcançando a Praça da Alfândega, um patrimônio tombado pelo Iphan, que abriga o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), o Memorial do Rio Grande do Sul, ambos equipamentos estaduais, e o Farol Santander, de propriedade privada, todos construídos no início do século 20.
Sem renda e sofrendo perdas materiais significativas, profissionais da cultura estão lutando para encontrar uma perspectiva positiva para o futuro. As inundações devastadoras não apenas danificaram suas propriedades, mas também afetaram profundamente suas fontes de renda. Muitos desses indivíduos dependem de eventos culturais e apresentações para sustentar suas vidas, e com a destruição causada pelas enchentes, essas oportunidades foram drasticamente reduzidas.
De acordo com uma pesquisa do jornal Matinal, um dos principais veículos de Porto Alegre, a esmagadora maioria dos participantes do estudo, 99,3%, indicou que suas atividades foram impactadas de alguma maneira pela crise climática. Uma análise preliminar das respostas revelou que 91,6% trabalham profissionalmente no setor cultural e 81,7% dependem exclusivamente da cultura para sua renda.
Quanto às áreas de atuação, a música tem a maior representação, com 24,7%, seguida pelas artes cênicas (11,5%), profissionais envolvidos na gestão, produção ou empresariado cultural (8,7%) e as artes visuais e audiovisuais (aproximadamente 6%). Outras áreas também citadas foram: livro e literatura; culturas populares; pontos de cultura; museu, memória e patrimônio cultural; circo; carnaval; artesanato e dança.