O desastre climático que atingiu o Rio Grande do Sul impactou cerca de 3 mil unidades de saúde, incluindo consultórios, clínicas, centros especializados e farmácias. Além disso, mais de 40 comunidades quilombolas, 240 favelas e cinco territórios indígenas também sofreram com as consequências.
Os dados são do Observatório de Clima e Saúde, ligado ao Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O levantamento foi realizado por meio do cruzamento de diversos bancos de dados.
Te podría interesar
Os pesquisadores utilizaram imagens de radar e satélite para mapear as áreas de inundação e identificar os estabelecimentos e territórios afetados, com base em dados do Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), da Fundação Cultural Palmares e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai).
Os dados e mapas interativos estão disponíveis para consulta na página do Observatório de Clima e Saúde. As informações, detalhadas por município, visam subsidiar ações do poder público e da sociedade civil na reconstrução e recuperação das áreas atingidas.
Te podría interesar
Impactos na saúde pública
A pesquisadora Renata Gracie, do Observatório de Clima e Saúde, em entrevista à Agência Brasil, destacou a necessidade de cuidados especiais com a saúde das pessoas afetadas, que podem apresentar doenças de pele, viroses e outras enfermidades devido ao contato com água contaminada. Ela ressaltou a importância de conhecer os equipamentos de saúde disponíveis e os que foram danificados para planejar ações eficazes.
“Muitas unidades de saúde foram inundadas, e as pessoas não vão conseguir ter acesso a elas. Então, esse sistema serve para os gestores municipais e estaduais entenderem a extensão dos danos e realizarem um diagnóstico de situação”, explicou Gracie.
Áreas Vulneráveis
A nota técnica divulgada pelo observatório estima que 2,5 milhões de pessoas foram impactadas pelo desastre. O levantamento destacou a necessidade de atenção especial às áreas já vulneráveis antes do desastre, incluindo 167 favelas e cinco territórios indígenas diretamente afetadas pelas inundações. As comunidades quilombolas, reconhecidas por seus valores históricos e culturais, também estão em risco, com sete áreas situadas diretamente nas manchas de inundação.
“A vulnerabilidade dessas comunidades é agravada por fatores socioeconômicos e a falta de infraestrutura adequada, comuns em regiões historicamente marginalizadas”, afirma a nota.
Necessidade de estratégia de saúde pública
A situação evidenciada pelo desastre ressalta a necessidade de uma estratégia de saúde pública robusta, que atenda às demandas imediatas durante um desastre e fortaleça a resiliência das infraestruturas de saúde para futuros eventos.
Investimentos em melhorias físicas, treinamento de pessoal para respostas rápidas e sistemas de comunicação eficientes são essenciais para garantir a integridade da saúde pública.
Gracie enfatizou que os dados são estimativas baseadas em imagens de satélite e que serão necessárias análises mais precisas. No entanto, o mapeamento já ajuda a direcionar a atuação do poder público, da sociedade e dos pesquisadores.
Essas informações podem auxiliar tanto os gestores quanto a população a entenderem a extensão dos impactos e as ações necessárias para a recuperação das áreas afetadas.
Leia aqui a nota do Observatório de Clima e Saúde na íntegra.
Auxílio à saúde pública
O Ministério da Saúde iniciou neste sábado (18) os atendimentos no hospital de campanha (HCamp) de São Leopoldo, município distante 40 quilômetros de Porto Alegre. Com a abertura do hospital, a pasta passou a operar três hospitais de campanha, considerando os já instalados em Porto Alegre e Canoas. Além desses, outra estrutura será instalada em uma cidade a ser definida.
A nova estrutura funcionará 100% com recursos da Força Nacional do Sistema Único de Saúde (SUS) e do Grupo Hospitalar Conceição (GHC). O hospital, que conta com seis médicos, três enfermeiros e oito técnicos, receberá pacientes 24 horas por dia e tem capacidade para entre 150 e 200 atendimentos diários.
A Força Nacional do SUS ultrapassou 2,2 mil atendimentos no Rio Grande do Sul desde o início das enchentes, em 3 de maio.
A maior parte dos atendimentos são estabilização de pressão arterial, diabetes e pequenos traumas. Além disso, as equipes já realizaram até mesmo partos. No início desta semana, em menos de 24 horas, o HCamp de POA realizou 108 atendimentos, sendo 60 consultas e 48 reavaliações. A unidade recebeu pacientes para estabilização, aplicação de medicamentos, triagem de casos, entre outros serviços.
Reforço na vacinação do povo gaúcho
O Ministério da Saúde também tem reforçado a necessidade de a população gaúcha se vacinar contra as doenças mais comuns após desastres, como o que afeta o estado, que enfrenta severas enchentes em 90% do seu território.
Por isso, a pasta recomenda o reforço na vacinação contra influenza e Covid-19, além de tétano, hepatite A e raiva. O governo também monitora casos de leptospirose e outras doenças que podem surgir em decorrência da contaminação da água, mas diz que situações como a da dengue estão sob controle.
Ações em territórios indígenas
As enchentes no Rio Grande do Sul exigem uma série de ações logísticas para socorrer os territórios indígenas afetados pelo desastre. Para dar uma resposta efetiva, as equipes da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, chegam por terra, ar e água.
Juntamente com parceiros como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Médicos Sem Fronteiras (MSF), Cruz Vermelha e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), a pasta envia donativos, medicamentos, além de médicos e enfermeiros, em missões via carros, barcos e aeronaves.
As equipes de atendimento em saúde continuam em missões nas comunidades indígenas. Em Ponta do Arado, os insumos que haviam sido guardados emergencialmente em uma fazenda foram entregues via barco.
Foram realizadas missões exploratórias aéreas em parceria com o MSF nas aldeias de Jacutinga, Santa Maria Kaingang e Santa Maria Guarani, onde vivem 188 indígenas.
O Ministério da Saúde está levando alimentação, água, agasalhos e medicamentos para promover assistência em saúde e diagnóstico situacional das condições da água para consumo humano e das infraestruturas afetadas.
Já na missão exploratória terrestre na aldeia Puyanawa e na aldeia Foxá, pertencentes aos municípios de Cruzeiro do Sul e Lajeado, indígenas da etnia Kaingang, cerca de 200 pessoas foram atendidas.
Atuação na emergência
O Ministério da Saúde está investindo recursos para ações de promoção, proteção e recuperação da saúde indígena no Rio Grande do Sul. O orçamento, oriundo da Medida Provisória 1.218 do Governo Federal, soma R$ 21,4 milhões e impactará diretamente 36 mil indígenas no estado.
Desde 3 de maio, a Sesai executou uma série de ações para proteger essa população. A pasta articulou, por exemplo, apoio com a Defesa Civil dos municípios para a evacuação de indígenas residentes nas áreas de risco.
Segundo levantamento da Sesai, todos os sete Polos Base no estado relataram impactos devido às chuvas. Ao todo, 80 aldeias estão parcial ou totalmente isoladas, afetando mais de 15 mil indígenas distribuídos em 40 municípios.
Em relação às aldeias com comunicação parcial ou sem comunicação, são 31 aldeias onde vivem 2.250 indígenas, em 17 municípios.
A ministra da Saúde, Nísia Trindade, fez um balanço das ações da pasta nesta sexta-feira (17) durante reunião do governo federal e prefeitos do estado para alinhamento das ações. Ela ressaltou que hospitais e outros unidades de saúde do estado gaúcho estão em funcionamento, mas sobrecarregados ou em condições precária.
"Um reforço de R$ 30 de milhões para manter e melhorar seus serviços. Temos que garantir a assistência à população gaúcha", afirmou a ministra.
Com informações da Agência Brasil