TRAGÉDIA

Jovem vítima de bullying e homofobia em escola de elite morre de maneira trágica

"Pedro não teve o direito de ser negro, periférico e gay", manifestou parente ao pedir justiça pelo descaso do colégio, localizado em São Paulo

Fachada do colégio Bandeirantes, em São Paulo.Créditos: Mirabile/Wikipedia
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Alerta: a reportagem a seguir possui conteúdo sensível que pode servir de gatilho para algumas pessoas.

O bullying e a homofobia sofridos no ambiente escolar fizeram mais uma vítima no país. O jovem Pedro, de 14 anos, se suicidou, nesta segunda-feira (12), após ser vítima de ataques homofóbicos no tradicional colégio de elite Bandeirantes, em São Paulo

O tio do jovem, Bruno de Paula, usou suas redes sociais para manifestar a dor da família e pedir justiça pelo descaso do colégio. "Pedro era um menino de 14 anos, negro, periférico e gay, que sucumbiu. Não suportou as 'brincadeiras' dos 'colegas'. Nos dias de hoje, há quem diga que 'não se pode falar mais nada' porque, afinal de contas, 'a vida está muito chata'. Mas o que se diz pode levar pessoas embora", desabafou em sua conta no Instagram.

"Perdemos o Pedro para o bullying, para a homofobia e, principalmente, para o descaso do colégio. A coroa de flores enviada com o clássico e-mail de pesar não tem significado para a família que enterra um jovem", acrescentou Bruno.

Em nota à imprensa, o colégio declarou que a situação “aconteceu fora das dependências do colégio”. “A direção e toda a comunidade escolar estão profundamente abaladas por essa perda irreparável. Neste momento, a prioridade do colégio é oferecer todo o apoio e assistência necessários à família do aluno e aos colegas e amigos impactados por essa tragédia”, disse a escola. 

Porém, Bruno negou que o colégio tenha entrado em contato com a família para prestar solidariedade e apoio. “Recebemos uma coroa e uma nota de pesar. Nada além disso. Não houve uma ligação sequer“, informou ao site Mundo Negro.

Ele também questionou quais providências o colégio irá tomar para evitar que outros casos semelhantes aconteçam. "Que conduta o colégio tomará para evitar que outros Pedros nos deixem de forma tão trágica? Como um colégio de ricos, feito para ricos e por ricos aborda a situação do bullying? Pedro só queria poder dançar livremente", protestou.

O que acontecerá depois da missa de sétimo dia do Pedro? Quantos outros Pedros se calarão, talvez para sempre, frente à crueldade da homofobia e do desrespeito de classes?

"Convido todos os pais, mães, padrinhos, irmãos, tutores a conversarem com seus filhos sobre a vida. Pedro só queria ser livre, ser ele mesmo. Pedro não teve o direito de ser negro, periférico e gay. Ontem, nem sequer chegou ao colégio", acrescentou o tio. Na postagem do texto, ele compartilhou um vídeo que mostra Pedro dançando. 

"A dor de meu sobrinho, perpetuada em todos nós, familiares, poderia, ao menos, ser a premissa para uma mudança de conduta de um dos colégios mais tradicionais de São Paulo, que corre para fugir da responsabilidade", finalizou. 

Escola tem outros casos de suicídio

Em 2018, dois jovens que estudavam no colégio Bandeirantes cometeram suicídio com um intervalo de duas semanas entre os casos. De acordo com relato dos estudantes, um dos alunos sofria de depressão. 

Na época, o colégio disse que tomou providências e criou espaços de escuta e acompanhamento psicológico para os estudantes, além de ações voltadas para todo o corpo docente e discente para que soubessem lidar com o tema. 

Busque ajuda

A Fórum tem a política de ser transparente com seus leitores, publicando casos de suicídio e fazendo alerta sobre a necessidade de se buscar ajuda em casos que possam levar a pessoa a tirar a própria vida.

De 2010 a 2019 no Brasil, foram registradas 112.230 mortes por suicídio. Durante esse período, houve um aumento de 43% no número de vítimas por ano, passando de 9.454 em 2010 para 13.523 em 2019, conforme apontam os dados disponíveis no Ministério da Saúde.

Os principais sintomas que indicam um quadro depressivo, segundo o Ministério da Saúde, incluem:

  • Redução do interesse sexual;
  • Insônia ou sonolência: a insônia geralmente é intermediária ou terminal; 
  • Humor depressivo: sentimentos de tristeza, desvalorização pessoal e culpa; 
  • Retardo motor: falta de energia, preguiça ou cansaço excessivo, lentidão do pensamento, dificuldade de concentração, queixas de falta de memória, vontade e iniciativa; 
  • Dores e sintomas físicos difusos: mal-estar, cansaço, queixas digestivas, dor no peito, taquicardia e sudorese;
  • Apetite: geralmente reduzido, mas em algumas formas de depressão pode haver aumento do apetite, com maior interesse por carboidratos e doces; 

Principais canais de apoio

  • Em casos de ajuda ou informações, há meios acessíveis que fornecem apoio emocional e preventivo ao suicídio. Confira abaixo:
  • Centro de Valorização da Vida (CVV) – 188 (ligação gratuita); Atendimento também por chat, email e pessoalmente. Saiba mais pelo site.
  • CAPS e Unidades Básicas de Saúde (Saúde da Família, Postos e Centros de Saúde); 
  • UPA 24H, SAMU 192, Pronto Socorro; 
  • Hospitais.