Durante interrogatório ao Ministério Público de São Paulo (MP-SP), o capitão Marcos Correa de Moraes Verardino e o cabo Ivan Pereira da Silva, policiais militares acusados de homicídio durante a Operação Escudo, em Guarujá, em 2023, fizeram revelações chocantes.
Ambos confessaram o envolvimento em mais de 25 mortes ao longo das respectivas carreiras na Polícia Militar (PM).
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Marcos e Ivan se tornaram réus pela morte de Fabio Oliveira Ferreira, durante ação policial, que aconteceu em julho do ano passado.
O juiz Thomaz Correa Farqui avaliou que, conforme a denúncia do MP-SP, os dois utilizaram os cargos e armamentos públicos para fugir do “dever funcional” e “agir como perigosos criminosos”.
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Os acusados foram interrogados pelos promotores de Justiça Raissa Nunes de Barros Maximiliano e Márcio Leandro Figueroa.
O capitão Marcos relatou que atua na PM há 22 anos, dos quais 12 nas Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), onde ingressou como tenente e foi promovido a capitão.
Ao ser perguntado se já se envolveu em ocorrências que resultaram na morte de “suspeito”, Marcos admitiu, mas não soube dizer quantas exatamente. “Foram algumas”, afirmou o capitão, que, em seguida, acrescentou “Mais de 10”.
O cabo Ivan repetiu a resposta. “No decorrer da minha carreira, eu tive algumas ocorrências com resultado morte na Força Tática e aqui na Rota. O número exato não tenho conhecimento”, apontou. O promotor Márcio Leandro pediu que ele lembrasse uma média. O PM, então, disse que foram mais de 15 mortes ao longo dos 28 anos na PM, sendo 22 anos somente na Rota.
A dupla também revelou que todas as investigações a respeito da atuação deles nos mais de 25 casos com mortes foram arquivadas.
Relembre o caso
Os agentes foram denunciados pela morte de Fabio Oliveira Ferreira, de 40 anos, assassinado em 28 de julho, no distrito de Vicente de Carvalho, em Guarujá.
Segundo a denúncia do MP-SP, ambos estavam em patrulhamento quando encontraram Fabio caminhando a pé. Eles alegaram que a vítima carregava uma arma na cintura e, por isso, realizaram a abordagem. O homem teria se rendido, erguendo as mãos.
Com a vítima sem oferecer resistência, o capitão Marcos teria efetuado três disparos de fuzil, atingindo a região toráxica e a mão direita de Fabio. Em seguida, Ivan teria disparado duas vezes, fazendo com que o homem caísse no chão.
Depois disso, os agentes revistaram Fabio e, de acordo com a denúncia, o momento foi filmado por uma pessoa que passava na área.
Os policiais repararam que havia câmeras instaladas no local e requisitaram acesso aos gravadores. Os dois retiveram os equipamentos por um determinado tempo e, em seguida, devolveram, dizendo que a aparelhagem não gravava.
A versão do boletim de ocorrência (BO) apontou que Fabio estava em “atitude suspeita” e tentou sacar uma arma ao ser abordado. Por isso, um dos policiais disparou, enquanto o outro tentou tomar a arma de Fabio, atirando outras vezes. O BO alegou, ainda, que a vítima foi socorrida, mas não resistiu.
Saldo tenebroso da Operação Escudo…
Após a morte do PM da Rota, Patrick Bastos Reis, em julho de 2023, a Operação Escudo foi deflagrada na Baixada Santista. O agente foi baleado durante patrulhamento no Guarujá.
Ao longo de 40 dias de ação, segundo dados da SSP-SP, 958 pessoas foram presas e 28 “suspeitos” morreram em supostos confrontos com policiais. Desde o início da ação, instituições e autoridades ligadas aos direitos humanos pediam o fim da operação.
…e da Operação Verão
Em 2024, com novas mortes de PMs na região, o governo paulista voltou a realizar ações na Baixada Santista, mas, desta vez, batizadas de Operação Verão, em uma tentativa inútil de desvincular da Escudo, embora com a mesma letalidade. Desta vez, os policiais ficaram na região de 3 de fevereiro a 1º de abril. Firam mortas 65 pessoas em ações policiais.
No total das operações na Baixada, as mortes cometidas por policiais subiram 86% no primeiro trimestre de 2024, segundo ano do governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) em São Paulo.
Na oportunidade, entidades de direitos humanos denunciaram na Organização das Nações Unidas (ONU) o governador paulista e o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite.
Tarcísio rebateu: “Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com o que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, pode ir na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí”.