Com o apoio do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), as vítimas do desastre de Mariana (MG) lançaram nesta quinta-feira (14) a Revida Mariana, uma campanha para pedir por justiça e reparação às famílias que ainda sofrem por conta do episódio. O principal objetivo da campanha é não deixar que o crime ambiental e social causado pelas mineradoras Vale, Samarco e BHP Billington caia no esquecimento. Até o momento, não houve qualquer punição aos culpados, seja no Brasil ou no exterior, enquanto muitas famílias seguem sem abastecimento de água potável, renda e até mesmo moradia.
Em 5 de novembro de 2015, o rompimento da barragem do Fundão reduziu parte do município mineiro a um mar de lama tóxica, que arrastou ruas inteiras e produziu 19 mortes. Tratado como um “acidente” pela mídia liberal, a tragédia é vista como um crime ambiental sem precedentes pela comunidade local, ambientalistas e pesquisadores.
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A barragem abrigava 56,6 milhões de m³ de lama de rejeito. Do total, vazaram 43,7 milhões de m³. Os rejeitos alcançaram os afluentes e o próprio Rio Doce, destruíram distritos inteiros e deixaram milhares de moradores da região sem água e sem trabalho.
“O que o MAB quer com essa campanha é fazer ecoar a voz das milhares de famílias que continuam sofrendo os impactos dessa tragédia criminosa; exigir compensação integral pelos danos sofridos, dialogar com a sociedade e mostrar a luta dos atingidos e atingidas nestes quase 8 anos do crime,” diz Thiago Alves, integrante da coordenação nacional do movimento.
O caso foi considerado, logo que ocorreu, o maior desastre ambiental do Brasil. Cerca de 30 dias após a tragédia foram retiradas nada menos do que 11 toneladas de peixes mortos, oito em Minas Gerais e três no Espírito Santo. Até hoje, ambos os estados ainda sentem os impactos ambientais.
Vinte e duas pessoas e quatro empresas ainda respondem na Justiça pelo desastre ambiental, sendo 21 delas por homicídio. De acordo com avaliação do Ministério Público Federal (MPF), não foram tomadas medidas para evitar a tragédia e as mortes. O resultado disso foi outra tragédia semelhante e ainda mais devastadora em 2019, no município de Brumadinho, na região Metropolitana de Belo Horizonte.
A campanha irá divulgar, a partir da seu lançamento, uma série de vídeos nas redes sociais e para a imprensa que buscam expor a realidade devastadora deixada pelas mineradoras Vale, Samarco e BHP Billiton.
“Os depoimentos trazem a voz sofrida de quem perdeu tudo, teve sua casa, parentes e animais de estimação varridos pela lama tóxica; pessoas que escaparam da morte anunciada, mas cujo sofrimento não cessa”, diz trecho da nota de lançamento da campanha Revida Mariana.
De acordo com a nota, entre as vítimas também estão indígenas e ribeirinhos que choram às margens do Rio Doce, ‘assassinado’ pela lama tóxica, sem saber de onde irão tirar seu sustento, o que pode acarretar, inclusive, no fim das suas comunidades.
“Enquanto no Brasil a justiça caminha a passos lentos há quase 8 anos, lá fora, nos tribunais do Reino Unido, os atingidos e atingidas estão sendo ouvidos. Já há previsão para que, em outubro de 2024, a BHP Billiton, a maior mineradora do mundo, e a Vale, controladoras da Samarco, sejam julgadas pela responsabilidade no rompimento”, informou a nota do Revida Mariana.