"Pedagogia da violência", "escola sem educação, escola sem respeito, escola sem noção" e "viva voz é coisa de macaco" são algumas mensagens racistas que foram espalhadas na última semana ao redor da Escola Municipal Monteiro Lobato, em Higienópolis, bairro nobre na região central de São Paulo. A unidade, que já conviveu com episódios semelhantes no passado, estava livre de ataques racistas há alguns anos.
Por conta de seu currículo inclusivo, que adota o ensino de práticas antirracistas e a discussão sobre igualdade de gênero, a escola sofre esse tipo de ataque desde 2018. Essa é a explicação de Maria Cláudia Fernandes, uma das diretoras da instituição.
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“Temos um currículo diversificado e inovador, porque temos uma gestão democrática. Não fazemos nada sem intuito pedagógico ou que não colabore para o desenvolvimento das crianças. Estamos implementando temas previstos nas leis que vão passar por muitas discussões, como o que aborda ou ensina a história da África nas escolas”, disse para a imprensa.
Diante da violência sofrida pela escola, a polícia afirma que busca imagens de câmeras de segurança e que depoimentos devem ser tomados nos próximos dias a fim de identificar os autores das pichações racistas.
A Secretaria Municipal de Educação foi acusada de só agir sobre o caso após ser pressionada pela comunidade de pais de alunos, mas nega a conduta apontada pela crítica. O órgão diz que está acompanhando as investigações.
Educação inclusiva
A escola apresenta temáticas diversificadas. Nas aulas de História, ensina história africana, indígena e de outras populações étnico-raciais. Nas salas e pátios é possível encontrar mapas do continente africano, ilustrações de personagens negros, diversos livros, fotos de visita de indígenas à unidade, além de diversas bonecas multicoloridas.
Algumas das alunas também realizaram diferentes caminhadas, como a visita à exposição “Rainhas da Copa”, sobre futebol feminino, no Museu do Futebol. “Precisamos mostrar que as crianças podem aprender fora dos muros da escola e também ocupar esses espaços na cidade”, diz Claudia Oliveira, diretora adjunta da escola
Racismo
Após as pichações, a escola produziu um Manifesto Antirracista. Jane Queiroz, professora, diz que “reforçar esse trabalho é a nossa forma de abordar tudo. Continuar abordando os temas, mostrando novas possibilidades de personagens e histórias para crianças, por exemplo”.
Em 2018, o pai de uma aluna gravou um vídeo reclamando que a escola ensinava “ideologia de gênero”, termo muito utilizado nos últimos quatro anos pela extrema-direita, para atacar conteúdos que ensinam crianças a se defenderem de eventual abuso sexual.
O episódio motivou os primeiros ataques à instituição, com ameaças por telefone e visita da Polícia Civil.