No apagar das luzes do governo Bolsonaro, o metrô da capital mineira, Belo Horizonte, foi concedido à iniciativa privada. Nesta terça-feira (28) chegou à Brasília (DF) um grupo de 200 metroviários e metroviárias que pedem ao governo Lula que suspenda o processo de privatização.
Durante a campanha nas eleições de 2022, o então candidato Lula falou contra a privatização do metrô de BH. Em um vídeo que circula nas redes do Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais (SindiMetro-MG), o hoje presidente da República criticou o aumento das tarifas do sistema da capital mineira e o projeto de venda.
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"Agora estão falando em privatizar metrô de Belo Horizonte para ficar mais barato. Não vai ser mais barato. Não vai ser mais barato, vai ser mais caro. O empresário que comprar vai querer ter lucro e não vai querer sequer o mea culpa", afirmou.
A entrega da Companhia Brasileira de Trens Urbanos de Minas Gerais (CBTU-MG), controladora do metrô de BH, para a Comporte Participações, que comprou a estatal no final de dezembro, está marcada para o próximo dia 10 de março.
Para barrar esse processo, os metroviários e metroviárias de BH estão em greve desde o dia 14 de fevereiro. No dia 23, a CBTU divulgou balanço no qual afirma que o movimento grevista deixou prejuízo de R$ 6 milhões na operação. O número inclui o período de funcionamento durante o Carnaval 2023, com estimativa de aumento do número de passageiros.
Nesta terça, o grupo realizou uma manifestação em frente ao Palácio do Planalto contra a privatização e pela manutenção do trabalho dos concursados caso o processo de privatização continue. Os metroviários utilizaram três ônibus de viagem de Belo Horizonte até a capital nacional.
Os manifestantes carregavam placas direcionadas ao presidente Lula: “Lula, receba os metroviários” e “Por que a privatização da CBTU-MG continua?”. Nas redes sociais, a hashtag #LulaRecebaOsMetroviários também foi usada para marcar a manifestação.
Depois de terem sido recebidos pela Secretaria-Geral da Presidência da República, no Palácio do Planalto, pela manhã, o grupo seguiu rumo à sede do Legislativo Federal. Durante a manifestação em frente ao Anexo II da Câmara dos Deputados, o diretor SindiMetro-MG, Pedro Vieira, explicou à Revista Fórum que o processo em curso prevê também a demissão de mais de mil e 600 funcionários. (confira a entrevista completa abaixo)
Vieira comenta que o grupo de trabalhadores e trabalhadoras chegou à capital federal a dez dias da assinatura do contrato de transferência da CBTU-MG para a Comporte para pedir ao governo Lula que suspenda a privatização do metrô de BH.
"Existe uma forma muito melhor de se expandir o metrô, a partir de uma empresa pública forte. O que está acontecendo na verdade é prejudicial a todos os lados, inclusive para a população de Belo Horizonte", atesta.
O líder sindical informa que antes do debate sobre a privatização do metrô, a passagem custava R$ 1,80 e o sistema transportava 250 mil usuários por dia. Desde que a privatização foi colocada à mesa, Vieira afirma que a tarifa passou para R$ 4,50 e o metrô só transporta 100 mil pessoas por dia.
O diretor do SindiMetro disse ainda que o projeto de privatização do metrô da capital mineira não ouviu nem trabalhadores nem a população. Ele considera a iniciativa muito ruim e que transfere R$ 3,2 bilhões de dinheiro público para uma empresa privada. No horizonte, aumento anual do valor da tarifa e a demissão de funcionários
Histórico
O metrô de BH tem 19 estações, com cerca de 28 quilômetros de extensão, em uma só linha de operação. A última expansão foi realizada em 2002. O leilão do sistema foi realizado no dia 22 de dezembro na B3, a Bolsa de Valores de São Paulo. A Comporte Participações S.A. venceu com a oferta de R$ 25,755 milhões.
Confira a entrevista completa com Pedro Vieira, diretor do SindiMetro-MG
Revista Fórum - Qual a pauta da manifestação do SindiMetro?
Pedro Vieira - Em dezembro de 2021, o governo Bolsonaro, junto com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), iniciou um processo de privatização do metrô. Esse projeto não ouviu até hoje os trabalhadores nem a população. É um projeto muito ruim que transfere R$ 3,2 bilhões de dinheiro público para a empresa que fez a compra do metrô. É um projeto que vai aumentar anualmente a passagem do metrô e que vai representar a demissão de 1.600 trabalhadores.
Fora que o BNDES tem um estudo que diz que a CBTU tem um patrimônio de R$ 750 milhões e essa mesma CBTU foi vendida no dia 22 de dezembro por R$ 25 milhões. A assinatura desse processo de privatização vai acontecer no dia 10 de março. Estamos aqui hoje, a dez dias da assinatura, para pedir ao governo Lula que analise esses dados, suspenda a privatização.
Existe uma forma muito melhor de se expandir o metrô, a partir de uma empresa pública forte. O que está acontecendo na verdade é prejudicial a todos os lados, inclusive para a população de Belo Horizonte.
Antes dessa discussão de privatização, a passagem era R$ 1,80, e na ocasião, a gente transportava 250 mil usuários por dia. Começou essa discussão de privatização e, hoje, a passagem é R$ 4,50 e o metrô só transporta 100 mil pessoas por dia.
Então se essa política de privatização e aumento tarifário seguir, a população e, em especial os pobres e trabalhadores, não vão conseguir utilizar o metrô, os metroviários serão demitidos e vai haver um corte de pessoal gigantesco e ainda vai ter essa entrega de patrimônio público para essa empresa privada.
A gente está aqui para pedir a suspensão do leilão e que a expansão seja feita a partir da CBTU pública. Com esses R$ 3,2 bilhões na mão da CBTU pública a gente moderniza a linha 1, constrói a linha 2, e ainda consegue iniciar a construção da linha 3.
Revista Fórum - Qual a agenda da categoria em Brasília?
Pedro Vieira - A gente chegou hoje pela manhã. Fomos ao Planalto, tivemos uma conversa com a Secretaria-Geral da Presidência da República, está marcado para uma hora da tarde uma conversa com o ministro-chefe da Casa Civil [Rui Pimenta], e a gente quer uma reunião com o presidente Lula. Ele esteve em Belo Horizonte durante a campanha, falou do absurdo da privatização, firmou compromisso com os trabalhadores e com a população de não dar sequência nesse processo. Ele até tem feito essa sinalização de acabar com as privatizações. Mas esse processo que é, na verdade, de uma bomba que o Bolsonaro jogou no colo desse governo, esse processo que iniciou no governo de Bolsonaro no dia 22 de dezembro e termina agora dia 10 de março se o Lula não suspender o leilão.
Revista Fórum - Quantas pessoas vieram de Belo Horizonte para Brasília?
Pedro Vieira - Viemos 200 pessoas de Belo Horizonte e contamos também com a solidariedade de vários companheiros e companheiras aqui do Distrito Federal e de várias organizações. A gente está em greve em Belo Horizonte. Esse é o 15o dia da nossa greve, com paralisação total dos serviços de metrô. Essa greve, inclusive, está sendo bastante criminalizada. As contas do sindicato foram bloqueadas, estão querendo bloquear as contas bancárias dos diretores da entidade, foi estabelecida uma multa de R$ 200 mil por dia e a gente está com as contas congeladas. A gente só conseguiu chegar aqui em Brasília graças à solidariedade de outros sindicatos, que ajudaram a custear a nossa chegada aqui.
Revista Fórum - Qual a expectativa em relação à sinalização do presidente Lula quanto a esse processo de privatização? Você acredita que ele vai atender ao pedido da categoria?
Com certeza. Eu acho que sabendo da situação não acredito que o presidente Lula vai seguir com esse processo, que é danoso aos trabalhadores do metrô e é danoso à população. A CBTU pode ser, se o governo investir e enxergar essa empresa como tal, uma empresa essencial para resolver o problema de mobilidade urbana nos grandes centros urbanos. O metrô é uma solução porque diminui o número de carros, você tem um transporte mais seguro, mais pontual, menos poluente. Tem tudo a ver com as necessidades do nosso país. Então eu acho que defender a CBTU pública é, além de tudo, solucionar um problema grave que é o de mobilidade urbana. Acho que o presidente tem a mesma visão. Cabe agora a ele tomar essa decisão de suspender o leilão e valorizar ainda mais essa empresa, ter orçamento, ter projeto e ter condições de expandir o metrô.