TRAGÉDIA ANUNCIADA

Prefeitura de São Sebastião sabia há nove anos do risco de deslizamentos na Vila Sahy

Desde 2014 a administração municipal da cidade do Litoral Norte paulista tinha ciência dos riscos de vítimas da comunidade

Créditos: Agência Brasil (Rovena Rosa) - Fortes chuvas atingiram o litoral norte de São Paulo durante o carnaval, em especial a Vila Sahy, onde moravam a maioria das vítimas
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Um projeto de regularização fundiária da prefeitura de São Sebastião datado de 2014 admitia que os moradores da Vila Sahy estavam em uma área de risco. Nove anos depois, o que estava no papel da burocracia municipal virou realidade. As fortes chuvas do último final de semana, em pleno carnaval, dias 18 e 19, provocaram três deslizamentos na área, soterrando cerca de 50 casas e matando pelo menos 34 pessoas da comunidade. 

O aguaceiro registrado há uma semana foi o maior em 24 horas na história do Brasil e provocou a morte de 58 pessoas no Litoral Norte de São Paulo.

O documento apontava a 'necessidade de remoção das moradias e seus ocupantes, que se encontram na área de risco físico alta, por conta da declividade e solo e processo erosivo avançado' da Vila Sahy. 

A comunidade fica localizada às margens da Rodovia Doutor Manuel Hipólito Rego, entre os bairros de Juquehy e Praia da Baleia, no município de São Sebastião, e é formada por cerca de 650 imóveis e mais de 500 famílias, numa ocupação que se iniciou em 1987.

No Projeto de Regularização Fundiária Sustentável, elaborado pela prefeitura de São Sebastião em 2014, consta um mapeamento do Instituto Geológico (IG), realizado ainda em 1996 no qual a Vila Sahy já era apontada como dentro de um perímetro de risco muito alto, risco alto e risco médio para escorregamentos (deslizamentos de terra) e inundações.

Já àquela época, o IG constatou "risco muito alto" e "risco alto" para escorregamento de encosta em duas ruas da comunidade e recomendou a remoção preventiva dos moradores ou "obras de contenção de médio porte associadas às obras de drenagem".

Ao invés de adotar as medidas para proteger a população, o poder público municipal autorizou que a Vila Sahy continuasse a crescer com a construção de mais imóveis irregulares.

Erros do passado

A Prefeitura de São Sebastião, em nota, afirma que as ocupações irregulares na cidade são um problema de cerca de 15 anos, e que tenta trabalhar para conter os "erros do passado".

Ainda segundo a prefeitura, “os compromissos de regularização assumidos pelo município de São Sebastião em 2009 não foram cumpridos, com o agravamento da formação de novos núcleos urbanos informais e a expansão dos já existentes”.

Questionado, o governo do prefeito Felipe Augusto (PSDB) não respondeu especificamente sobre a falta de providências em relação às áreas de risco.

Com informações do G1