ROUBO HISTÓRICO

Polícia do Rio encontra 8 das 21 armas roubadas do Arsenal de Guerra de SP

Metralhadoras passaram pela Rocinha e foram encontradas na Gardênia Azul, na zona oeste do Rio, onde existe forte presença de milícias; Tenente-coronel que dirige o AGSP será exonerado

Momento da apreensão das armas na Gardênia Azul, zona oeste do Rio.Créditos: Reprodução
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A Polícia Civil do Rio de Janeiro recuperou no fim da tarde desta quinta-feira (19) 8 das 21 metralhadoras roubadas do Arsenal de Guerra de São Paulo, localizado em Barueri na região metropolitana da capital paulista. As 4 metralhadoras .50 e as outras 4 Mags de calibre 7.62 foram encontradas na Gardênia Azul, bairro da zona oeste do Rio famoso pela presença de milícias.

A operação que recuperou os armamentos foi levada à cabo pela Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE) e pela Inteligência do Exército. A investigação apurou que as armas estavam na Rocinha antes de irem para a Gardênia Azul onde foram apreendidas.

Em imagens divulgadas pelo g1, é possível ver o momento que os agentes da Polícia Civil retiram os armamentos do porta-malas de um carro que estava estacionado na comunidade. O veículo estava vazio e era roubado. Ninguém foi preso na operação.

As quatro .50 apreendidas são as mesmas que teriam sido oferecidas a traficantes do Comando Vermelho. Um vídeo dessa transação foi enviado pela Polícia Civil ao Exército e embasou as suspeitas dos militares de que o furto teria sido motivado pela cooptação de facções criminosas sobre militares lotados no AGSP. As investigações ainda descobriram que as armas chegaram a ser adquiridas por criminosos após serem oferecidas em Nova Holanda (Maré), Vila Cruzeiro (Penha), Rocinha e Cidade de Deus, quatro comunidades controladas pelo CV.

As .50 têm o poder de fogo suficiente para derrubar aeronaves e alcance próximo a 1800 metros. Já as 7,62 são armamentos utilizados em combate direto. As metralhadoras seriam usadas nas disputas entre as facções de traficantes e milicianos.

As armas recuperadas ficam sob a guarda de unidade militar no Rio de Janeiro até que o Comando Militar envie homens para buscá-las e levá-las de volta ao AGSP em Barueri. Das 13 armas que seguem desaparecidas, 9 são .50 e outras 4 são de calibre 7,62.

Tenente-coronel que dirige o AGSP será exonerado

Enquanto isso, o General de Brigada Maurício Vieira Gama, chefe do Estado-Maior do Comando Militar do Sudeste, anunciou, também nesta quinta (19), que o tenente-coronel Rivelino Barata, diretor do AGSP, será exonerado do cargo por conta do roubo das metralhadoras.

O general reconheceu o envolvimento de militares lotados no AGSP no roubo e anunciou que aqueles envolvidos que forem temporários serão expulsos da Força e os oficiais de carreira passarão por processos administrativos e de apuração interna.

“O Exército considera esse episódio inaceitável e não medirá esforços para responsabilizar os autores e recuperar todo o armamento no mais curto prazo. Tudo está sendo investigado, e os ilícitos e desvios de conduta serão responsabilizados nos rigores da lei. A linha de investigação mais provável é de que as armas foram desviadas com participação de militares do AGSP entre 5 e 8 de setembro”, afirmou Vieira Gama.

Relembre o caso

O furto foi confirmado pelo Exército na última sexta-feira (13). Durante inspeção realizada na terça (10) foi constatado o sumiço de 13 metralhadoras calibre .50 e 8 de calibre 7.62. As .50 são famosas por terem a capacidade de derrubar aeronaves. Seu alcance e poder de fogo são de conhecimento público.

No último sábado 480 militares lotados no AGSP foram aquartelados, ou seja, ficaram retidos no quartel. Impossibilitados de saírem e de utilizarem celulares e redes sociais. A medida foi tomada pelo Exército a fim de fazer uma devassa em toda a tropa em busca de suspeitos.

Mas as investigações avançaram para valer após a Polícia Civil do Rio de Janeiro enviar um vídeo para o Exército que mostrava 4 armas de guerra sendo oferecidas a integrantes do Comando Vermelho. Eram modelos semelhantes às armasfurtadas. Gravado logo após o 7 de setembro, o vídeo levantou a suspeita sobre a data e a motivação do furto no AGSP.

O Exército anunciou que identificou 3 militares suspeitos de participação no roubo de 21 metralhadoras do Arsenal de Guerra de São Paulo (AGSP), localizado em Barueri, na região metropolitana da capital paulista. A revelação foi feita nesta quinta-feira (19) à Folha de São Paulo.

Após a identificação dos suspeitos, o Exército agora apura se eles teriam sido cooptados por facções criminosas e se o furto ocorreu, conforme apontam as suspeitas, no último dia 7 de setembro. A Força, no entanto, não revelou os nomes dos suspeitos, apenas que teriam sido plantonistas naquele feriado. Eles foram notificados e poderão apresentar defesa para responder a inquérito policial militar.

Em nota, o Comando Militar do Sudeste informou que as investigações transcorrem em sigilo e que, quando forem confirmadas as participações dos suspeitos, suas identidades serão reveladas. Também anunciou que irá punir eventuais oficiais de fiscalização que tenham prevaricado.

Maior roubo de armas do Exército

Este foi o maior furto de armas do Exército desde que tal modalidade de crime começou a ser contabilizada, em 2009, pelo Instituto Sou da Paz.

Naquela ocasião, em 8 de março de 2009, sete fuzis foram roubados do 6º Batalhão de Infantaria Leve de Caçapava, no interior de São Paulo. Criminosos haviam invadido o local e roubado as armas. Após investigação, a Polícia Civil recuperou os armamentos e prendeu os suspeitos. Um deles era militar.

Em 2010 foram 18 armas roubadas e 5 recuperadas. Em 2011, 6 armas foram roubadas e 3 recuperadas. Até 2020 (excluindo o ano de 2014 quando o levantamento não foi realizado), foram 67 armas roubadas e 16 recuperadas.