ATAQUE EM ESCOLA

Aracruz (ES): Dois feridos do massacre têm alta; adolescente segue em estado grave

Depois do ataque, atirador foi para casa, guardou armas e almoçou com a família; Estado abre processo contra pai

Atirador de Aracruz (ES).Homem promove atentado e deixa 4 mortos em escolas de Aracruz (ES).Créditos: Reprodução/Twitter
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As duas mulheres vítimas dos ataques a escolas de Aracruz, Espírito Santo, que estavam no Hospital Filantrópico São Camilo receberam alta médica nesta segunda-feira (28). Também nesta segunda, a Polícia Militar informou os meios de comunicação que instaurou um processo administrativo contra o pai do atirador, que é tenente da corporação, para apurar como o adolescente teve acesso às armas utilizadas nos ataques.

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Ainda há cinco feridos internados. Três em estado grave: duas professoras de 45 e 52 anos que estão na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) no Hospital Estadual Dr. Jayme dos Santos Neves e uma aluna de 14 anos, baleada na cabeça, está entubada no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória, em Vitória. No mesmo hospital está um aluno de 11 anos que até ontem apresentava um quadro mais grave, mas melhorou nas últimas horas. Além dele, uma professora de 58 anos apresenta quadro estável no Hospital Estadual de Urgência e Emergência São Lucas.

O delegado André Jaretta, da Delegacia Especializada em Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), revelou à imprensa que após os ataques em que matou quatro pessoas e feriu outras sete, na última sexta-feira (25), o atirador voltou para casa, guardou as armas e almoçou com a família. Seus pais só teriam ficado sabendo do ocorrido quando atenderam a chegada da polícia na residência, já em busca do jovem.

Jaretta, que interrogou o jovem, ainda revelou que o adolescente planejava o massacre desde 2019, quando teria sofrido bullying na escola que estudava. O delegado diz que o jovem então começou a planejar o massacre, sem contar a ninguém, segundo sua versão. Além disso, teria aprendido a manusear a arma do pai sozinho e às escondidas, e quando sentiu-se pronto, decidiu fazer o ataque em um dia que estivesse sozinho em casa.

Na última sexta-feira, data dos ataques, os pais do jovem teriam ido fazer compras no centro de Aracruz, distante cerca de 20 quilômetro do bairro Coqueiral de Aracruz onde vivem e as escolas estão localizadas. De qualquer maneira, a polícia irá investigar o pai do atirador para ver se comprova a versão dos fatos apresentada, ou não.

Os ataques

Um atentado provocado por um jovem armado causou nova tragédia em uma escola pública na última sexta-feira (25). O autor, que não teve a identidade revelada, invadiu a Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Primo Bitti, em Aracruz, no Espírito Santo, e abriu fogo, assassinando quatro pessoas e deixando outros 11 feridos. Segundo a Polícia Militar, o homem invadiu a escola iniciando o tiroteio com uma pistola. Ele teria invadido a sala dos professores e, em seguida, outras salas. Na escola, duas pessoas foram mortas.

Em seguida, ele entrou em um carro e seguiu para a escola particular Darwin, que fica na região, e fez novos disparos. No local, ele feriu cinco pessoas e matou uma. Pelo Twitter, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), confirmou que as escolas tinham sido invadidas e que acompanhava a investigação.

As quatro vítimas fatais

Uma das vítimas foi a professora de artes Maria da Penha de Melo Banho, de 48 anos. Chamada carinhosamente de Penha na comunidade escolar, a professora também fazia a alfabetização das crianças da escola. Ela deixou o marido, com quem esteve casada por 19 anos, e três filhos. Seu corpo foi velado em igreja evangélica da cidade, onde familiares e amigos se comoveram com sua partida. "Ela morreu no lugar que mais amava, dentro da escola, mas não merecia morrer desta forma tão trágica, ainda estou sem chão", lamentou Santilha Pereira de Melo Perovani, irmã da vítima.

Outra vítima foi uma estudante de apenas 12 anos. Seu corpo ainda teve de passar por exame de necropsia no Departamento Médico Legal (DML) na capital Vitória e só foi liberado na noite de sexta. Estudante do 6º ano do Centro Educacional Praia de Coqueiral, a adolescente Selena Sagrillo Zuccolotto morava no mesmo bairro da escola, Coqueiral de Aracruz, e havia recebido um certificado pelo seu bom desempenho escolar em premiação ocorrida nesta semana. A jovem foi atingida por muitos disparos e não resistiu até a chegada do socorro.

A terceira vítima foi a professora de matemática Cybelle Passos Bezerra Lara, de 45 anos. Também lecionava na escola estadual Primo Bitti, era efetiva da rede estadual desde 2018. Assim como Maria da Penha, Cybelle morreu na própria escola, pouco tempo após receber os disparos. Em 2019, foi uma das selecionadas para atuar na Olimpíada de Matemática das escolas estaduais do Espírito Santo.

Já a professora Flávia Amoss Merçon Leonardo, de 38 anos, estava internada em estado gravíssimo no Hospital Dr. Jayme dos Santos Neves até o último sábado (26), quando não resistiu aos ferimentos e acabou tornando-se a quarta vítima fatal do ataque.

Investigação e processo

De acordo com a Polícia Civil do Espírito Santo, o atirador responderá na Justiça por “ato infracional” correspondente ao crime de homicídio qualificado, em processo que corre em digilo. Se já tivesse atingido a maioridade penal, de 18 anos, o ato praticado seria considerado um homicídio triplamente qualificado por ter sido praticado com motivo fútil, impossibilidade de defesa das vítimas e perigo comum, ou seja, um ato que oferece risco a terceiros além das vítimas. Ele ainda deve responder por tentativas de homicídios em relação aos feridos no ataque.

O jovem atirador foi levado para o Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo e as armas usadas nos crimes foram apreendidas e encaminhadas ao Departamento de Criminalística-Balística da Polícia Civil. A investigação quer saber se o jovem agiu sozinho, se tem relação com grupos neonazistas e como aprendeu a dirigir e manusear armas com tanta habilidade – além de que forma teve acesso a tais itens, proibidos para sua idade.

De acordo com a advogada que representa a família do atirador, os pais deixaram a cidade com medo de sofrer retaliações. De acordo com a defesa, o casal está abalado e questionando-se sobre “onde erraram na criação do filho”. O pai é um tenente da Polícia Militar do Espírito Santo e a mãe, professora, já havia trabalhado na escola estadual Primo Bitti, o alvo do ataque.

*Com informações do G1, Folha e Veja.