Priscila Benichio, advogada da família do adolescente de 16 anos, autor do massacre de Aracruz, no Espírito Santo, declarou que o pai do jovem, tenente da Polícia Militar (PM), não ensinou o filho a atirar e que não tinha conhecimento das ligações dele com grupos ou ideias nazistas.
No entanto, segundo o site ES360, no perfil do Instagram do pai do adolescente é possível ver a recomendação de leitura do livro "Minha Luta", de Adolf Hitler.
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Na legenda da postagem, o militar escreveu: “Ler é uma das chaves de expansão da consciência. Ativa regiões neurais ligadas as recompensas, que é o sistema Accumbens. Núcleo Accumbens Humano (Acc) é a principal estrutura do Estriado Ventral. Constitui uma interface límbico-motora e tem um papel central nos circuitos de recompensa cerebral. Cumpre funções emocionais, motivacionais e psicomotoras, estando envolvido em diversas patologias neuropsiquiátricas”.
A advogada também afirmou que os pais tiveram de deixar a cidade depois de receberem ameaças.
“Na verdade, [os pais] nunca tiveram conhecimento disso [ligação do autor do atentado com grupos nazistas]. Tudo o que aconteceu deixou os pais perplexos”, disse a advogada, em entrevista à Band, nesta segunda-feira (28).
O autor dos crimes afixou um símbolo nazista na roupa que utilizava durante o atentado. Imagens de câmeras de segurança de uma das escolas atacadas mostram o momento em que adolescente invadiu o local armado, com uma faixa vermelha no braço esquerdo.
Priscila relatou que os pais do menor não solicitaram que a defesa pedisse sua liberdade. Depois de ser preso, ele foi levado para o Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases), em Cariacica, na Grande Vitória.
Em relação às ameaças, a representante legal descreveu mensagens recebidas pelos pais do acusado. Ela afirmou que os textos dizem que a família será perseguida para sempre e que os dados deles estão nas mãos dos ameaçadores.
Delegado diz que adolescente é “simpatizante de ideias nazistas” e escolheu alvos aleatórios
André Jaretta, delegado titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e responsável pelas investigações, confirmou que o adolescente, de 16 anos, que matou quatro pessoas e deixou 12 feridas é “simpatizante de ideias nazistas”.
Durante coletiva realizada em Vitória, capital do estado, o delegado afirmou que o autor dos crimes não deu detalhes sobre o assunto e que, por enquanto, não há confirmação de que ele integrava algum grupo neonazista, embora isso ainda será alvo de investigação.
O policial civil também informou que o adolescente não tinha alvos específicos e atirou aleatoriamente nas pessoas. Além disso, ele escolheu as duas escolas como alvos porque eram mais próximas de sua casa e conhecia ambas, pois estudou em uma e votava na outra.
De acordo com o delegado, o jovem alegou que teria sido vítima de bullying na escola e que planejava o atentado havia dois anos.
“A partir de 2020, ele começa a ele se preparar, a se planejar melhor como executaria essas ações, começa a tornar isso mais próximo do plano real. Aparentemente, ele não fala isso com terceiros, guardou isso para si e foi alimentando esse sentimento de ódio", comentou Jaretta.
Conforme o delegado, após cometer o atentado, o adolescente voltou para sua residência, guardou as armas usadas, almoçou e foi para a casa de praia com os pais, o que era frequente.
“Ele retorna para casa onde domiciliava em Coqueiral, pega todos os objetos que utilizou na ação e os coloca em seus devidos lugares para que os pais não desconfiassem que ele tinha usado quando retornassem. Coloca as armas onde estavam e o veículo da forma como ficava. E fica no interior da casa como se nada tivesse acontecido. Os pais chegam e ele reage naturalmente. Os pais já sabiam o que tinha acontecido e chegam a comentar com ele, mas ele se faz de desentendido”, explicou Jaretta.
Pais dizem que jovem tinha acompanhamento psicológico e psiquiátrico
Os pais do criminoso relataram que ele tinha acompanhamento psicológico e psiquiátrico, porque era introspectivo, conversava pouco e não tinha relação profunda com pai, mãe e amigos.
O delegado informou, também, que o pai do jovem, tenente da PM, foi afastado das ações operacionais e será ouvido em depoimento, assim como a mãe, uma professora aposentada.
A PM divulgou que vai abrir processo disciplinar para apurar as circunstâncias que levaram o rapaz a ter acesso às duas armas do pai, uma pertencente à corporação e outra de registro pessoal, de acordo com informações do UOL