EMERGÊNCIA

Cidade na Amazônia pode ser 'engolida' por crateras gigantes; entenda o fenômeno

Buriticupu, no Maranhão, tem crateras que chegam a 600 metros de extensão e 80 de profundidade, ameaçando 1.200 pessoas

Imagem aérea de uma das crateras que abriram na cidade de Buriticupu, em 2024Créditos: Reprodução YouTube
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A cidade maranhense de Buriticupu, a 415 km de São Luís e localizada na parte nordeste da Amazônia, decretou estado de calamidade pública em função das enormes crateras que aumentaram recentemente no local. 

Causado pela erosão do solo, o problema dos enormes buracos tem se agravado em função das fortes chuvas registradas na região nas últimas semanas.

O fenômeno é chamado de voçoroca, palavra que significa terra rasgada em tupi-guarani. Trata-se de uma forma mais extrema de erosão que também atinge outras regiões do Brasil e do mundo. Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, por exemplo, conta com centenas de voçorocas, uma delas de 2 quilômetros de extensão. 

Localizado no topo de uma região com cerca de 200 metros de altitude, o município possui solo composto por areia, silte e argila, e é pouco poroso, absorvendo pouca água.

Problema antigo, agora agravado

A população local convive há mais de 30 anos com o problema, mas até hoje nunca houve solução que evite de forma eficaz o avanço das crateras.

O decreto municipal de calamidade pública, de 11 de fevereiro de 2025, afirma que há 1,2 mil pessoas em 250 moradias situadas em áreas de risco. Segundo matéria da Rede Mirante, em função da falta de obras de contenção, algumas crateras chegam a 600 metros de extensão e 80 de profundidade. 

Em 2023 e em 2024 a administração municipal já havia solicitado o reconhecimento da situação de emergência e, em agosto do ano passado, o governo federal anunciou a liberação de R$ 45,7 milhões para auxiliar nas ações de contenção das crateras. Mas poucos esforços foram feitos na região, segundo os moradores.

Antes mesmo do decreto da prefeitura em fevereiro deste ano, a Justiça do Maranhão já havia determinado que a prefeitura de Buriticupu tomasse providências em relação ao avanço das voçorocas, como delimitar e isolar, no prazo de 30 dias, com sinalização adequada, todas as áreas com risco de desabamento; promover a atualização do cadastro de todas as famílias residentes nas proximidades das áreas afetadas, e apresentar, no prazo de 120 dias, um plano detalhado para execução de obras de contenção.

Desmatamento e mudanças climáticas

O agravamento da situação tem relação íntima com o desmatamento. A geóloga e professora da Universidade Federal do Maranhão Edileia Dutra Pereira explica, em documentário da BBC de abril de 2024, como o processo afetou o surgimento de crateras cada vez maiores.

"Quando a água da chuva não é absorvida no solo por plantas e árvores, ela se acumula na superfície. As gotas de chuva também atingem e deslocam partículas do solo, cavando e formando canais", pontua. "Isso leva ao desenvolvimento de ravinas e voçorocas. A mudança climática aprofunda esse processo por causa das chuvas mais intensas. Em menos de cinco anos, o avanço foi muito, muito rápido."

Ela alerta para o que pode acontecer no município no futuro. "Então, o que acontece simplesmente? Se, num cenário em que essas duas cabeceiras de drenagem se encontrarem, nós teremos um rio. E aí, nesse caso, irá ocorrer a divisão da cidade ao meio, aproximadamente. Existe o risco de Buriticupu desaparecer? Existe."

Sem obras de contenção e medidas de mitigação do impacto ambiental, junto a temperaturas mais elevadas e evaporação maior, com consequente precipitação, as erosões tendem a aumentar no planeta, segundo pesquisadores.

Situação de emergência

O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR) reconheceu, na quinta-feira (20), a situação de emergência na cidade de Buriticupu. 

Com o reconhecimento, publicado em portaria no Diário Oficial da União, a prefeitura está apta a solicitar recursos do governo federal para ações de defesa civil, como compra de cestas básicas, água mineral, refeição para trabalhadores e voluntários, kits de limpeza de residência, higiene pessoal e dormitório, entre outros itens.

Atualmente, o Maranhão tem outros 18 reconhecimentos vigentes de situação de emergência, além de Buriticupu, dos quais 15 por estiagem, um por inundação, um por chuvas intensas e um por colapso de edificações.

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