RELIGIÃO E POLÍTICA

Áudio vazado mostra pastor tentando impor votos aos fieis em Maceió

No áudio, o líder religioso utiliza sua posição na Igreja do Evangelho Quadrangular para garantir o apoio necessário, chegando a afirmar: “Quem não apoiar, eu mando para outro lugar”

Em áudio vazado, o pastor obriga fieis a votarem nele.Créditos: Reprodução / Redes sociais
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A campanha do pastor João Luiz (PP), candidato a vereador em Maceió (AL), enfrenta dificuldades após o vazamento de um áudio em que ele pressiona outros pastores a apoiarem sua candidatura. No áudio, o líder religioso utiliza sua posição na Igreja do Evangelho Quadrangular para garantir o apoio necessário, chegando a afirmar: “Quem não apoiar, eu mando para outro lugar”.

A gravação, que rapidamente se espalhou pelas redes sociais e foi publicada no site O Fuxico Gospel, mostra o descontentamento do reverendo com os resultados das últimas eleições e a falta de coesão entre os líderes religiosos, fatores que ele acredita terem contribuído para a queda no número de votos. “Nas duas últimas eleições de vereador nós tivemos aqui no Tabuleiro 2.500 votos, na última 318”, criticou ele, destacando a ausência de “esforço” e “trabalho” por parte dos pastores.

João Luiz também mencionou o estatuto da igreja, que, segundo ele, orienta os pastores a apoiarem os candidatos oficiais da denominação, demonstrando lealdade ao ministério. Ele foi claro ao dizer que espera uma postura mais alinhada dos líderes e alertou que aqueles que não seguirem as diretrizes da igreja poderão ser transferidos para outras regiões.

Com uma carreira política que inclui mandatos como deputado estadual e seis vezes vereador, João Luiz busca mais uma vez uma vaga na Câmara Municipal de Maceió, mas agora enfrenta a repercussão negativa causada pelo vazamento do áudio.

Na mesma Maceió, um caso totalmente diferente

Na capital alagoana, um outro pastor mostra que é possível conciliar a fé, a política e a ética. Wellington Santos, conhecido como “pastor Wellington do Pinheiro” (por ser pastor na Igreja Batista do Pinheiro - IBP), candidato a vereador pelo PT, pediu licença de sua atuação pastoral frente à IBP durante o tempo da campanha, retornando no dia 07 de outubro, após as eleições. Enquanto durar o período eleitoral, Wellington não pregará na sua comunidade de fé, nem mesmo assumirá o púlpito, para que em nada possa parecer constranger o povo de sua igreja a votar nele.

Além dessa postura, é bom lembrar que o pastor tem sido uma das vozes mais potentes na luta contra o crime ambiental da Braskem em Maceió, que custou inclusive a interdição, até hoje mal explicada, da sede da Igreja Batista do Pinheiro.

A Fórum teve acesso à carta enviada pelo pastor Wellington à IBP, solicitando sua licença. Leia a seguir:

“Querida Família IBP, com o coração cheio de gratidão e tomado pela graça da Ruah, escrevo esta humilde carta para solicitar licenciamento da minha função de pastor/presidente da IBP no período eleitoral (15/08 a 06/10). Aproveito para destacar que mesmo não havendo nenhuma prerrogativa estatutária que me force à tal solicitação, o pedido faz parte da minha visão ética pessoal e democrática de praticar política, fazendo um contraponto com lideranças religiosas que se apropriam das suas comunidades de fé, constrangendo-as a apoiá-los de forma acrítica. Defender a democracia de forma radical é colocar-se pronto para ser apoiado ou não, sem deixar que o poder simbólico do pastorado possa influenciar a decisão eleitoral de cada pessoa que frequenta a nossa amada igreja.” Diz o início da carta assinada pelo pastor Wellington do Pinheiro.