O ex-BBB, jornalista e vereador Adrilles Jorge (UNIÃO-SP) comparou a evolução do feminismo das décadas de 60 e 70 com o feminismo contemporâneo e afirmou que "o feminismo contemporâneo é o resultado da mulher que não sabe escolher um homem". A declaração foi feita durante sua fala na sessão do Simpósio Jurídico de Falsas Denúncias na Câmara Municipal de São Paulo, na noite desta segunda-feira (16).
A fala foi marcada por diversas tentativas do vereador para justificar que homens também podem ser oprimidos e vítimas de falsas denúncias. Adrilles procurou explicar a “origem na psique feminina” para o comportamento de algumas mulheres que cometem falsas denúncias, apresentando como um dos argumentos a proporção populacional. De acordo com o vereador, a situação masculina na modernidade não é resultado da opressão da cultura patriarcal, mas sim derivada de um sentimento de “vingança” por uma mulher ter um “histórico ruim” de relacionamentos, o que, segundo ele, estaria atrelado às falsas denúncias cometidas por uma minoria feminina.
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“O feminismo contemporâneo é o resultado da mulher que não sabe escolher um homem, daí nasce a cultura do ódio e do ressentimento, a feminista aponta pra todos os homens por causa do dedo torto dela, é uma questão de psique, de vingança histórica, social e más escolhas de mulheres alimentadas por esse sentimento, de vingança estrutural, de algumas mulheres, contra toda a população masculina”, disse Adrilles Jorge.
A fala de Adrilles Jorge distorce conceitos fundamentais do feminismo e invisibiliza a violência estrutural de gênero. Autoras relevantes no tema, como Bell Hooks e Silvia Federici, estudam a questão e concluem que o feminismo não é uma cruzada contra os homens, mas sim uma luta por justiça social e pelo fim da violência, da exploração e da opressão de gênero, que perdura até os dias de hoje.
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A Lei Maria da Penha foi criada a partir de dados alarmantes sobre feminicídios e violência doméstica no Brasil, um dos países com os maiores índices de assassinatos de mulheres no mundo. A tentativa de reduzir as denúncias de violência a “más escolhas” ou “vingança psíquica” ignora o fato de que, segundo a ONU Mulheres e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a esmagadora maioria das denúncias é legítima, e que falsas acusações representam menos de 1% dos casos.
A fala de Adrilles Jorge:
“Quando conversei com a Graciele sobre fazer uma série de simpósios de falsas denúncias. Ela chegou e me alertou, perguntando como estava a minha vida íntima, perguntei ‘por que?’, e ela disse ‘porque eles irão atrás de você’”, iniciou sua fala. “Depois dos anos 60, em que o último bastião do feminismo foi crucificar os homens, os homens tem que responder hoje por uma ínfima minoria de assediadores, estupradores e criminosos, e isso prejudica os bons homens de valor, que são acusados de cultura do estupro, do abuso, potenciais agressores, stalkers, e vitimizadores de mulheres. Como se resolve isso? Dando luz ao problema. (...) Uma coisa é pegar a ponta do caso. (...) Existe uma lei específica, chamada Maria da Penha, calcada na história de uma mulher bastante obtusa, em que a violência simbólica é um vício só concernente a homens. É claro que existem homens abusadores como havia no século XII, e como haverá nos séculos vindouros. Mas vai haver sempre mulheres com caráter tíbio. O problema é quando você privilegia uma pequena casta de mulheres, que tem o caráter tíbio, que podem usar da justiça para tipificar homens”, continuou. “O feminismo contemporâneo é o resultado da mulher que não sabe escolher um homem, daí nasce a cultura do ódio e do ressentimento, a feminista aponta pra todos os homens por causa do dedo torto dela, é uma questão de psique, de vingança histórica, social e más escolhas de mulheres alimentadas por esse sentimento, de vingança estrutural, de algumas mulheres, contra toda a população masculina”, completou.
A Lei Maria da Penha
A Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/2006) é uma das principais legislações brasileiras de combate à violência doméstica e familiar contra a mulher, e estabelece medidas protetivas, como o afastamento do agressor e proteção policial, além de criar juizados especializados.
A medida foi criada após o Brasil ser condenado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos por omissão e negligência no caso de Maria da Penha Maia Fernandes, vítima de violência por parte do ex-marido.
Dados de violência contra mulheres
Com 203 milhões de habitantes no país, sendo aproximadamente 105 milhões de mulheres, os números da violência de gênero no Brasil revelam uma crise estrutural – ao ponto de ser necessário criar a Secretaria de Políticas para Mulheres e, depois, o Ministério das Mulheres, além de políticas de denúncia vinculadas a estas pastas.
Veja a sessão na Câmara Municipal de São Paulo: