Um grupo de homens foi abordado por policiais militares enquanto praticava sexo em público na Pedra do Arpoador, um dos pontos turísticos mais conhecidos da Zona Sul do Rio de Janeiro. A abordagem, gravada em vídeo e divulgada nas redes sociais, expôs uma prática que, segundo frequentadores do local, seria recorrente: a cobrança de propina por parte dos agentes para evitar conduções à delegacia.
As imagens mostram ao menos sete homens sendo surpreendidos por um policial armado e com lanterna. Um dos envolvidos está completamente nu; outros aparecem seminus ou vestidos com roupas de banho. Um dos rapazes chega a mostrar ao agente um comprovante de Pix, o que, segundo testemunhas, seria o pagamento exigido para que fossem liberados.
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A abordagem teria ocorrido por volta das 20h de um domingo no início de maio, durante um fim de semana movimentado por turistas, atraídos pelo show da cantora Lady Gaga em Copacabana.
“A gente estava se divertindo quando ele [o policial] chegou e pediu que nos reuníssemos. Depois, exigiu dinheiro para não sermos presos. Dei os R$ 50 que tinha, porque ser levado à delegacia seria pior”, contou um jovem de 26 anos, que preferiu não se identificar.
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Ao ser procurada, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro informou que vai analisar as imagens para identificar os envolvidos e verificar se houve irregularidades na conduta dos agentes. A corporação afirmou que não recebeu denúncia formal até o momento.
Abordagens semelhantes são “comuns”, dizem frequentadores
A denúncia reacendeu o debate sobre a atuação de policiais militares em áreas conhecidas por encontros sexuais ao ar livre no Rio. Relatos de outros frequentadores indicam que a extorsão de dinheiro por parte de PMs nesses contextos seria frequente há anos.
“O policial perguntou se eu tinha dinheiro. Dei o que tinha e ainda recebi uma advertência. Isso acontece direto, especialmente no Aterro do Flamengo”, contou um rapaz que frequenta os “points”.
Outro caso relatado envolve um casal que, segundo testemunha, foi levado até um caixa eletrônico por policiais para sacar dinheiro e evitar ser conduzido à delegacia.
A prática de atos sexuais em locais públicos é crime no Brasil, conforme o artigo 233 do Código Penal, que prevê pena de três meses a um ano de detenção ou multa. Já a exigência de propina por parte de agentes públicos se enquadra como corrupção passiva, com pena de dois a doze anos de reclusão, além de multa, segundo o artigo 317 do Código Penal.
Locais públicos são alvos frequentes de orgias e abordagens
A Pedra do Arpoador é um dos locais mais conhecidos entre os chamados “points de pegação” do Rio, ao lado do Aterro do Flamengo, do parque Garota de Ipanema e da Floresta da Tijuca. A prática de sexo ao ar livre — chamada de dogging quando envolve casais heterossexuais — atrai tanto moradores quanto turistas, e há blogs e fóruns virtuais que orientam sobre horários e medidas de segurança para evitar abordagens policiais ou assaltos.
No início do ano, outro “surubão” no Arpoador viralizou ao mostrar cerca de 30 homens envolvidos em cenas explícitas. O caso foi investigado pela Polícia Civil, mas a maioria dos participantes não pôde ser identificada por serem turistas estrangeiros ou de outros estados.
Debate entre liberdade sexual e abusos de autoridade
Embora a prática de sexo em espaço público seja crime, os vídeos recentes levantaram uma preocupação maior com a atuação arbitrária de policiais, que estariam utilizando a criminalização do ato para obter dinheiro de forma ilegal.
Grupos de direitos humanos e organizações LGBTQIA+ já alertaram anteriormente para abordagens violentas ou vexatórias em situações semelhantes. O caso do Arpoador reacende o debate sobre a necessidade de controle da atuação policial, denúncias formais de corrupção e políticas públicas que conciliem segurança com respeito aos direitos civis.
Com informações do UOL