Um levantamento exclusivo revela uma grave sequência de falhas em estações do Metrô e da ViaMobilidade na capital paulista. De acordo com documentos obtidos pelo Fantástico, da TV Globo, pelo menos 15 pessoas ficaram presas entre trens e portas de segurança nos últimos quatro anos. Os dados fazem parte de um alerta interno enviado pela ViaMobilidade ao Metrô de São Paulo.
O caso mais recente ocorreu em abril deste ano na Estação Campo Limpo, da Linha 5-Lilás. O estudante de Educação Física Lourivaldo Ferreira Nepomuceno, de 35 anos, foi arrastado por um trem após ficar preso entre a composição e a porta de plataforma. Ele não resistiu aos ferimentos. Pai de três filhos, Lourivaldo se tornou símbolo de um problema que, segundo especialistas, poderia ter sido evitado com tecnologia já disponível.
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Problema recorrente
Outros acidentes semelhantes foram registrados em diferentes linhas. Em setembro de 2024, um idoso de 69 anos morreu após cair nos trilhos na estação Palmeiras-Barra Funda, da Linha 3-Vermelha. Já em março deste ano, uma mulher ficou presa em uma porta da estação Vila Prudente, na Linha 4-Verde, mas foi resgatada sem ferimentos.
Esses episódios reforçam a preocupação com a segurança nas plataformas das principais linhas metroferroviárias da cidade.
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Falta de sensores compromete segurança
Técnicos e engenheiros alertam para a ausência de sensores de presença nas portas de plataforma — um equipamento padrão em países como França, Inglaterra e Coreia do Sul. Esses sensores têm a função de identificar qualquer obstrução no fechamento das portas e impedir a movimentação do trem até que o obstáculo seja removido.
Na Linha 5-Lilás, o vão entre a composição e a porta de segurança é maior do que o padrão internacional, o que agrava o risco de acidentes. Imagens internas mostram inclusive funcionários da concessionária transitando por esse espaço, evidenciando o tamanho do problema.
Soluções travadas por entraves administrativos
Em outubro de 2024, a ViaMobilidade propôs ao Metrô de São Paulo a instalação de barras de borracha com sensores, capazes de detectar a presença de passageiros e evitar o fechamento das portas. No entanto, a proposta não avançou. Apenas dois meses depois, o próprio Metrô apresentou um projeto semelhante, com cronograma de implantação previsto apenas para o final de 2025.
Após a tragédia na Estação Campo Limpo, o presidente do Metrô, Júlio Castiglioni, afirmou que a estatal pretende antecipar as mudanças. Em entrevista ao Fantástico, ele reconheceu falhas na gestão e prometeu iniciar a instalação dos dispositivos nos próximos três meses. “Temos responsabilidade, sim. Estamos tristes, mas comprometidos em corrigir nossas falhas”, declarou.
Ministério Público investiga
O Ministério Público de São Paulo já instaurou um inquérito civil para apurar a segurança operacional da Linha 5-Lilás. Para especialistas, é fundamental investigar responsabilidades civis e criminais, para que as falhas não se repitam.
“Quando vidas estão em risco, não se pode esperar. É preciso apurar com rigor e agir com celeridade”, defende o engenheiro Luis Guilherme Kolle, presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos do Metrô.
Enquanto autoridades discutem cronogramas e propostas, usuários seguem expostos a riscos que poderiam ser evitados. O que está em jogo não é apenas a eficiência do transporte público, mas a vida de milhões de passageiros que dependem dele todos os dias.