RESISTÊNCIA E FORÇA

Ela ainda está aqui: 100 anos de Elizabeth Teixeira, a mulher marcada para viver

Para celebrar seu centenário, diversas homenagens estão programadas, incluindo o Festival da Memória Camponesa, que acontece em Sapé (PB) entre 13 e 15 de fevereiro

Ela ainda está aqui: 100 anos de Elizabeth Teixeira, a mulher marcada para viver.Elizabeth Teixeira e seus filhos no documentário "Cabra Marcado para Morrer"Créditos: Reprodução
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Aos 100 anos, Elizabeth Teixeira segue como um símbolo de resistência e luta pela reforma agrária no Brasil. A histórica líder camponesa paraibana comemora seu centenário neste 13 de fevereiro de 2025, consolidando sua trajetória como uma das vozes mais emblemáticas da defesa dos trabalhadores rurais no país.

Nascida em Sapé, Paraíba, em 1925, Elizabeth cresceu em meio às desigualdades do campo. Filha de proprietários de terra, rompeu com o destino previsto para ela ao se apaixonar e casar-se com João Pedro Teixeira, um trabalhador rural negro e sem posses. Juntos, tornaram-se lideranças fundamentais das Ligas Camponesas, movimento que reivindicava a reforma agrária e melhores condições para os trabalhadores do campo.

O assassinato de João Pedro em 1962 foi um golpe brutal, mas não quebrou a determinação de Elizabeth. Pelo contrário, ela assumiu a liderança da Liga Camponesa de Sapé e passou a mobilizar mais mulheres para a luta, um feito significativo em uma época em que o protagonismo feminino era raro, incentivando a participação feminina e enfrentando a repressão do regime militar.

“No tempo de João Pedro só companheiros frequentavam as reuniões. Mas a partir da minha pessoa as mulheres começaram a estar presentes lá. Era movimento, meu filho. As mulheres também, companheiras do campo, se colocando à disposição da nossa luta. Nunca sofri preconceito nenhum por ser mulher. Pelo contrário, surgiram outras mulheres para ajudar e lutar também”, declarou Elizabeth em entrevista à Revista do Nordeste, em 2015.

Com a instauração da ditadura militar em 1964, sua caminhada tornou-se ainda mais perigosa. Elizabeth foi perseguida e precisou viver sob identidade falsa por 17 anos para proteger sua família. Com a redemocratização, ela retomou seu nome e se tornou uma voz ativa na defesa da reforma agrária. Perdeu dois filhos assassinados e viu uma filha tirar a própria vida ao presenciar sua prisão. O documentário Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, iniciado nos anos 1960 e concluído em 1984, resgatou sua história e revelou ao país sua luta pela terra e pelos direitos dos trabalhadores rurais.

Ao longo das décadas, Elizabeth participou de debates, palestras e iniciativas em prol dos direitos camponeses e das mulheres. Apesar das perdas e dificuldades, nunca abandonou sua convicção de que a luta pela terra é essencial para a justiça social no Brasil. Mesmo em idade avançada, seguiu defendendo os ideais que a levaram a abdicar de uma vida confortável para estar ao lado dos oprimidos.

Em 2017, aos 92 anos, encontrou-se com o ex-presidente Lula durante a passagem da Caravana Lula pelo Brasil, em João Pessoa. Apesar da idade avançada, seguia cheia de vitalidade e reafirmou seu compromisso com a luta que a fez abrir mão de uma vida tranquila na juventude para estar ao lado do povo oprimido. Com firmeza, declarou: “Enquanto a fome e a miséria atingirem a classe trabalhadora, a luta deve continuar – seja entre camponeses, operários, mulheres, estudantes ou qualquer pessoa oprimida e explorada.”

Hoje, aos 100 anos, segue desafiando os limites do tempo. Vive em João Pessoa, ao lado de sua filha Anatilde Teixeira, enfrentando as limitações da idade, mas sem abandonar seu espírito de luta. Sua história continua a inspirar novas gerações de trabalhadores rurais e ativistas sociais que seguem sua bandeira pela reforma agrária.

Cartaz do Festival que homenageia Elizabeth Teixeira

Homenagens e Celebrações

Para celebrar seu centenário, diversas homenagens estão programadas, incluindo o Festival da Memória Camponesa, que acontece em Sapé entre 13 e 15 de fevereiro. A programação inclui a exposição "100 Faces de uma Mulher Marcada para Viver", a Marcha da Memória Camponesa e apresentações culturais. Também será lançada uma reedição de livros sobre sua vida e luta, além de um cordel e uma plataforma digital dedicada ao Memorial das Ligas Camponesas.

Elizabeth Teixeira não apenas sobreviveu às adversidades; ela se tornou um símbolo imortal da luta pela terra e pela dignidade dos trabalhadores rurais. Sua história reafirma que, mesmo diante da opressão, a resistência é capaz de atravessar gerações e transformar a realidade.

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