A vereadora Liana Cirne (PT-PE), de Recife, participou do Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (13) para comentar sobre o julgamento do caso Marcelo Arruda, tesoureiro do PT morto a tiros pelo ex-policial penal bolsonarista Jorge Guaranho em 2022, em sua festa de aniversário, devido ao tema ser o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O crime aconteceu em Foz do Iguaçu (PR).
O julgamento de Guaranho por júri popular foi finalizado nesta quinta-feira (13), com a condenação do bolsonarista a 20 anos de prisão. Guaranho foi condenado por homicídio duplamente qualificado. A vereadora Liana, porém, defendeu que além do crime de homicídio, o assassinato de Marcelo Arruda foi também uma ação terrorista. Na época, Liana chegou a protocolar uma representação criminal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF) por crime de incitação ao terrorismo.
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Além disso, a vereadora também fez o mesmo requerimento ao Ministério Público contra Guaranho, pedindo para que o crime fosse julgamento também como terrorismo. A ação, porém, não foi acolhida pelo MP e Garanho está sendo julgado somente por homicídio com agravantes como motivo torpe. "Entendeu-se que a nossa legislação não abarca o motivo político como causa de terrorismo e eu tenho séria divergência em relação a isso", afirma Liana.
"É importante lembrarmos que naquele contexto estava acontecendo uma série de ações que eu considero de terror, como por exemplo soltar bombas por meio de drones em manifestações pró-Lula. Situações que eu chamo de terror porque nos davam medo. As pessoas ficavam com medo", diz. "Muita gente ficou com medo de colocar adesivo no carro e sofrer algum tipo de agressão ou vandalismo contra seu patrimônio ou agressão contra si próprio."
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A vereadora acrescenta que o crime de Guaranho se caracteriza como terrorismo uma vez que o bolsonarista não conhecia Arruda e tinha o objetivo de causar pânico social. "O terror é uma violência dirigida de modo generalizado, que não tem uma vítima especial e que tem como objetivo causar pânico social, que foi o que aconteceu quando o Marcelo Arruda foi assassinado. Aquilo foi motivo de pânico", pontua Liana.
"Se o tema da festa fosse qualquer outro, ele não teria invadido a festa. Então, eu continuo defendendo que se tratou de uma ação de terrorismo, mas não foi o entendimento do Ministério Público", completa. Liana também defendeu que Guaranho pegasse pena máxima, de 30 anos.
Condenação dos financiadores do 8 de Janeiro
Liana ainda relembra os atos golpistas de 8 de Janeiro e a tentativa de parlamentares bolsonaristas de aprovar a anistia não só aos envolvidos nos ataques às sedes dos Três Poderes, mas principalmente ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A vereadora reforça que "não houve nada de banal na tentativa de golpe" e defende que é preciso avançar também na punição aos financiadores e incitadores.
"Nós precisamos avançar para a punição dos financiadores, incitadores e apoiadores [do golpe] que estiveram na alta cadeia de comando do golpe, nós precisamos avançar para isso. O golpe não foi uma ação de vândalos querendo sujar o Congresso, de idosos de pouca periculosidade. Foi uma tentativa de golpe efetivamente", afirma Liana.
"Nós tivemos acesso ao inquérito e nós vimos que as consequências não foram mais graves porque o comando do Exército e o comando da Aeronáutica não endossaram a tentativa de golpe, mas que havia sim um comando e que era do próprio Jair Messias Bolsonaro. Ele estava à frente da tentativa de golpe. Então, houve uma tentativa de golpe sem qualquer dúvida", diz a vereadora.
Os desafios para as eleições de 2026
A vereadora também comentou sobre as expectativas e a conjuntura política para as eleições presidenciais de 2026 e declarou que, para o presidente Lula (PT), a eleição do próximo ano deve ser ainda mais difícil que a de 2022.
"Nós estamos enfrentando uma guerra de desinformação. Nós estamos passando por um momento em que o governo tem altos índices de conquistas - a menor taxa de inflação na série histórica desde 1994, queda do dólar, uma série de indicadores positivos - e ao mesmo tempo nós temos uma avaliação do governo Lula que é a mais baixa como avaliação positiva, e isso é algo que a gente tem uma grande dificuldade de entender", diz.
Liana também acrescenta que a extrema direita tem projetos a longo prazo, o que falta para a esquerda. Um exemplo disso é o nome do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) para a presidência nos próximos anos. Apesar de não ter idade suficiente para concorrer em 2026, o deputado vem fortalecendo uma campanha para ser um nome forte da extrema direita para 2034.
"Nikolas é pré-candidato a presidente da República, não em 2026, mas talvez em 2034. É um forte nome da extrema direita. A extrema direita tem projetos de longo prazo, e eu acho que é isso que a gente deveria estar se preocupando. A extrema direita tem nomes", afirma a vereadora.
Liana destaca que apesar de ser de extrema direita, Nikolas tem a vantagem de conseguir apoio da centro-direita. "Ele é radical, mas eu tenho a impressão de que o Nikolas dialoga com o centro para além de dialogar com a centro direita, com a direita e com a extrema direita. Como a gente observa o Nikolas a partir sempre do nosso viés, a gente olha para ele como sendo extrema direita, mas eu não acredito que os seguidores do Nikolas olhem para ele como extrema direita, mas como centro direita", explica.
A vereadora pontua que a preocupação da esquerda deve ser, para além da reeleição de Lula em 2026, a construção de nomes fortes do campo progressista para o futuro. Liana reconhece que a preocupação com as eleições do próximo ano são tão intensas que não há oportunidade para pensar adiante. "Mas a gente tinha que, ao mesmo tempo em que a gente está preocupado com o presente, com a reeleição de Lula, a gente tinha que estar preocupado com o futuro, com a formação de quadros, porque a direita tem quadros", afirma.
Confira a entrevista completa da vereadora Liane Cirne ao Fórum Onze e Meia abaixo:
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