O ex-policial penal Jorge José Guaranho será submetido a júri popular no dia 11 de fevereiro, em Curitiba, pelo assassinato do guarda municipal e tesoureiro do PT de Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda. O crime que chocou o país e ganhou repercussão internacional ocorreu em 9 de julho de 2022, durante a festa de aniversário de 50 anos da vítima, que tinha como tema o Partido dos Trabalhadores e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Guaranho, que não conhecia Arruda, invadiu o evento exaltando Jair Bolsonaro e abriu fogo contra o aniversariante.
O julgamento deveria ter ocorrido em Foz do Iguaçu, mas foi transferido para a capital paranaense após um pedido da defesa do réu. Além disso, já foi adiado três vezes. Em abril do ano passado, os advogados de Guaranho abandonaram o plenário em protesto contra decisões judiciais desfavoráveis. Em seguida, a defesa solicitou a mudança de foro, pleito aceito pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR), levando à nova remarcação.
O júri será presidido pela juíza Mychelle Pacheco Cintra Stadler, da 1ª Vara Privativa do Tribunal do Júri de Curitiba. A acusação será conduzida pelas promotoras Roberta Franco Massa e Ticiane Louise Santana Pereira, com assistência de advogados da família de Arruda. A expectativa é de que o julgamento dure mais de um dia.
Motivação política
A denúncia do Ministério Público do Paraná (MP-PR) aponta que o homicídio teve motivação política. Análises periciais apontam que Guaranho, ao invadir o salão de festas, gritou frases como "petista vai morrer tudo [sic]" e ofendeu os presentes com insultos ao PT e elogios a Bolsonaro.
Além disso, a acusação argumenta que o réu atirou contra Arruda quando este já estava caído e colocou em risco outros convidados, configurando homicídio duplamente qualificado — por motivo fútil e perigo comum. A expectativa da família e da acusação é de que a pena máxima seja aplicada e que a motivação política do crime seja reconhecida como agravante.
Para Pamela Silva, viúva de Arruda, o novo adiamento prolonga o sofrimento dos familiares. “É a quarta vez que o júri é marcado e temos fé de que finalmente o autor do assassinato do Marcelo vai ser julgado e condenado. O assassino está em casa, em prisão domiciliar. E nós estamos enfrentando toda essa dor”, afirmou.
O caso gerou repercussão internacional e acendeu debates sobre a escalada da violência política no Brasil. Como resposta, a data do assassinato, 9 de julho, foi oficializada como Dia de Luta contra a Intolerância Política no Paraná e no Distrito Federal.
“O ódio político é uma conduta que não está tipificada na legislação penal brasileira, mas é primordial que seja reconhecida a motivação política do réu nesse caso emblemático, em que uma família foi destruída por um assassinato a sangue frio, claramente impulsionado pela intolerância política", diz Daniel Godoy Júnior, advogado da família de Marcelo Arruda.
"O júri do caso Marcelo Arruda tem grande relevância para toda a sociedade brasileira e deve ser um marco para o país. Ninguém pode ser alvo de violência em função de credo, origem ou posição política. Isso precisa acabar", prossegue o defensor.
O crime e a prisão domiciliar
Na noite do crime, Guaranho estava em uma confraternização nas proximidades do salão onde ocorria a festa de Arruda. Por meio de um amigo que acessou câmeras de segurança, ele soube da temática petista do evento e decidiu ir ao local. Acompanhado da esposa e do filho bebê, fez ameaças e disse que voltaria para matar os presentes. Minutos depois, retornou sozinho e abriu fogo contra Arruda, que ainda tentou reagir, mas não resistiu aos ferimentos
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Guaranho, que era agente da Penitenciária Federal de Catanduvas, foi exonerado do cargo em março de 2023 por determinação do então ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. No entanto, ele permanece em prisão domiciliar, após obter um habeas corpus concedido pela Primeira Câmara Criminal do TJ-PR em setembro do ano passado.
Agora, a família de Arruda aguarda que o julgamento finalmente aconteça e traga uma resposta definitiva. “Que finalmente seja feita justiça”, desabafa Pamela.