EXTREMISTA

Desembargador diz que bolsonarista que matou petista em 2022 é que foi vítima

Caso de Marcelo Arruda, GCM que comemorava aniversário no PR e foi assassinado por policial penal na festa, foi todo filmado. Mas para o magistrado do TJPR foi o contrário

Créditos: Reprodução
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O assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda, ocorrido em Foz do Iguaçu (PR), em julho de 2022, tornou-se um símbolo da violência política do bolsonarismo e repercutiu em todo o Brasil. Meses antes da eleição presidencial, Arruda, que era filiado ao PT, fazia sua festa de aniversário de 50 anos num clube da cidade paranaense e usava o presidente Lula como tema.

Foi então que o policial penal Jorge Guaranho, um fanático bolsonarista, apareceu inconformado com a temática da comemoração e matou Arruda com vários tiros. Armada por ser GCM, a vítima ainda sacou sua pistola e conseguiu reagir atingindo o extremista com alguns tiros, embora ele tenha sobrevivido. Tudo foi filmado, desde o início, desde a área externa do salão de festas até o desfecho trágico do lado de dentro do recinto, não deixando qualquer dúvida sobre o que aconteceu.

Agora, mais de dois anos depois e de um imbróglio em torno do julgamento do assassino, que deverá ser submetido a um júri popular em fevereiro do ano que vem, um desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná saiu com uma versão surreal e absolutamente divorciada da realidade do caso, comprovada pelas imagens de câmeras de segurança e por testemunhas, inclusive da parte da própria esposa de Guaranho.

Benjamim Acácio de Moura e Costa, do TJPR, disse numa audiência sobre o crime que a verdadeira vítima foi o policial penal bolsonarista, o mesmo que invadiu a festa, insultou e disparou mortalmente contra Arruda. O absurdo foi proferido numa sessão ocorrida em julho deste ano, que deveria ater-se apenas ao julgamento de um pedido de habeas corpus, mas que acabou tornando-se alvo de uma denúncia no Conselho Nacional de Justiça, uma vez que a posição externada pelo magistrado não mantém qualquer conexão com a realidade dos fatos observados no crime e ele extrapolou sua função naquela situação, na qual deveria apenas deferir ou indeferir a liberdade do réu.

Numa extensa fala de quase 20 minutos, o desembargador afirma o tempo todo que Arruda é que seria a pessoa de natureza violenta, diz que o assassino bolsonarista que invadiu a festa armado e atirou contra o aniversariante após provocá-lo seria então a vítima, e que em sua visão o correto seria o trancamento da ação penal e a alegação de legítima defesa por parte de Guaranho, algo completamente sem sentido diante do ocorrido.

Moura e Costa ainda afirma que o policial penal, que teria ficado com sequelas por conta dos tiros que levou, seria hoje um “boca mole” (alguém com problemas neurológicos e com dificuldades motoras), e que o bolsonarista até perdeu “sua virilidade” em decorrência das lesões sofridas pelos disparos do GCM que apenas reagiu ao ataque covarde do extremista.

“Era para o desembargador julgar somente o habeas corpus solicitado pelos advogados do Guaranhos porém ele abriu o vídeo dos fatos e fez sua própria narrativa... Diante do que foi proferido pelo desembargador numa ação de um pedido de habeas corpus para o autor da morte do Marcelo Arruda, nós da família ficamos extremamente consternados com as palavras do magistrado, uma vez que ele confirma que o Marcelo é responsável pela própria morte. Um absurdo! A medida tomada pelo desrespeito à vítima e à família que tivemos o Marcelo tirado de nós por uma pessoa inconsequente e extremamente violenta... A verbalização das convicções do magistrado não se baseou nas ricas provas materiais que estão na ação penal, desconsiderando o trabalho de diversos profissionais... Além disso, ele ultrapassa os limites jurídicos uma vez que ação penal deverá ser julgada pelo povo numa tribuna popular, está marcada para 10 e 11 de fevereiro de 2025”, disse à Fórum a viúva de Marcelo Arruda, Pâmela Suellen Silva.

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