Jijoca de Jericoacoara, vila com pouco mais de 20 mil habitantes localizada a 300 km de Fortaleza, a capital do estado do Ceará, é considerada um paraíso turístico por suas praias e belezas naturais desde 1970, apesar de ter se popularizado mais recentemente.
Em 2024, um consórcio promovido pelo governo do Ceará garantiu um investimento de R$ 61 milhões em projetos de infraestrutura de apoio à visitação do local, como informa o Ministério do Turismo; e um projeto do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prevê investimentos de mais de um bilhão de reais no Parque Nacional de Jeri ao longo dos próximos 30 anos.
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De acordo com um estudo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), no entanto, a água disponível para consumo em Jericoacoara tem um nível até 11 vezes superior ao considerado seguro de nitrato, uma substância tóxica se ingerida em grandes quantidades.
O estudo, conforme noticia o Diário do Nordeste, foi publicado no Journal of South American Earth Sciences, e levou em consideração 13 meses de observação (entre 2022 e 2023) de água obtida através de poços particulares e abastecimento público, de responsabilidade da Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece).
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Após análises que levaram em conta também o fluxo subterrâneo do lençol freático da região, o estudo concluiu que as reservas de água subterrâneas estão sendo poluídas por alta concentração de nitratos, que se formam a partir de "compostos nitrogenados originários de efluentes da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE)", nota o veículo, que é operada pela Cagece.
Esses efluentes são capazes de penetrar pelo lençol freático e contaminar o fluxo de água, que, no processo de tratamento, não elimina completamente (ou a níveis seguros) os nitratos.
A água é considerada "imprópria para beber", afirma o pesquisador principal do estudo “Poluição de águas subterrâneas por nitrato: Avaliação de um risco invisível em um paraíso costeiro do nordeste brasileiro”, Edmo Montes Rodrigues, já que a concentração considerada segura é de 10 mg/L de nitrato, e a quantidade encontrada na vila foi de até 11 vezes esse número.
Algumas das consequências da ingestão de nitrato em quantidades elevadas são intoxicação (que provoca dores de cabeça, cólicas abdominais e vômito), além da oxidação da proteína do sangue, a hemoglobina, que desempenha papel essencial na captação e transporte de oxigênio entre os tecidos.
Os efluentes responsáveis por contaminar a água da região passam pela área da Estação de Tratamento e chegam ao Parque, contaminando inclusive a água que sai das torneiras. Para fazer a remoção segura do nitrato, é preciso instalar um sistema específico de tratamento, que é de alto custo e teria um peso elevado para o consumidor final.
De acordo com a Cagece, há um investimento em curso de até R$ 51 milhões para "a otimização das redes de água e esgoto" de Jericoacoara, bem como a construção de uma nova Estação de Tratamento que funciona com "osmose reversa", técnica para a separação de solutos e partículas da água. A empresa disse, ainda, que providências imediatas são tomadas caso seja detectada alguma variação na qualidade da água distribuída.