A Justiça de São Paulo negou o pedido de prisão preventiva do policial militar que matou o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, com um tiro à queima-roupa durante abordagem em um hotel na Vila Mariana. O caso aconteceu em novembro do ano passado.
Na decisão, expedida nesta segunda-feira (13), a juíza Luciana Menezes Scorza defendeu que a prisão preventiva não é cabível no caso. Ela argumentou que o PM é réu primário, possui residência fixa e não tentou interferir nas investigações. Além disso, afirmou que “os elementos constantes dos autos não evidenciam periculosidade social do denunciado nem risco por seu atual estado de liberdade.”
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O PM, identificado como Guilherme Augusto Machado, atirou contra o peito de Marco Aurélio após uma confusão com o jovem, que teria dado um tapa no retrovisor da viatura. Já dentro do hotel, os policiais tentaram imobilizar o estudante, quando Guilherme proferiu os disparos. Os policiais afirmaram legítima defesa no boletim de ocorrência.
Guilherme foi indiciado por homicídio doloso em inquérito aberto pela Polícia Militar e afastado das atividades. O agente Bruno Carvalho do Prado, que o acompanhou na abordagem, também foi denunciado.
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O delegado Gabriel Tadeu Brienza, da Polícia Civil, ressaltou em relatório que, apesar do estudante ter reagido à abordagem, o PM “assumiu o risco do resultado morte, porque usou ilegitimamente a arma de fogo para repelir uma suposta ameaça”.
O recado indignado da mãe de estudante de medicina a Tarcísio
Silvia Mônica Cardenas, mãe de Marco Aurélio, em entrevista logo após o assassinato de seu filho, cobrou explicações do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Ao jornal "Tá na Hora", do SBT, Silvia criticou a abordagem violenta da polícia de São Paulo, que classificou como um "fracasso", e cobrou que Tarcísio peça desculpa pela morte de seu filho.
“Isso é o fracasso do governador de São Paulo, que permite que a polícia mate seus cidadãos, cidadãos decentes. Me coloco no lugar de todos. Mesmo que o menino fosse um ladrão, o que não era, não era para a polícia atirar desse jeito. É um fracasso total, senhor governador. Tenha decência, dignidade, seja homem para me pedir desculpas porque a dor que eu sinto vai ser até o dia da minha morte”, declarou.
Quem era Marco Aurélio
Marco Aurélio era o caçula de uma família de médicos peruanos que encontrou no Brasil seu novo lar há mais de duas décadas. A precocidade sempre o acompanhou: nascido prematuramente, demonstrou desde cedo uma inteligência aguçada, concluindo o ensino médio com apenas 15 anos. Segundo sua mãe, a intensivista Silvia Mônica, o jovem era um orgulho para a família.
Marco Aurélio seguiu os passos dos pais e do irmão, dedicando-se à medicina. "Ele era um bom irmão, um bom filho, uma pessoa muito querida", descreveu Frank Cardenas. A família conta que, mesmo tendo sido aprovado em Direito, o jovem optou pela carreira médica. "Era meu filho mais amado, nasceu com 1,3 kg, quando eu já estava velha".
"Dois homens de 1,80 metro não conseguiram conter meu irmão de 1,60 metro? Ele nunca lutou. Não tinham alternativas?", disse ainda o irmão de Aurélio.
Atleta do time de futebol do curso de medicina, Marco Aurélio era bastante querido por seus colegas. A Associação Atlética Acadêmica Medicina Anhembi Morumbi, da faculdade, publicou uma mensagem de pesar em suas redes sociais. "Neste momento de imensa dor, nos solidarizamos com seus familiares, companheiros de time e colegas, que perderam não apenas um companheiro de jornada, mas também um amigo. Que sua memória seja sempre lembrada com carinho e que sua trajetória inspire todos nós”, escreveu a instituição.