Após anunciar o fechamento, por tempo indeterminado, do Arquivo Público do Rio de Janeiro, que guarda documentos históricos do estado, dentre eles sobre a ditadura militar, o ex-diretor Victor Travancas afirmou que os documentos sobre a prisão, tortura e assassinato do deputado Rubens Paiva durante período estão "esfarelando na mão".
Nesta segunda-feira (6), Travancas, enquanto diretor do Arquivo Público, revelou que o prédio enfrenta condições precárias, com risco de incêndio e desabamento, e por isso seria fechado, sem previsão de retorno das atividades. Porém, após a denúncia, o diretor, que assumiu o cargo em dezembro, foi exonerado pelo governador Cláudio Castro (PL), que negou que o prédio estivesse com danos estruturais.
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“É preciso que as pessoas coloquem a mão na consciência que nós estamos de frente para um [novo acidente como] o Museu Nacional. Estamos esperando acontecer o pior. Ali é só papel, não tem como salvar”, afirmou Travancas à Folha de S. Paulo. O ex-diretor também havia informado, em nota na segunda-feira, que o prédio não possuía alvará do Corpo de Bombeiros.
“Para garantir a segurança de todos, a interdição do prédio é uma medida necessária e urgente. Estamos trabalhando para viabilizar as obras de reforma indispensáveis para que o Arquivo Público possa, o mais breve possível, retomar sua missão de preservação e promover a memória do Estado do Rio de Janeiro", disse Travancas no documento.
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O governo do Rio, porém, nega as acusações e exigiu a retomada das atividades no prédio. A Secretaria da Casa Civil disse que a decisão de fechar as portas foi “unilateral”, “sem consulta ao governo e sem aval dos órgãos competentes”. O órgão ainda afirmou que o prédio possui o Laudo de Exigências e Certificado de Aprovação válidos e que as estruturas foram vistoriadas pelo Corpo de Bombeiros no dia 30 de dezembro.
Arquivo Público do Rio
Criado em 1931, o Arquivo Público do Rio de Janeiro tem mais de 4 mil metros lineares de documentos sobre a história do estado fluminense e sobre o país. Dados sobre o departamento de Informações políticas do Estado Novo, do período ditatorial do governo de Getúlio Vargas, sobre a Delegacia de Ordem Política e Social (Dops), que revelam crimes da ditadura militar e documentos que colaboraram para a Comissão da Verdade se encontram no local. Entre os registros, estão textos, cartografias, fotografias, filmes e outros.
Uma das documentações guardadas pelo Arquivo Público se refere à prisão do deputado federal Rubens Paiva, contada no filme sucesso de bilheteria "Ainda Estou Aqui" pela ditadura militar. Paiva foi preso, torturado e morto em 1971 por militares. Até hoje, ninguém foi responsabilizado por sua morte, nem seu corpo encontrado. Arquivos como os que estão armazenados no local ajudam a elucidar e buscar por justiça não só para o deputado, mas para outros presos políticos durante o período.