RUBENS PAIVA

'Ainda Estou Aqui': Rubens Paiva fez discurso histórico no dia do golpe militar; ouça

Deputado falou ao vivo na Rádio Nacional, na madrugada no dia 1° de abril, para convocar a sociedade a resistir ao golpe

Rubens Paiva, ex-deputado morto por militares em 1971.Créditos: Secretaro de Estado da Cultura - SP
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Durante a madrugada do início do golpe militar, no dia 1° de abril de 1964, o deputado Rubens Paiva, retratado no filme "Ainda Estou Aqui", fez um discurso histórico ao vivo na Rádio Nacional para convocar a sociedade brasileira a resistir ao golpe por meio de uma greve geral no país. 

Rubens Paiva era deputado federal por São Paulo e um dos principais apoiadores do presidente João Goulart, que sofreu o golpe em 1964. Em 1967, Paiva teve seu mandato cassado e, em 1971, foi preso, torturado e morto pela ditadura militar por manter correspondência com exilados políticos brasileiros no Chile. 

Em seu pronunciamento, o deputado se dirigiu, principalmente, aos trabalhadores e estudantes de São Paulo. Ele pediu para que todos se unissem contra ao "governo fascista e golpista" que, naquele momento, instaurava uma ditadura militar no país.

"Desejo conclamar todos os trabalhadores de São Paulo, todos os trabalhadores portuários e metalúrgicos da Baixada Santista, de Santos, da capital e das cidades industriais de São Paulo em especial. Todos os universitários se unam em torno de seus órgãos representativos, obedecendo à palavra de ordem do Comando Geral dos Trabalhadores, do Fórum Sindical de Debate, dos sindicatos, da União Nacional dos Estudantes, das uniões estaduais e dos grêmios estudantis, para que todos em greve geral deem a sua solidariedade integral à legalidade que ora representa o presidente João Goulart", diz o deputado em seu discurso.

"O nosso presidente, ao tomar as medidas tão reclamadas por todo o nosso povo, medidas que nos conduzirão indiscutivelmente a nossa emancipação política e econômica definitiva, realmente prejudicou os interesses de uma pequena minoria de nossa terra, pequena minoria, entretanto, que detém um grande poder, todo o poder econômico deste país, todos os órgãos de divulgação, os grandes jornais e as estações de televisão. É indispensável, portanto, que todo o povo brasileiro, os trabalhadores e os estudantes de São Paulo, em especial, estejam atentos às palavras de ordem que emanarem aqui da Rádio Nacional e de todas as outras rádios que estejam integradas nesta cadeia da legalidade", acrescenta. 

O deputado ainda completa que o governo de João Goulart visava, tão somente, "dar ao povo brasileiro uma participação na riqueza desse país". "Esse momento nacional é o momento decisivo em que o povo brasileiro pode ter a felicidade de ver realizada toda sua revolução dentro do processo da legalidade democrática", proclamou o deputado.

O áudio completo, descoberto 50 anos depois, pode ser acessado por meio deste link da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC).

Ainda Estou Aqui

Sucesso de bilheteria, o filme que rendeu à Fernanda Torres um Globo de Ouro neste domingo (5) retrata a vida de Rubens Paiva pelo olhar da família, sua esposa Eunice Paiva e seus cinco filhos, após a prisão e o desaparecimento do deputado. 

Morto em 1971, somente em 2014, com a Comissão da Verdade, cinco militares foram acusados de terem assassinado o deputado. Ainda assim, nenhum deles chegou a ser julgado, e três já faleceram. Até hoje, o corpo de Rubens Paiva não foi encontrado. Segundo a versão dos militares, o corpo do deputado foi enterrado e desenterrado diversas vezes, até ser jogado no mar, no Rio de Janeiro.

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