ESPAÇO AÉREO

OVNIs, garimpo e narcotráfico: O que há de ilegal e desconhecido nos céus brasileiros

Nos últimos 5 anos a Fab interceptou mais de 4 mil aviões suspeitos de envolvimento com organizações criminosas; Arquivo Nacional revela 35 avistamentos de Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAPs) por pilotos comerciais

Avião da FAB sobrevoa o Rio de Janeiro.Créditos: Tomaz Silva / Agência Brasil
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Os céus brasileiros são um verdadeiro mistério. Amplo e quase infinito, o espaço aéreo nacional não é apenas povoado pelas populares lendas de objetos voadores não identificados (OVNIs), mas também por aeronaves ilegais oriundas do narcotráfico e do garimpo. Nesta quarta-feira (7) duas revelações oficiais nos ajudam a entender melhor o que ocorre, e também o que supostamente pode ocorrer, na imensidão azul postada sobre o nosso território.

Uma dessas revelações foi feita pela Folha, que obteve relatórios da Força Aérea Brasileira (FAB) por meio da Lei de Acesso à Informação e descobriu que a Aeronáutica interceptou 4020 aviões suspeitos de envolvimento com atividades ilegais entre janeiro de 2019 e julho de 2024. Nenhuma dessas aeronaves tinha autorização para voar no espaço aéreo brasileiro e os militares consideraram que poderiam ser ameaças à segurança pública.

Desses 4020 casos, os militares precisaram disparar em 90 deles para convencer os pilotos, já advertidos, de que deveriam pousar ou mudar a rota. Só em 2024 foram 207 aeronaves interceptadas. O ano de 2021 foi o que registrou a maioria dos casos: 1147. A FAB atribui a redução dos casos, desde então, a uma maior eficiência em ações terrestres e de inteligência.

“A Força Aérea Brasileira tem utilizado uma ampla gama de meios e informações provenientes de diversos órgãos de segurança pública e fiscalização para identificar e agir contra tráfegos aéreos desconhecidos de maneira preventiva. Ao focar em pontos estratégicos e utilizar esses dados, a FAB vem conseguindo reduzir a necessidade de interpelações”, disse a Força ao jornal supracitado.

As principais suspeitas para a existência desses voos ilegais é de que sirvam ao narcotráfico e ao garimpo. Ambas as atividades criminosas necessitam do uso de aeronaves.

No caso do narcotráfico, os aviões seriam utilizados para o transporte de drogas, armas e pessoas envolvidas nas organizações criminosas. No caso dos garimpeiros, que exercem suas atividades muitas vezes em áreas remotas, como nos confins da Terra Indígena Yanomami, em Roraima, os voos são de grande importância para o transporte de pessoas e mercadorias. Garimpos normalmente se instalam nessas áreas remotas como verdadeiras comunidades não oficiais, onde são abertas ruas e construídas casas, comércios, portos e pistas de pouso.

As abordagens aéreas a esses voos ilegais seguem protocolo estabelecido por decreto de Lula de 2004, durante seu primeiro mandato. O caça militar deve entrar em contato com o piloto suspeito via rádio e orientá-lo a pousar em determinada localidade. Uma vez em terra firme, prestaria esclarecimentos às autoridades.

Mas nem sempre os pilotos acatam ao chamado. Nesse caso, quando o aviso é ignorado, os militares são autorizados a fazer o chamado “disparo de aviso”. Com uso de “munição traçante”, não deve mirar na aeronave interceptada, mas efetuar os disparos em local onde seja possível que o piloto os observe. O objetivo é convencer a tripulação a atender ao aviso. Se não funcionar, a aeronave passa a ser considerada hostil e, em último caso, os militares podem até mesmo abatê-la.

"I want to believe"

Mas além dos aviões suspeitos de envolvimento com atividades criminosas, há também um grande mistério nos ares. Trata-se dos Fenômenos Anômalos Não Identificados (UAPs, na sigla em inglês), outrora conhecidos como Objetos Voadores Não Identificados (OVNIs). As histórias são conhecidas por sua suposta relação, jamais comprovada cientificamente, com a existência de vida inteligente extraterrestre.

Fato é que essas histórias povoam o imaginário folclórico não apenas dos brasileiros, mas de todo o planeta. E nesse contexto, o Arquivo Nacional divulgou 35 documentos inéditos que contêm relatos de avistamentos de UAPs por pilotos de aviação comercial. Todos os episódios ocorreram em 2023.

A divulgação dos dados fica por conta da Portaria 551/GC3, que obriga a FAB a enviar a cada ano tais informações sobre OVNIs e UAPs ao Arquivo Nacional.

Entre os casos destacados, um deles ocorreu em 29 de março de 2023 no Rio de Janeiro. O piloto do voo comercial, que declarou não participar de qualquer organização dedicada a catalogar UAPs, alega que viu um objeto em formato de charuto fazendo manobras em alta velocidade no espaço aéreo fluminense.

Reprodução

Meses antes, em 31 de janeiro, um outro piloto alega ter visto um objeto no formato de um paralelepípedo, com 10 metros de comprimento, voando a poucos metros de sua aeronave no espaço aéreo de Santa Catarina. Segundo o piloto, o objeto formava “uma trilha de condensação” por onde passava. Ainda, em 21 de abril, outro piloto alega ter avistado múltiplos objetos luminosos no espaço aéreo amazônico, que teriam aparecido e desaparecido “do nada”.

Como dito, não há comprovação científica acerca da veracidade desses relatos ou da origem dos fenômenos relatados. O que há de concreto são os documentos organizados pela FAB e enviados ao Arquivo Nacional. Para ter acesso aos 35 documentos, clique aqui.