INTOLERÂNCIA RELIGIOSA

“Eu orei e a macumbeira morreu.” Vídeo causa revolta nas redes sociais

O vídeo choca tanto pelo relato em si, que é de um absurdo tão grande e choca mais ainda pelos “améns” e “glórias” que são possíveis ser ouvidos durante a escalada de horrores dita pela mulher

"eu orei e a macumbeira morreu".Créditos: reprodução / "X" @pastor_esquerda
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Um vídeo tem causado revolta nas redes sociais. Uma mulher, identificada apenas como “irmã Margarida” dá um testemunho em uma igreja, sobre uma “benção” que ela alcançou. Segundo a senhora, ela orou para Deus proteger o filho dela de uma “macumbeira” com quem ele se relacionava e a moça faleceu. Não há detalhes, mas é possível ouvir a igreja celebrando a morte de uma pessoa como se isso fosse uma obra divina. Não se sabe a data, nem mesmo a igreja onde o vídeo foi gravado.

“A paz do senhor! Eu pedi no círculo de oração, foi lá em cima na sala da mocidade, encarecidamente pelo meu filho, ele não é crente e estava namorando com uma macumbeira... e eu vou deixar um versículo aqui... eu pedi pro pastor Jessé, dei o nome do meu filho e da macumbeira, com 28 anos, ele com 42 anos e também intercedi em casa, falei com o senhor Jesus, e com pranto. A macumbeira morreu. O senhor Jesus me dá visão, eu tenho o dom de visão nítido a olho nu. O senhor me mostrou a cara do diabo e a peste da macumbeira vestida numa blusa branca ao lado do meu filho. Ela pedia pro diabo o apartamento do meu filho, carro e dinheiro. O senhor fechou as portas pra ela. Ela roubou dois celulares do meu filho. E eu pedi com pranto, falei com o senhor Jesus com pranto em casa, porque apesar dele não ser crente é corda do coração. Está morta a macumbeira. Foi uma benção muito grande e o nome do senhor Jesus tem que ser glorificado”, disse a “irmã Margarida” em seu relato perverso e preconceituoso.

O vídeo choca tanto pelo relato em si, que é de um absurdo tão grande e choca mais ainda pelos “améns” e “glórias” que são possíveis ser ouvidos durante a escalada de horrores dita pela mulher num lugar que deveria celebrar a vida, o amor ao próximo e o respeito para com todas as pessoas, independente de credo, raça, orientação sexual ou o que mais fosse.

Intolerância Religiosa Cresce 80% em 2024, Segundo Dados do Disque 100

O número de casos de intolerância religiosa no Brasil apresentou um aumento preocupante de mais de 80% nos primeiros seis meses de 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado, de acordo com informações divulgadas pelo Disque 100.

De janeiro a junho deste ano, foram registrados 1.227 casos, resultando em uma média de quase sete denúncias por dia. Esse volume de ocorrências já se aproxima do total de registros do ano passado inteiro, que contabilizou 1.482 denúncias.

Entre as principais vítimas desses atos de intolerância estão mulheres e negros. Mais da metade das ocorrências em 2024 envolveu pessoas pretas e pardas, sendo que as religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, continuam sendo os principais alvos desses ataques. As ações discriminatórias vão desde a destruição de templos e impedimentos para a realização de cultos até agressões físicas e, em casos extremos, assassinatos.

Pastores na luta contra o racismo religioso

Para o pastor Zé Barbosa Junior, colunista da Fórum, e participante de vários movimentos evangélicos e inter-religiosos contra o racismo religioso e os preconceitos diversos, o caso da “irmã margarida” é sintomático e encaixa perfeitamente no alto número de denúncias de intolerância religiosa. “Um testemunho como esse, bizarro, violento e carregado de racismo, corroborado pela reação positiva da igreja, legitima toda espécie de violência contra o povo de terreiro e as religiões de matrizes africanas. A lógica é simples: se o deus a quem a pessoa serve é capaz de “matar” alguém simplesmente por sua crença, porque o ‘corpo de cristo’ (a igreja) não pode fazer o mesmo?” pergunta o pastor. “Neste caso, a ‘violência divina’ é o selo que legitima toda violência humana e feita em nome de deus. Um deus violento, cruel e vingativo terá uma igreja igualmente cruel, violenta e vingativa. Isso em nada se parece com o Cristo dos Evangelhos, que emana amor, afeto e acolhimento. Essas pessoas são más e buscam em deus a legitimação de suas maldades”, conclui Zé Barbosa.