Em uma manhã/tarde repleta de emoções, dezenas de pessoas entre acampados e convidados do Movimento dos trabalhadores rurais Sem-Terra (MST) participaram de um ato político contra a violência no campo e em defesa da reforma agrária no acampamento Canudos, em Riacho de Santo Antônio, na Paraíba nesta sexta-feira (26). O acampamento foi incendiado de forma criminosa no mês de junho e teve diversas casas e barracões queimados e totalmente destruídos com requintes de tortura e crueldade: muitos moradores foram amarrados e obrigados a assistirem seus pertences pegando fogo.
O acampamento é uma ocupação realizada pelo MST há 10 anos e abriga 56 famílias que reivindicam a desapropriação da fazenda Canudos com uma área de cerca de 3 mil hectares, e que se encontra abandonada, improdutiva, não cumprindo sua função social. O ato político de hoje exige suspensão de ação de reintegração de posse e vistoria da área pelo Incra.
Te podría interesar
Apesar de toda violência, o MST resistiu e o acampamento teve uma celebração de vida e esperança, com a reconstrução de alguns barracos, a presença de autoridades e militantes e muita alegria no ar. Durante o ato, muita música, festa e falas cheias de entusiasmo, tanto na denúncia dos criminosos e na cobrança de atitudes mais enérgicas por parte das autoridades em relação aos autores e mandantes do incêndio, quanto no esperançar diante da adversidade e das lutas diárias dos camponeses.
Em um dos momentos de maior emoção, crianças plantaram por entre as cinzas de uma das casas destruídas, uma muda de ouricuri, ou licuri, uma palmeira típica da caatinga, cujos frutos são comestíveis e de sua semente se pode extrair óleo vegetal. Fruto versátil, como é a gente desse lugar carregado de resistência e vontade de viver. A planta também lembra Antônio Conselheiro, o místico profeta que saiu da caatinga de Quixeramobin e percorreu todo o nordeste no ideal de uma sociedade igualitária até chegar no arraial de Canudos, que hoje dá o nome ao acampamento.
Te podría interesar
Dilei Aparecida Schiochet, historiadora e liderança do MST na Paraíba fez uma abertura comovente saudando todos os acampados e assentados presentes, ressaltando a força da unidade em meio a adversidade, destacando principalmente a força das mulheres na resistência aos latifundiários que tentaram, com toda essa barbárie, a desistência dos sonhos e projetos dos moradores da Canudos paraibana. Paulo Romário, também liderança dos sem-terra, fez um resumo dos últimos dias, relatando a crueldade da noite de 08 de junho, quando homens encapuzados invadiram o local, amarrando os camponeses e ateando fogo às casas.
Os vereadores Napoleão Maracajá (PT-PB) e Jô Oliveira (PcdoB-PB) de Campina Grande estiveram presentes no ato e fizeram falas de encorajamento e solidariedade, assim como a deputada estadual do PT, Cida Ramos. Em sua fala, Cida também enfatizou a necessidade de incentivar e cobrar do governo Lula uma Reforma Agrária imediata e eficaz. Cícero Legal, coordenador-geral do Ministério do Desenvolvimento Agrário a agricultura familiar na Paraíba, também esteve presente e falou dos diversos desafios do ministério e das conquistas já conseguidas pelo governo atual.
O pastor Zé Barbosa Jr, colunista da Fórum, também esteve presente e fez uso da palavra, recordando o sentido da profecia na Bíblia, que era de trazer esperança e anunciar um novo mundo possível. Em sua breve exposição, comparou o MST aos profetas bíblicos em seus sonhos e utopias e terminou convocando o povo presente a rezar o Pai-Nosso, lembrando que não pode existir o pai nosso sem que o pão seja nosso também. É uma oração de compromisso e justiça social.
O ato terminou com a partilha de 3 toneladas de alimentos, entre frutas e legumes produzidos pelo próprio MST no litoral da Paraíba, de forma orgânica e todos os presentes saíram com as mãos cheias e o coração repleto de esperança e alegria. Ainda há muito a ser apurado, os acusados ainda estão livres, mas as investigações estão caminhando e brevemente os responsáveis serão penalizados e, conforme a expectativa de todas as pessoas que participaram desse momento, a terra em breve será definitivamente entregue aos acampados.