O Papa Francisco abençoou a bandeira do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST) a pedido de João Pedro Stedile, líder do movimento, que participa do evento "Arena da Paz", com integrantes de movimentos populares de vários países.
A bênção foi concedida neste sábado (18), em Verona, na Itália, durante conferência que teve participação do pontífice e contou com um público de mais de 12 mil espectadores.
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O momento foi registrado em vídeo pelo portal Vatican News, o meio de comunicação oficial da Santa Sé. Stedile mostra a bandeira do MST ao papa, que coloca a mão sobre o objeto, e também fala sobre a situação do Rio Grande do Sul, que enfrenta a maior tragédia climática da sua história.
Stedile compartilhou o registro pelas redes sociais neste domingo (19).
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"Levei um abraço forte de todos os Sem Terra do Brasil ao Papa Francisco e li um verso escrito pelo nosso bispo Dom Pedro Casaldáliga: 'Malditas sejam todas as cercas. Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar'", escreveu
Luta por justiça e igualdade
A frase "Malditas sejam todas as cercas. Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar", de autoria de Dom Pedro Casaldáliga e citada por Stedile durante encontro com o papa, pode ser encontrada em suas obras que refletem seu pensamento sobre justiça social, direitos humanos e a luta contra a opressão dos povos indígenas e trabalhadores rurais.
Esta frase, em particular, expressa sua crítica à concentração de terras e à propriedade privada que, segundo ele, contribuem para a desigualdade e a injustiça social.
Casaldáliga escreveu extensivamente sobre esses temas em seus livros, poemas e discursos. Entre suas obras mais conhecidas estão "Eu Creio na Justiça e na Esperança", uma coletânea de escritos e reflexões; e "Clamor Elemental",um livro de poemas que aborda temas de justiça, espiritualidade e resistência.
MST e Dom Pedro Casaldáliga
Dom Pedro Casaldáliga teve uma relação estreita e solidária com o MST. Ele foi um defensor ardente da reforma agrária e dos direitos dos trabalhadores rurais, causas centrais do MST.
Casaldáliga sempre defendeu a reforma agrária como uma forma de corrigir a desigualdade fundiária no Brasil. Sua postura alinhava-se diretamente com os objetivos do MST, que luta pela redistribuição justa da terra.
Ele era conhecido por seu compromisso com os direitos humanos e por apoiar os trabalhadores rurais em suas lutas contra a opressão. Ele frequentemente denunciava as injustiças sofridas pelos sem-terra e os abusos cometidos contra eles.
Dom Pedro participou de várias manifestações e eventos promovidos pelo MST, demonstrando sua solidariedade com o movimento. Ele usava sua posição na Igreja para dar visibilidade às causas do MST e apoiar suas reivindicações.
Como um dos proeminentes teólogos da libertação, Casaldáliga influenciou o MST com seus ensinamentos sobre justiça social e a luta contra a opressão. Sua visão teológica inspirou muitos membros do MST a verem sua luta como uma forma de realizar a justiça divina na terra.
Casaldáliga frequentemente usava seus discursos e escritos para defender a causa do MST e criticar a concentração de terras no Brasil. Ele participou de atos públicos e manifestações organizadas pelo MST, mostrando apoio direto e encorajando a resistência pacífica.
O MST reconheceu a importância de Casaldáliga para o movimento, frequentemente homenageando-o e destacando sua contribuição para a luta pela terra. A influência de Casaldáliga permanece viva no movimento, que continua a lutar por justiça agrária inspirada por sua visão e liderança.
Quem foi Dom Pedro Casaldáliga
Dom Pedro Casaldáliga foi um bispo católico, poeta e ativista dos direitos humanos, conhecido por seu trabalho na defesa dos povos indígenas e dos pobres no Brasil. Nascido em 16 de fevereiro de 1928, em Balsareny, na Catalunha, Espanha, Casaldáliga se tornou uma figura influente na Teologia da Libertação, um movimento dentro da Igreja Católica que buscava alinhar os ensinamentos cristãos com questões de justiça social.
Casaldáliga chegou ao Brasil em 1968 e se estabeleceu na região do Araguaia, no estado de Mato Grosso. Lá, ele se tornou bispo da Prelazia de São Félix do Araguaia em 1971. Durante seu episcopado, ele focou em defender os direitos dos povos indígenas e dos trabalhadores rurais, frequentemente confrontando os interesses dos latifundiários e militares.
Ele foi um crítico feroz da ditadura militar brasileira (1964-1985) e um defensor incansável dos direitos humanos, denunciando abusos e lutando contra a concentração de terras e a exploração dos pobres.
Casaldáliga foi um dos proeminentes teólogos da libertação, um movimento que combina a teologia cristã com a luta por justiça social. Seus escritos e ações refletiam um compromisso profundo com os pobres e marginalizados.
Além de seu trabalho pastoral, Casaldáliga era um poeta prolífico. Seus poemas frequentemente abordavam temas de justiça social, espiritualidade e a realidade dos povos indígenas.
Dom Pedro Casaldáliga recebeu vários prêmios e homenagens por sua dedicação aos direitos humanos e sua obra literária. Ele foi amplamente respeitado tanto dentro quanto fora da Igreja Católica. Seu legado é sentido nas contínuas lutas por justiça social e direitos humanos no Brasil. Ele é lembrado como um exemplo de liderança moral e coragem.
Dom Pedro Casaldáliga morreu em 8 de agosto de 2020, mas sua vida e trabalho continuam a inspirar muitos na luta por um mundo mais justo e igualitário.