Um vídeo que viralizou nas redes sociais está gerando indignação e revolta em muitas pessoas. Na gravação, um pastor afirma categoricamente, durante uma pregação, que o autismo é uma “coisa do diabo”. O vídeo foi gravado num dos cultos de comemoração de 90 anos da Assembleia de Deus de Tucuruí, no estado do Pará, na noite da última sexta-feira (12), onde centenas de pessoas assistiam a celebração presencialmente, além da transmissão online para outros milhares de fiéis.
Durante sua pregação, o pastor carregado de ignorância e preconceito, disse: “De cada 100 criança que nasce (sic) nós temos um percentual gigantesco de pessoas e ventres manipulados, visitados pela escuridão que distorce, ainda no ventre, as crianças hoje, de cada 100 nós temos aí quase que 30% de autistas em vários graus. O que que está acontecendo pastor Washington? O diabo está visitando o ventre das desprotegidas, daqueles que não têm a graça, a habilidade, a instrumentalidade para saber lidar no mundo espiritual. E ele só procura os vulneráveis, os desassistidos”
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Encontrei o perfil do tal religioso com a fala criminosa do pregador na noite desta terça-feira (16). Trata-se do pastor Washington Almeida, que se intitula “pastor itinerante e guardião do altar”, de Araguaína (TO), que conta com quase 100 mil seguidores seu canal no youtube, onde posta suas pregações. Curiosamente a pregação do dia 12 de julho não está mais no ar.
É inadmissível que ainda haja quem defenda ideias como a do pastor Washington. O silêncio da plateia diante do absurdo é constrangedor. A fala, além de preconceituosa é criminosa, pois fere a Lei Nº 13.146/2015 que é a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
O artigo 5º assegura que “a pessoa com deficiência será protegida de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, tortura, crueldade, opressão e tratamento desumano ou degradante." No seu parágrafo único, diz que "para os fins da proteção mencionada no caput deste artigo, são considerados especialmente vulneráveis a criança, o adolescente, a mulher e o idoso, com deficiência.” E ainda prevê a punição para quem “praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência” (Art. 88) A pena é a "reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa."
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É sabido de muitos o quanto uma pregação desse tipo gera opressão e discriminação nas pessoas que sofrem o autismo e em seus familiares. Quem conhece bem o ambiente de igrejas com esse tipo de mensagem sabe a repercussão e os desdobramentos que isso causa no dia a dia da própria igreja e dos fiéis, com comentários e opressões que visam desmerecer as pessoas que passam pelos problemas da vida real, muitas vezes apresentados, de forma leviana e errônea pelos pastores como "investidas diabólicas".
Pastor publica pedido de “desculpas”
Após a imensa revolta que o vídeo de sua pregação causou, o pastor Washington gravou um pedido de desculpas no início da madrugada desta quarta-feira (17). Em seu instagram, publicou: “Venho neste vídeo me retratar, devido a grande repercussão negativa de uma infeliz colocação minha, em um trecho de uma mensagem por mim pregada. Minhas sinceras desculpas, esta não foi a minha intenção JAMAIS, de me referir desta forma negativa em relação aos autistas.” No vídeo, diz que a fala foi no “calor da mensagem” e que “o ser humano é fadado ao erro”. Interessante perceber que ele vem se retratar “devido a grande repercussão negativa” da fala. A pergunta que não quer calar é: e se não houvesse essa repercussão? Qual seria a atitude do pastor?
Se há verdade no ditado que diz “o que foi dito bêbado, foi pensado sóbrio”, não haveria também uma verdade em se dizer que “o que foi dito ‘no calor da mensagem’, foi pensado no frio do coração”? Aliás, como diz o próprio Jesus Cristo: “Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração.” (Mateus 12.34)