FRAUDE BILIONÁRIA

Fraude nas Americanas: ex-diretora chega ao Brasil após ter prisão revogada

Miguel Gutierrez, ex-CEO da companhia, foi preso na Espanha; ambos estavam incluídos na lista de difusão vermelha da Interpol

Ex-diretora do grupo Americanas, Anna Christina Ramos Saicali.Créditos: Vinicius Loures / Câmara dos Deputados
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Anna Christina Ramos Saicali, ex-diretora do grupo Americanas e figura central no esquema de fraudes fiscais, retornou ao Brasil após apresentação à Justiça em Lisboa e revogação de sua prisão. Cooperação com a Interpol facilitou seu embarque para o Brasil, onde será entregue à Polícia Federal.

Saicali era alvo de um mandado de prisão no âmbito da Operação Disclosure contra as Lojas Americanas, deflagrada na última quinta-feira (27) pela Polícia Federal (PF). Ela foi incluída na lista de foragidos internacionais da Interpol e estaria em Portugal. Os advogados da ex-executiva pediram à Justiça a reconsideração de sua prisão preventiva. 

No dia 15 de junho, conforme apurado pelo "Fantástico", da Globo, Anna Saicali viajou para Portugal, como registrado por câmeras de segurança no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro. A decisão judicial que revogou sua prisão determina que Anna deve retornar ao Rio de Janeiro. Após sua chegada, ela não será detida, mas terá seu passaporte retido.

Operação Disclosure e Americanas

A Operação Disclosure foi deflagrada no último dia 27 de junho em decorrência da investigação de uma suposta organização criminosa que atuava em um esquema fraudulento nas Lojas Americanas, que chegaria a um valor de R$ 25,3 bilhões.

Segundo a investigação, ex-executivos da companhia venderam R$ 258 milhões em ações antes do rombo ter sido descoberto e foram informados da troca na diretoria da empresa. O ex-CEO Miguel Gutierrez teria faturado R$ 158 milhões com a venda das ações e a ex-diretora Anna Saicali teria garantido R$ 57,8 milhões com as negociações, realizadas entre julho de 2022 e janeiro de 2023.

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Por que as Lojas Americanas entraram em crise

No início de 2023, mais especificamente no dia 11 de janeiro, as Lojas Americanas surpreenderam a todos ao anunciar, sem aviso prévio, um rombo de R$ 20 bilhões em sua conta, uma quantidade oito vezes maior que o seu valor de mercado.

A história da crise, no entanto, não começa em 2023, pois é resultado de ações errôneas tomadas em 2022 e até em anos anteriores. O rombo bilionário se refere a balanços errados aprovados neste período. O que gerou a divergência entre o que mostravam os balanços e como realmente estava a situação financeira da Americanas foi a prática do “risco sacado”, que consiste na tomada de financiamento com um banco para pagar fornecedores.

A empresa paga os fornecedores antes para, depois, pagar os bancos. O problema é que os balanços das Lojas Americanas não mostravam essas movimentações. Ao revelar o rombo, a Americanas se viu cobrada a pagar suas dívidas antecipadamente. Os principais credores da Americanas são os bancos, entre eles Bradesco, Banco do Brasil, BTG, Itaú e Santander. Entre os credores mais curiosos da varejista, estão diversas empresas de chocolate como Nestlé, Garoto, Hersheys, Mondelez e Ferrero.

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Recuperação judicial

Cerca de uma semana após revelar a fraude em seus balanços, ver suas ações despencarem e trocar de CEO – uma vez que Sérgio Rial renunciou assim que o rombo foi revelado, apenas nove dias após sua posse –, a Americanas entrou com um pedido de recuperação judicial, situação na qual permanece até hoje.

Na ocasião, a empresa revelou um rombo ainda maior do que o informado inicialmente, no que se tornou o quarto maior pedido de recuperação judicial da história do país, atrás somente da Odebrecht, Oi e Samarco.

As dívidas chegam a cerca de R$ 43 bilhões, divididas entre aproximadamente 16,3 mil credores. Desses, R$ 27,2 bilhões são créditos a oito bancos, R$ 64,8 milhões são créditos trabalhistas, R$ 41 milhões são créditos quirografários e R$ 109,5 milhões são valores devidos a pequenas e microempresas.

A Globo é outro credor. Em agosto, a empresa de comunicações notificou judicialmente a Americanas, pedindo o pagamento de uma multa referente à rescisão do contrato de patrocínio do Big Brother Brasil 2023, do qual a varejista desistiu de patrocinar após identificar o rombo. Foi contabilizado um prejuízo de R$ 14,2 milhões à emissora.

CPI da Americanas

Em abril de 2023, uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) foi anunciada na Câmara para apurar o que aconteceu na fraude das Lojas Americanas. A intenção seria responder algumas perguntas-chave: como a empresa conseguiu fraudar 48 bilhões de reais? O que a consultoria PricewaterhouseCoopers Brasil (PWC) fez para esconder os problemas contábeis? As empresas de auditoria estão envolvidas? Caso positivo que outras empresas estão na mesma situação de fraude?

A CPI das Americanas teve seu relatório final divulgado em setembro, confirmando a existência de fraude nos balanços da companhia. No entanto, não indiciou possíveis culpados pela crise por “falta de provas”. Leia mais nesta matéria da Fórum.