MEMÓRIA

Conceição Tavares: Unicamp presta emocionante homenagem à economista

A professora, que morreu recentemente, foi uma das responsáveis pela fundação do Instituto de Economia da instituição de ensino

Conceição Tavares: Unicamp presta emocionante homenagem à economista.Créditos: Agência Brasil
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A economista Maria da Conceição Tavares, uma das principais economistas do Brasil e figura fundamental no processo de redemocratização do país pós-ditadura, faleceu no último sábado (8) aos 94 anos.

Referência nos estudos econômicos brasileiros, Maria da Conceição Tavares se tornou um ícone nas redes sociais por suas falas cáusticas e seu estilo singular de dar aula – sempre acompanhada de um cigarro – que foram transformadas em memes e centenas de cortes de vídeos, fazendo com que fosse redescoberta pela atual geração.

Professora da Universidade de Campinas (Unicamp), Conceição Tavares foi uma das responsáveis pela fundação do Instituto de Economia (IE) da instituição de ensino pública localizada no interior de São Paulo.

Dessa maneira, a Unicamp revelou nesta quinta-feira (13) que irá prestar uma linda homenagem à Conceição Tavares: de acordo com informações reveladas pela instituição, a universidade vai receber o depósito de cinzas de Conceição e plantar uma árvore no bosque do Instituto de Economia, simbolizando as raízes que a saudosa economista plantou no Brasil.

A homenagem, que será aberta ao público, será realizada na próxima segunda-feira (17) a partir das 14h30. O evento será dividido em dois momentos: primeiro, uma solenidade com familiares, amigos, alunos, estudantes e colegas que participaram da criação do Instituto de Economia; em seguida, ocorrerá o depósito de cinzas.

A trajetória de Maria da Conceição Tavares 


Sempre com opiniões lúcidas e sendo uma debatedora contundente, Maria da Conceição nasceu em Anadia, Aveiro, Portugal, e foi criada em Lisboa. Inicialmente, estudou matemática na universidade da capital portuguesa e se casou durante o curso. Grávida de sua filha Laura (depois teria Bruno), se radicou no Brasil em 1954, fugindo da ditadura de António Salazar, em Portugal. Em 1957, adotou a cidadania brasileira.

Em um meio eminentemente dominado por homens, Maria da Conceição enfrentou sem medo o preconceito para ganhar cada vez mais notoriedade, inclusive com muitas aparições nos meios de comunicação.

Seu trabalho sofreu influências de outros três economistas brasileiros: Celso Furtado, Caio Prado Jr. e Ignácio Rangel, todos ligados ao campo progressista, cada um à sua maneira.

Em 1974, foi presa durante a ditadura. Passou alguns dias no DOI-CODI até ser solta por intervenção do próprio general Ernesto Geisel, a pedido de Mário Henrique Simonsen, então ministro da Fazenda do governo militar.

Maria da Conceição Tavares foi filiada ao MDB, de 1980 a 1989, e ao PT, a partir de 1994 até os dias atuais (chegou a colaborar com o governo anterior de Lula PT). Foi deputada federal pelo Rio de Janeiro, de 1995 a 1999.

“A economia é um instrumento para melhorar socialmente e politicamente uma nação”, disse

Ela sempre acreditou que a economia é indissociável do fator social, ao contrário dos tecnocratas que são adeptos apenas da frieza dos números em suas análises.

Em uma entrevista postada pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), para celebrar o aniversário da economista, ela já deixava isso muito claro.

“Economia é uma ciência social e o seu nome originário tem que ser restabelecido: economia política. Então, tem que voltar a essa ideia. Tem que aprender história. Se não aprender história, não é capaz de juntar, estatística etc. Agora, modelo matemático, realmente, pode esquecer que não serve pra nada”, afirmou.

“Isso é a primeira coisa. A segunda coisa é que não é apenas economia política. Não vale a pena ser economista se você não achar que tem que levar alguma contribuição da tua profissão, com a tua dignidade, como teu esforço, com o teu talento, para o desenvolvimento desse país”, ressaltou Maria da Conceição.

“Se você não se preocupar com o povo brasileiro, realmente, meu bem, o melhor, então, vai ser engenheiro de obra. Não aborrece, tá claro? Vai ser engenheiro, porque pra que vai ser economista? Ser economista trata de problemas sociais e políticos. A economia é um instrumento para melhorar socialmente e politicamente uma nação, para integrá-la, para torná-la, finalmente, o sonho do Furtado (Celso)”, acrescentou a economista.