RIO DE JANEIRO

Execução de advogado em frente a OAB-RJ pode ter relação com apostas online e facções

A hipótese é do Ministério Público do Rio de Janeiro e consta na denúncia oferecida à Justiça; Rodrigo Marinho Crespo foi morto a tiros em fevereiro

O advogado Rodrigo Marinho Crespo, de 42 anos.Créditos: Reprodução/Linkedin
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O advogado Rodrigo Marinho Crespo, de 42 anos, foi morto a tiros por homens encapuzados em plena tarde de segunda-feira, no último dia 26 de fevereiro, no centro do Rio de Janeiro. Ele trabalhava na região e o crime foi cometido diante da sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).

Nenhum pertence da vítima foi levado, o que fez a polícia acreditar que se tratasse de uma execução desde o começo. Peritos da Delegacia de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro, que investiga o assassinato, recolheram 11 cápsulas de balas na cena do crime.

A vítima era sócia do Marinho e Lima Advogados, escritório especializado em Direito Civil Empresarial que existe desde 2015. Ele morreu no local antes que o Corpo de Bombeiros, chamado pela população, pudesse socorrê-lo.

De acordo com testemunhas, os autores usavam toucas ninja e fugiram num Gol branco. Dias mais tarde, descobriu-se que eram policiais militares. Em 5 de março, três deles foram presos: Eduardo Sobreira Moraes, Leandro Machado da Silva e Cezar Mondego de Souza.

Eduardo, de 47 anos, foi o responsável por vigiar a vítima durante quatro dias, segundo a investigação. Ele estava foragido desde o final de semana anterior e se entregou na Delegacia de Homicídios, na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade. Além disso, foi nomeado três dias após o crime para um cargo na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), com um salário de R$ 2,1 mil, no Departamento de Patrimônio do órgão. A nomeação foi publicada no Diário Oficial do Estado na sexta-feira, primeiro de março.

Souza também cumpria a função de vigiar a vítima dias antes do crime e tinha cargo na Alerj como assessor. Já Leandro Silva é apontado pelos investigadores como o autor dos vários disparos que acertaram o advogado. Os três se entregaram.

Leandro, suspeito de ser autor dos disparos, também é o principal acusado de um outro homicídio, ocorrido em Duque de Caxias, em 2020. Charles Augusto Ponciano foi executado com 17 tiros de fuzil 5.56 e a perícia realizada pela Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF) mostrou que as munições eram de um lote comprado pela Polícia Militar do Rio em 2008. A vítima, nesse caso, era ligada às milícias e teria sido morta em disputa com integrantes de uma facção criminosa ligada ao tráfico de drogas.

Agora, após a conclusão das investigações, o Ministério Público do Rio de Janeiro apresentou sua denúncia à Justiça e, com ela, uma hipótese que tenta explicar a motivação para o crime. Segundo a denúncia, o advogado estaria incomodando uma organização criminosa que atua no ramo das apostas online.

“Demonstração de força e poder, haja vista que a atuação profissional da vítima, como advogado, vinha incomodando interesses escusos de organização criminosa atuante, entre outras atividades, na exploração de jogos de apostas online”, disse o MP.

Outro detalhe revelado na denúncia aponta que Rodrigo Crespo foi vítima de uma emboscada. Os criminosos teriam monitorado o advogado e, de posse de informações sobre a sua rotina, esperaram que saísse para o almoço, “de maneira que foi atacado de inopino quando menos poderia se supor o ataque”.

O MP também confirma o caráter de execução do crime e aponta que Crespo levou diversos tiros pelas costas. A Justiça acatou a denúncia e transformou o trio em réu. Eles seguem presos enquanto aguardam julgamento. Foram afastados dos seus cargos públicos e tiveram porte de arma suspenso.