CRIME

Indígena Xokleng é assassinado em região de disputa de terras em Santa Catarina

Corpo de Hariel Paliano apresentava sinais de espancamento e queimaduras; seu território foi alvo de ataques a tiros nos últimos dois meses

Hariel Paliano.Créditos: Reprodução/Redes Sociais
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O jovem indígena Hariel Paliano, de 26 anos, foi assassinado neste sábado (27) em Santa Catarina. Ele era do povo Xokleng, que ocupa a Terra Indígena Ibirama La Klaño,  alvo de diversas ameaças.

O corpo de Hariel foi encontrado às margens da rodovia entre as cidades de Doutor Pedrinho e Itaiópolis, e apresentava sinais de espancamento e queimaduras. Ele morava na região com a mãe e o padrasto, que regressavam do Acampamento Terra Livre (ATL), em Brasília. A Polícia Federal (PF) investiga o caso.

O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) lamentou a morte do jovem, que recebeu com "profunda indignação e tristeza" e pediu justiça. 

A notícia do assassinato de Hariel apanhou de surpresa e levou muita dor à delegação Xokleng, Kaingang e Guarani que ainda está na estrada, regressando de Brasília, onde os indígenas participaram, durante a semana, do Acampamento Terra Livre (ATL). Enquanto os povos indígenas estão na capital federal mobilizados de forma democrática e legítima em defesa de seus direitos, recebendo da parte do Estado morosidade e palavras traiçoeiras, nos territórios tradicionais a violência é rápida, ideológica e letal.

A área em que Hariel morava é ocupada pelas etnias Kaingang e Guarani, além dos Xokleng, e vive uma realidade de constantes ameaças de fazendeiros. Em março e abril, os indígenas foram alvos de dois ataques a tiros, que atingiram inclusive a casa de Hariel. O MPF chegou a pedir reforço do patrulhamento na área.

Além desses episódios, os indígenas já foram alvos de diversos outros ataques, em outubro do ano passado, pela Polícia Militar (PM) do governador Jorginho Mello (PL). Na época, a comunidade ficou isolada e alagada devido ao fechamento da Barragem Norte, localizada dentro do território, no município de José Boiteux. Eles se manifestaram por medidas de segurança e sofreram repressão das tropas. Três indígenas foram baleados.

O Cimi reforçou que a região é uma área conflito pela demarcação da terra indígena. Os indígenas do povo Xokleng foram, inclusive, protagonistas do caso histórico analisado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) para reconhecer como inconstitucional a tese do marco temporal. No entanto, após ser aprovada no Congresso, a situação na região piorou.

"Nos últimos meses, a aprovação e promulgação da Lei 14701/2023, que torna vigente o marco temporal, e a decisão tomada pelo ministro Gilmar Mendes no dia 22 de abril, que manteve a vigência da Lei 14701/2023, foram entendidas como uma vitória dos setores que se contrapõem à demarcação da TI Ibirama La Klãnô, repercutindo no endurecimento do ambiente de tensão que se vive na região", afirma em nota.

O conselho finaliza "alertando às autoridades sobre as consequências desastrosas" do marco temporal e a "necessidade de criar um ambiente de paz e tranquilidade na região". Também exige a imediata apuração do crime, identificação e punição dos responsáveis.

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