*Matéria atualizada em 26/04/2024
Viralizou na última terça-feira (23) no X, antigo Twitter, uma denúncia contra o professor Neto da Nóbrega, que dá aulas de história no Colégio Jim Willson para alunos oriundos da elite de Fortaleza, capital do Ceará. De acordo com imagem produzida pelos alunos, o docente deu uma aula utilizando conteúdos da Brasil Paralelo, uma endinheirada produtora de extrema direita já famosa por promover revisionismo histórico.
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A aula em questão versava sobre regimes totalitários do século XX e repetiu na íntegra, como é possível ver nas imagens abaixo, o proselitismo da produtora. Aos alunos, o professor Neto da Nóbrega ‘ensinou’ que entre as principais características do fascismo histórico, aquele verificado na Alemanha nazista e na Itália fascista, estaria uma substituição religiosa. Sairia o cristianismo e entraria o antigo paganismo europeu em seu lugar como crença hegemônica.
Pura bravata. Ainda que tenham existido correntes ocultistas entre os fascistas, sobretudo inspiradas pela obra de Julius Évola, o chamado “pai do tradicionalismo”, essas correntes nunca foram majoritárias.
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Um livro para entender essa questão e relacioná-la à articulação da extrema direita atual chama-se “Guerra pela Eternidade” e foi escrito por Benjamin Teitelbaum, professor da Universidade do Colorado, nos EUA. Na obra, ele explora a influência de Évola sobre o fascismo histórico e realiza entrevistas com ícones fascistas da atualidade como Steve Bannon, Olavo de Carvalho e Aleksander Dugin.
Logo após a viralização da denúncia, o professor apagou o seu perfil no X. No Instagram e Facebook, ainda existem, mas estão fechados e só é possível ver suas postagens com a devida autorização. Ainda assim, na publicação da denúncia, alguns prints foram expostos e dão uma ideia de quem é o professor Neto da Nobrega.
“Todo militante de esquerda é um vagabundo disfarçado de defensor dos direitos humanos”, disse numa postagem.
Já em print de tela da sua conta no Instagram, é possível ver que ele se apresenta como cientista político, pós-graduado em Relações Internacionais, professor titular do Colégio Jim Willson e filiado ao Partido Novo.
Outro lado
A reportagem tentou contato diversas vezes com o Colégio Jim Willson pelos três números de telefone disponíveis no seu site e perfis de redes sociais, sem sucesso. Também tentamos contato via Instagram e não obtivemos resposta. Caso a instituição se manifeste, a matéria será atualizada.
Também tentamos localizar o professor Neto Nóbrega, mas ele apagou sua conta no X, antigo Twitter, depois que o caso viralizou. Encontramos seu Instagram, que está fechado, e um perfil no Facebook, por onde fizemos um pedido de esclarecimento. Não obtivemos resposta até a publicação da matéria. O espaço está aberto.
Professor se pronuncia
À reportagem, Neto da Nóbrega se pronunciou na sexta-feira (26). Ele lamentou o episódio, reiterou seu compromisso profissional e confirmou que eventualmente utiliza materiais da supracitada produtora.
“Lamento muito tudo isso. Sempre fui um professor pautado pela ética e respeito nos ambientes por onde trabalhei. Confesso que fui pego de surpresa com a publicação no X, antigo Twitter. A pessoa que fez tal publicação usou uma foto minha, que eu mesmo postei nas minhas redes sociais onde, na legenda da foto, expresso o meu orgulho em ser professor. De forma isolada ele usou a minha publicação contra mim, alegando que eu estava usando conteúdo da plataforma da Brasil Paralelo, sendo que em minhas aulas, eu uso conteúdos de diversas fontes, seja da Brasil Paralelo, Brasil Escola, Toda Matéria etc. Inclusive, abordo diversas correntes historiográficas dando aos meus alunos a autonomia de pensar e expor suas opiniões livremente em sala de aula”, declarou.
Neto da Nóbrega também diz ser injusta a publicação do usuário da plataforma e acredita que seja uma perseguição pessoal contra ele.
“Achei muito injusto o que aquele rapaz fez comigo. Fazia alguns dias que ele vinha puxando debates comigo e eu sempre o respondia de forma respeitosa. Por perceber que eu sempre o respondia com base, ele não se conformou e fez essa exposição injusta na plataforma X”, argumentou.
Muito educado em seu posicionamento para a reportagem, Neto também explicou que desativou suas redes sociais temporariamente por ter tido problemas de saúde mental com a viralização do caso e, posteriormente, com sua publicação pela Revista Fórum.
"Isso me afetou muito psicologicamente ao ponto de eu desativar temporariamente minhas redes sociais. Isso nunca aconteceu comigo. Eu nunca doutrinei aluno meu, aliás eu prezo muito pela liberdade de expressão e autonomia dos meus alunos. Meu trabalho é muito sério e o meu lado é a educação de qualidade. Tenho formação, tenho experiência e muito respeito inclusive por aqueles que fora do ambiente de trabalho pensam diferente de mim. Espero ter esclarecido melhor essa grande injustiça”, concluiu.