AGRONEGÓCIO

Invasão Zero: milícia armada bolsonarista do agro teria atuado no 8 de janeiro

Movimento de fazendeiros se espalhou pelo país com apoio de seguidores de Bolsonaro; Procurador responsável pelo caso vê relação do grupo com atos antidemocráticos

Grupo Invasão Zero, no sul da Bahia.Créditos: Reprodução/BNews
Escrito en BRASIL el

Diversas famílias do Movimento Sem Terra (MST) ocuparam terras improdutivas em quatro estados na última segunda-feira (15): em São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Ceará, além do Distrito Federal. As ações fazem parte do "Abril Vermelho", mês em que o movimento realiza ações em prol da luta pela reforma agrária.

No entanto, a ação despertou violência pela polícia contra as famílias, que também são alvos constantes do grupo armado bolsonarista do agronegócio que atua contra o MST, chamado "Invasão Zero”. Suspeitos de atuar como uma milícia rural, o movimento de proprietários rurais têm ganhado terreno em todo o país, impulsionado pelo apoio de bolsonaristas.

O Ministério Público Federal (MPF) já defendeu a responsabilidade penal por ações de grupos como o Invasão Zero. No mesmo dia dos atos pela Reforma Agrária, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão do MPF publicou uma nota técnica em que diz que “identifica uma similaridade entre o Invasão Zero e os grupos que participaram dos ataques antidemocráticos em 8 de janeiro de 2023”. 

LEIA TAMBÉM: Massacre de Eldorado de Carajás completa 28 anos e marca luta pela reforma agrária

Para o procurador responsável pela investigação do caso, Julio José de Araujo Junior, também coordenador do grupo de trabalho sobre Reforma Agrária e Conflitos Fundiários no MPF, “existem grupos que se estruturam para cometer crimes e operam fora da esfera do Estado, frequentemente com a participação de policiais. Este é um cenário que nos causa preocupação e que exige uma resposta penal”, declara. 

De acordo com uma nota técnica emitida pelo Ministério Público Federal (MPF), o grupo Invasão Zero se formou a partir de grupos já existentes que estavam envolvidos em atos antidemocráticos. O grupo é sustentado por três pilares principais: o braço político, o braço financeiro-econômico e o braço criminoso, que juntos apoiam os crimes no meio rural.

“Invasão Zero”: entenda como grupo surgiu e atua no meio rural

O “Invasão Zero” tem atraído atenção significativa no meio rural nos últimos meses, devido às ações de “desocupação de terras” realizadas sem a aprovação judicial e com a presença de fazendeiros armados. Em um assassinato ocorrido em janeiro, o grupo tentou “desocupar” uma fazenda em Potiraguá, localizada no sul da Bahia, o que infelizmente resultou na morte de Maria de Fátima Muniz, líder indígena conhecida como Nega Pataxó.

Sob investigação da Polícia Civil por supostamente funcionar como uma milícia nas fazenda, o “Invasão Zero” foi organizado no sul da Bahia por proprietários de terras abastados e poderosos. O grupo fornece manuais para guiar a “defesa de propriedades” e alega que suas ações “estão dentro da legalidade” e que “não apoia comportamentos violentos.”

Luiz Uaquim, um dos fundadores do “Invasão Zero”, revelou ao Repórter Brasil este ano, por exemplo, que o movimento foi criado em março do ano passado com a finalidade de "prevenir a ocupação" da fazenda Ouro Verde, localizada em Santa Luzia, no interior da Bahia.

Através de grupos de WhatsApp, o “movimento” atraiu o apoio de 5 mil proprietários rurais e inspirou a formação de grupos similares em pelo menos nove estados. Além disso, uma Frente Parlamentar com o mesmo nome foi estabelecida no Congresso. A liderança da frente está nas mãos do deputado federal Luciano Zucco (Republicanos - RS), enquanto as relações institucionais são gerenciadas pelo deputado federal Pedro Lupion (PP-PR)

Ricardo Salles (PL-SP), ex-ministro de Bolsonaro, ocupa a posição de primeiro vice-presidente do grupo. Segundo informações de fontes internas do Repórter Brasil, na Bahia, a empresária Dida Souza, filha do ex-deputado constituinte Osvaldo Souza, também desempenha um papel de coordenação no grupo. Em uma reportagem exclusiva produzida pela Fórum, é apresentada uma análise detalhada do aumento da violência contra as comunidades indígenas, com um foco particular na atuação das milícias ligadas ao agronegócio.

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar