Na última quarta-feira (17), imagens gravadas por moradores de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, e obtidas pelo portal Uol, mostram um grupo de PMs olhando cuidadosamente o chão de uma viela e recolhendo coisas do chão horas após um menino de 7 anos ser baleado na cabeça enquanto ocorria uma operação na comunidade. O advogado que atende a família acusa os agentes de fraude processual, mas para o Governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) está tudo normal. O porta-voz da corporação não viu qualquer irregularidade na cena.
De acordo com testemunhas, por volta das 7h50 de quarta-feira, uma operação da PM transcorria na área onde a criança foi ferida. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) afirmou em nota que policiais militares faziam um patrulhamento na comunidade quando teriam sido recebidos a tiros por criminosos. Também disse que “todas as circunstâncias serão apuradas”.
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“Os policiais intervieram e os suspeitos fugiram. Após a ação, foi constatado que uma criança estava com um ferimento na cabeça. Ela foi socorrida e transferida ao Hospital Campo Limpo, onde está consciente e sob cuidados médicos”, diz o trecho do comunicado emitido pela assessoria de imprensa da PM.
Segundo moradores próximos à família da vítima, o estado da criança é estável e o ferimento não teria tido maior gravidade, o que poderia indicar que ela foi atingida por estilhaços de uma bala, ou mesmo por um projétil que já teria perdido quase toda a força após ricochetear. Ela está internada no Hospital do Campo Limpo, administrado pela Secretaria Municipal de Saúde da capital paulista, que informou em nota que “o estado de saúde da criança é estável” e que ela “está recebendo todos os cuidados necessários”.
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O caso foi registrado no 89° Distrito Policial (Morumbi), que ficará encarregado, pelo menos por ora, das investigações sobre o episódio. Locais onde ocorrem crimes devem ser preservados para ação da perícia e qualquer mudança no cenário do evento, assim como subtração ou ocultação de elementos, é crime.
Nesta quinta-feira (18), o advogado André Lozano, que faz a defesa do menino de 7 anos baleado, falou à Folha. Ele fez duras críticas à ação da PM, que efetuou diversos disparos numa rua que registrava forte presença comunitária. Moradores, incluindo crianças e idosos, circulavam pelo local no momento do tiroteio. Ele também acusou os policiais de fraude processual por conta do movimento de recolher objetos do chão.
“Em qualquer país civilizado do mundo não se atira quando tem passagem de transeuntes. Porque o objetivo da polícia é proteger, não é matar. Agora, quando há crianças, se mostra uma operação completamente desvirtuada e uma falta de treinamento, com violência exagerada. Não é um ato isolado. Existem muitos elementos que demonstram que os policiais agiram de forma no mínimo ilegal, para não dizer criminosa”, afirmou o defensor.
Já o coronel Massera, chefe da comunicação e porta-voz da PM, afirmou para o mesmo jornal que assistiu as imagens e que tem certeza de que o menino estava fora da linha de tiro dos policiais. Ele aponta que o ferimento na cabeça da criança pode ser sido provocado por estilhaços, pedaços de reboco ou por uma queda. Não descarta que a origem do ferimento possa ter saído das armas dos policiais, mas nega que os agentes tenham efetuado disparos na direção da vítima.
Sobre a adulteração da cena do crime, Massera descartou a possibilidade. A SSP, por sua vez, também emitiu uma nota afirmando que assistiu às imagens e que não verificou nenhuma violação no local.
“Segundo a análise, os policiais apenas sinalizaram onde estavam os estojos e projéteis. O local foi preservado, e o trabalho da perícia realizado sem prejuízos pela Polícia Técnica-Científica”, diz a nota da secretaria.
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