"BNDES DOS CORONÉIS"

Preso por caixa 2, ex-coronel da PM-SP diz que toda a corporação é corrupta

Declaração foi dada à Folha de dentro da prisão; “Quem falar que não tem esquema está mentindo”

PM-SP.Créditos: Rovena Rosa/Agência Brasil
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Preso e apontado como o chefe de um dos maiores esquemas de corrupção da história da Polícia Militar de São Paulo, o ex-tenente-coronel José Afonso Adriano Filho deu uma entrevista nesta quinta-feira (14) à Folha de S Paulo onde diz que todas as unidades da corporação são corruptas e fazem um esquema de caixa 2 semelhante ao que o levou preso.

“Todas as unidades gestoras e executoras da PM têm caixa 2. Todas as 104. Quem falar que não está mentindo”, disse o ex-coronel em seu primeiro pronunciamento ao público desde que o caso foi revelado, em 2015.

O ex-tenente-coronel da PM-SP José Afonso Adriano Filho. Reprodução

Ele está preso na Penitenciária 2 de Tremembé, no interior de São Paulo, exclusiva para detentos oriundos das forças de segurança. Condenado por peculato em dois processos, foi acusado de cometer fraude em licitações que atenderiam ao comando da corporação. Sua pena supera os 52 anos de prisão.

As acusações que o levaram para trás das grades em 2017 apontam que o então tenente-coronel organizava licitações para o comando da corporação que eram vencidas por empresas que ele mesmo criava. O detento, no entanto, afirma que que os beneficiários do esquema são muitos. Mais precisamente 27 oficiais que recebiam a grana obtida pelas licitações fraudulentas.

O esquema de Adriano funcionou entre 2005 e 2012 e teve a capacidade de desviar mais de R$ 2 milhões para as contas particulares dos oficiais beneficiados. À Folha ele disse que os colegas formavam fila na porta da sua sala no Comando-Geral da PM para receberem os valores em espécie. A movimentação era tanta que o ex-coronel se deu o apelido de “BNDES dos coronéis”.

E o autointitulado “BNDES dos coronéis” também emitia comprovantes da entrega dos valores aos oficiais, conforme demonstrado na entrevista. Os valores repassados estavam em nome da Comercial das Províncias, uma das empresas montadas pelo esquema. Segundo o ex-coronel, seria fácil para a Corregedoria rastrear os repasses. No entanto, o órgão jamais apurou o caso antes que fosse a público.

Quando foi preso, tentou negociar uma delação premiada sem sucesso. Conforme contou nesta jornada, todos os comandantes da PM tinham conhecimento do esquema de corrupção e até parentes dos oficiais pediam alguma grana. Entre eles a esposa do coronel Alvaro Camilo, que à época acumulava os cargos de comandante-geral e subprefeito da Sé. O dinheiro serviria para a compra de ternos a Camilo. O comandante ainda retirava, mensalmente, R$ 5 mil do esquema.

Outro beneficiário apontando pelo ex-coronel Adriano foi o coronel João Cláudio Valério. Ele teria se locupletado com cerca de R$ 600 mil. A grana foi usada por múltiplas razões, inclusive no pagamento de despesas de uma amiga e de um dos filhos do oficial.

Todos os nomes apontados por Adriano disseram que foram investigados e as suspeitas arquivadas logo em seguida. O Ministério Público de São Paulo não respondeu aos questionamentos pertinentes à reportagem. Para Adriano, ficou a sensação de ter sido usado como “boi de piranha”.