PERSPECTIVAS

Mapa-múndi: confira outros países que se colocam no centro em suas cartografias

Novo mapa-múndi do Brasil divulgado pelo IBGE desconstruiu visão eurocêntrica de geografia que destacava países do Norte Global; entenda

Novo mapa-múndi apresentado pelo IBGE coloca o Brasil no centro do mundo.Créditos: Divulgação/IBGE
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Muitos países ao redor do mundo já optaram por colocar seu território no centro do mapa-múndi. Essa escolha, geralmente motivada por causas políticas e estratégicas por países pertencentes ao Norte Global, altera a representação e percepção espacial de outros países. Ao longo da história, por exemplo, cartografias foram utilizadas para delinear fronteiras e reivindicar territórios.

Imperialistas em expansão frequentemente usavam mapas para justificar suas reivindicações territoriais, muitas vezes ignorando ou marginalizando os direitos dos povos indígenas, quilombolas e comunidades locais, além de planejar e executar planos militares: mapas detalham de terrenos, recursos e infraestruturas essenciais para a dominação, bem como reforçam autoridade e legitimam ações perante o mundo. 

Estados Unidos, Japão, Austrália, Nova Zelândia e os países europeus são algumas das nações responsáveis por promover historicamente uma “geografia ideológica e voltada para a disputa de poder”, ao se posicionarem sempre no centro do mundo, embora não estejam nele. Essa era a visão do geógrafo marroquino Yves Lacoste em 1972, quando publicou o primeiro artigo que desafiava a cartografia do governo americano e da comunidade internacional naquele período.

“Na realidade, a função ideológica do discurso da geografia escolar e universitária tem sido sobretudo mascarar, mediante alguns procedimentos que não são evidentes, a utilidade prática da análise do espaço, tanto fundamentalmente para a direção da guerra como para a organização do estado e a prática do poder”, escreve ele.

“De certo modo, a geografia dos professores funciona como uma cortina de fumaça que permite dissimular dos olhos de todos a eficácia das estratégias políticas e militares, assim como as estratégias econômicas e sociais que uma outra geografia permite que alguns ponham em prática.”

Confira a representação dos mapas-múndi:

Estados Unidos

Créditos: Reprodução/X

Austrália

Créditos: Reprodução/X

Japão

Créditos: Reprodução/X

Países europeus

Créditos: Bardocz Peter/Getty Images

Em publicação na rede X (antigo Twitter), o geógrafo Rodrigo dos Reis explicou que, na década de 1970, houve uma "revolução cartográfica contra colonização curricular em escolas públicas de Boston, nos Estados Unidos, ocasião em que foi adotado o mapa de Gall-Petters, que apresentava uma representação mais precisa do tamanho dos continentes, em contraste com os mapas tradicionais baseados na projeção de Mercator.

Por mais de 400 anos, as escolas utilizaram mapas que distorciam a realidade, com a Europa ocupando um espaço desproporcionalmente grande em relação à África, que é 14 vezes maior. Essa distorção, presente na projeção de Mercator criada em 1569, refletia a visão eurocêntrica da época, explicou o geógrafo. 

Novo mapa do Brasil

O debate é suscitado após Márcio Pochmann, presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), anunciar que entregou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva o novo mapa-múndi oficial brasileiro na última terça-feira (9)

“Logo após a ‘descoberta’ pelos europeu do continente americano, o primeiro mapa-múndi foi apresentado pelo italiano Alberto Cantino, em 1502. De lá para cá, a centralidade dos países do Norte Global nas projeções cartográficas, expressão do projeto eurocentrista de modernidade Ocidental. A emergência do Sul Global acompanha o reposicionamento do Brasil no mapa-mundi”, explica Pochmann nas redes sociais.

“A divulgação ocorre em consonância com o momento especial em que o Brasil está presidindo o G20 e é uma oportunidade de mostrar uma forma singular do Brasil ser visto em relação a esse grupo de países e ao restante do mundo. O Atlas Geográfico Escolar do IBGE reúne dados sobre clima, vegetação, uso da terra, divisão política e regional, características demográficas, indicadores sociais, espaço econômico e das redes, além de diversidade ambiental do Brasil e de mais de 180 países.

Com mais de 200 mapas, dentre físicos, políticos e temáticos do Brasil e do mundo, a nova edição destaca mapas que indicam os territórios quilombolas e a distribuição de pessoas quilombolas e indígenas, além da cobertura e uso da terra e espécies ameaçadas de extinção, reunindo em mesmo volume, dados geográficos, cartográficos e estatísticos, imprescindíveis ao estudo e à análise das dimensões sociopolítica, ambiental e econômica do Brasil e do mundo.”

Repercussão nas redes sociais: