Márcio Pochmann, o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), usou as redes sociais na noite desta quinta-feira (11) para anunciar que entregou ao presidente Lula (PT) o novo mapa-múndi oficial brasileiro. A diferença do antigo, que destacava o Norte Global, o novo mapa coloca o próprio Brasil ao centro.
Produzido pelo IBGE e lançado pelo Governo Lula, o novo mapa-múndi é como um símbolo nacional, a exemplo da Bandeira, do Hino, das Armas e do Selo. Protegidos por lei, o uso dos símbolos nacionais deve respeitar padrões de impressão e apresentação por respeito à identidade pátria. Também devem constar, obrigatoriamente, em todos os prédios públicos e militares do país.
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Pochmann explica na sua publicação que além dos símbolos nacionais mais tradicionais, outros elementos, como os mapas, também devem ser obrigatórios. “Representam a própria face da Nação”, escreveu.
“O mapa-múndi, elaborado pelo IBGE, tem a marcação dos países que compõem o G20 e dos que possuem representação diplomática brasileira, além de algumas informações básicas sobre o Brasil, como população e área, entre outros dados”, explicou Pochmann.
O lançamento oficial ocorreu na última terça-feira (9), na Casa do G20, no Rio de Janeiro, com o lançamento da 9ª Edição do Atlas Geográfico Escolar. O volume possui versões impressa e digital.
“Como um símbolo da imagem de um país, cabe ao IBGE apresentar às autoridades que representam o Brasil esse novo mapa, essa nova publicação. Inclusive, pois é um dever do IBGE destacar a importância desta publicação na formação do povo brasileiro. E como o Brasil é visto no mundo”, disse o presidente do IBGE sobre a razão da entrega do mapa a Lula.
Possível inspiração do IBGE
Aparentemente o IBGE utilizou um conceito parecido com o do artista uruguaio Joaquim Torres Garcia, que em 1943 desenhou a América do Sul ‘ao contrário’, com o Sul Global orientado ao topo do desenho. Se no presente mapa do IBGE o Sul não está orientado para cima, por outro lado, o fato de o Brasil figurar ao centro, aproxima as duas ideias.
Torres Garcia tentava, à época, formar sua teoria do “universalismo construtivo”, influenciado pelas tradições dos povos indígenas. Com esse mapa, ele propõe mais que um desenho, mas a construção de uma identidade sul-americana autônoma, liberta da condição subalterna aos europeus – que comumente desenham seus mapas dando destaque a si mesmos.
"Eu chamei isso de ‘A Escola do Sul’ porque, na realidade, nosso norte é o sul. Não deve haver norte para nós, exceto em oposição ao nosso sul. Portanto, agora nós viramos o mapa de cabeça para baixo, e então temos uma ideia verdadeira de nossa posição, e não como o resto do mundo deseja. O ponto da América, de agora em diante, para sempre, aponta insistentemente para o sul, nosso norte,” declarou o artista.
Eduardo Galeano, saudoso escritor uruguaio autor de “As Veias Abertas da América Latina”, terminou um de seus livros, “De pernas para o ar”, com uma breve reflexão acerca da obra e do seu conceito.
“No século XII, o geógrafo do reino da Sicília, Al-Idrisi, traçou o mapa do mundo. Do mundo que a Europa conhecia, com o sul acima e o norte abaixo. Isso era habitual na cartografia daqueles tempos. E, assim, com o sul acima, desenhou o mapa sul-americano, oito séculos depois, o pintos uruguaio Joaquim Torres Garcia. Nosso norte é o sul, disse. Para ia ao norte, nossos barcos descem, não sobem. E se o mundo está como está, de ponta cabeça, não seria necessário virá-lo do avesso para que possamos parar os nossos pés?”, escreveu Galeano.