TEM QUE FALAR O ÓBVIO

A reação de Lula ao perfil gringo que tentou ironizar novo mapa-múndi com o Brasil no centro

Mapa lançado pelo IBGE foi parar em um perfil satírico chamado "Momentos loucos na política da América Latina"

Lula reage a ironia sobre o novo mapa-múndi do IBGE, que coloca o Brasil no centro.Créditos: Ricardo Stuckert
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu a uma publicação feita por um perfil estrangeiro satírico no X, antigo Twitter, que parece ser uma tentativa de ironizar o novo mapa-múndi oficial do Brasil lançado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que traz o país no centro do planisfério. 

A imagem do mapa foi parar no perfil "Crazy Ass Moments in LatAm Politics", que em português significa "Momentos Loucos na Política da América Latina", que satiriza situações que considera bizarras na política latino-americana. 

Lula, então, decidiu nesta sexta-feira (12) responder à postagem dizendo o óbvio: "A terra é redonda". 

Inúmeras pessoas reagiram à publicação da página satírica e à resposta do presidente diante do fato de que estrangeiros ficaram irritados com a representação cartográfica brasileira. A vereadora Monica Benício (PSOL-RJ), por exemplo, comentou: 

"Calma presidente, tem gente entendendo só agora que a Europa não é o 'centro do planeta', pois o centro, num globo, é variável de acordo com o ângulo em que você escolhe olhar. É demais pra cabeça deles". 

O Brasil no centro

Márcio Pochmann, o presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), usou as redes sociais na noite desta quinta-feira (11) para anunciar que entregou ao presidente Lula o novo mapa-múndi oficial brasileiro. Diferente do antigo, que destacava o Norte Global, o novo mapa coloca o próprio Brasil ao centro.

Produzido pelo IBGE e lançado pelo governo Lula, o novo mapa-múndi, segundo Pochmann, é como um símbolo nacional, a exemplo da Bandeira, do Hino, das Armas e do Selo. Protegidos por lei, o uso dos símbolos nacionais deve respeitar padrões de impressão e apresentação por respeito à identidade pátria. Também devem constar, obrigatoriamente, em todos os prédios públicos e militares do país.

Veja o mapa: 

Pochmann explica na sua publicação que além dos símbolos nacionais mais tradicionais, outros elementos, como os mapas, também devem ser obrigatórios. “Representam a própria face da Nação”, escreveu.

“O mapa-múndi, elaborado pelo IBGE, tem a marcação dos países que compõem o G20 e dos que possuem representação diplomática brasileira, além de algumas informações básicas sobre o Brasil, como população e área, entre outros dados”, explicou Pochmann.

O lançamento oficial ocorreu na última terça-feira (9), na Casa do G20, no Rio de Janeiro, com o lançamento da 9ª Edição do Atlas Geográfico Escolar. O volume possui versões impressa e digital.

“Como um símbolo da imagem de um país, cabe ao IBGE apresentar às autoridades que representam o Brasil esse novo mapa, essa nova publicação. Inclusive, pois é um dever do IBGE destacar a importância desta publicação na formação do povo brasileiro. E como o Brasil é visto no mundo”, disse o presidente do IBGE sobre a razão da entrega do mapa a Lula.

"Logo após a 'descoberta' pelos europeu do continente americano, o primeiro mapa-múndi foi apresentado pelo italiano Alberto Cantino, em 1502. De lá para cá, a centralidade dos países do Norte Global nas projeções cartográficas, expressão do projeto eurocentrista de modernidade Ocidental. A emergência do Sul Global acompanha o reposicionamento do Brasil no mapa-mundi", declarou ainda Marcio Pochmann. 

Possível inspiração do IBGE

Aparentemente o IBGE utilizou um conceito parecido com o do artista uruguaio Joaquim Torres Garcia, que em 1943 desenhou a América do Sul ‘ao contrário’, com o Sul Global orientado ao topo do desenho. Se no presente mapa do IBGE o Sul não está orientado para cima, por outro lado, o fato de o Brasil figurar ao centro, aproxima as duas ideias.

Torres Garcia tentava, à época, formar sua teoria do “universalismo construtivo”, influenciado pelas tradições dos povos indígenas. Com esse mapa, ele propõe mais que um desenho, mas a construção de uma identidade sul-americana autônoma, liberta da condição subalterna aos europeus – que comumente desenham seus mapas dando destaque a si mesmos.

"Eu chamei isso de ‘A Escola do Sul’ porque, na realidade, nosso norte é o sul. Não deve haver norte para nós, exceto em oposição ao nosso sul. Portanto, agora nós viramos o mapa de cabeça para baixo, e então temos uma ideia verdadeira de nossa posição, e não como o resto do mundo deseja. O ponto da América, de agora em diante, para sempre, aponta insistentemente para o sul, nosso norte", declarou o artista.

Eduardo Galeano, saudoso escritor uruguaio autor de “As Veias Abertas da América Latina”, terminou um de seus livros, “De pernas para o ar”, com uma breve reflexão acerca da obra e do seu conceito.

“No século XII, o geógrafo do reino da Sicília, Al-Idrisi, traçou o mapa do mundo. Do mundo que a Europa conhecia, com o sul acima e o norte abaixo. Isso era habitual na cartografia daqueles tempos. E, assim, com o sul acima, desenhou o mapa sul-americano, oito séculos depois, o pintos uruguaio Joaquim Torres Garcia. Nosso norte é o sul, disse. Para ia ao norte, nossos barcos descem, não sobem. E se o mundo está como está, de ponta cabeça, não seria necessário virá-lo do avesso para que possamos parar os nossos pés?”, escreveu Galeano.