Era 30 de outubro de 2022 e os brasileiros haviam acabado de votar no segundo das eleições presidenciais. Em Nova Cintra, zona oeste de Belo Horizonte, Ruan Nilton da Luz já estava bastante embriagado. Ele foi flagrado por câmeras de segurança de um bar da região, usando sua camiseta amarela, pouco antes do anúncio de que Lula (PT) era o vencedor do pleito.
Após o anúncio ele foi para casa, se armou com duas pistolas automáticas e resolveu ir para as ruas do bairro descontar sua frustração nos transeuntes: matou duas pessoas e feriu outras seis. Ele tinha licença CAC (caçador, atirador e colecionador de armas) e suas armas estavam registradas tanto no Exército como na Polícia Federal, conforme apurado pela Record TV de Minas Gerais.
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A adolescente de 12 anos Luana Rafaela Oliveira Barcelos foi a primeira vítima fatal. Atingida por um tiro na virilha, ela lutou por quase uma semana no hospital para se manter viva. Infelizmente não resistiu.
“Palavras dela: ‘mãe, eu vi um homem vindo correndo, ele estava sem camisa, com uma touca na cabeça que só era possível ver os olhos e duas armas nas mãos. Ele atirou em mim porque eu olhei para ele’”, relatou recentemente Luciana Oliveira, mãe de Luana, sobre as últimas palavras da filha.
José Geraldo Barcelos, o pai de Luana, diz à Record que faz tratamento psicológico, reza muito e, mesmo assim, tem dificuldade para dormir. “Eu não entendo por que isso aconteceu”, disse.
Uma testemunha chegou a dizer para a Polícia Civil, no âmbito das investigações acerca do episódio, que teria conversado com Ruan antes de tudo acontecer. O homem estava revoltado com uma possível vitória de Lula e disse que havia perigo de que “fizesse alguma besteira”.
Logo que foi preso em flagrante, falou aos policiais que tinha passado o dia tomando bebidas alcoólicas na casa de um parente. Ele então teria ficado transtornado, ido para casa e pego as armas para cobrar satisfações de supostos vendedores de drogas da região. No meio tempo, viu pessoas na rua e decidiu atirar, sem razão aparente ou um alvo específico.
Nesse momento ele acertou Luana em frente ao bar que pertence a José Geraldo, o pai da vítima. “Ele apareceu de um beco e atirou nas pessoas que estavam no bar. Ela já estava entrando quando foi atingida”, disse o pai. Além de Luana, sua mãe também foi atingida.
Ainda segundo o depoimento do autor, ele fez os disparos mas não encontrou nenhum traficante. Foi aí que resolveu descer até a avenida. Ele então viu um grupo de pessoas confraternizando numa garagem e decidiu disparar novamente. Foi quando Pedro Henrique Dias Soares foi baleado aos 28 anos. Levou um tiro nas costas e morreu na mesma hora.
“O que aconteceu com o meu filho foi uma brutalidade, uma monstruosidade. Meu filho não merecia isso não, era uma pessoa muito boa. Nunca brigou na vida, nunca ficou de recuperação, nunca me respondeu. Era um menino de ouro”, lamentou Aílton Soares, motorista de aplicativo e pai de Pedro.
Pedro era recém formado em Direito, eleitor de Lula e na sua casa ocorria uma confraternização que reunia tanto lulistas como bolsonaristas. O trajeto total, entre a casa de Ruan, o local onde Luana foi baleada e a garagem onde Pedro foi morto, é de poucas quadras.
Foram dois mortos e seis feridos ao todo. Em dezembro de 2022, o Ministério Público denunciou Ruan Nilton da Luz pelos homicídios triplamente qualificados e por outras seis tentativas de homicídio.
“Os crimes foram cometidos por um motivo torpe. Ruan Nilton matou e tentou matar porque não concordava com a posição política daqueles que, a seu juízo, seriam apoiadores do candidato vencedor das eleições. Houve uma abjeta e repugnante intolerância pela escolha política alheia, fato inaceitável no Estado Democrático de Direito”, diz a denúncia do Ministério Público.
Um ano e meio depois o processo ainda está em aberto, e o autor está em prisão domiciliar. Sua defesa alega que ele tem problemas mentais e que no dia dos crimes estaria em surto. Mas as famílias das vítimas não concordam e, finalmente quebraram o silêncio a respeito do caso ao darem seus depoimentos à Record de Minas Gerais.
“Queremos que ele pague por aquilo que fez”, dizem os pais e irmãos de Luana e Pedro. A expectativa é de que o caso vá a júri popular.