Era 22 de fevereiro de 2021 quando o corpo de Cleber Eduardo Lacerda, um designer de moda de 32 anos, foi encontrado embaixo do viaduto Sumaré, na Zona Oeste de São Paulo. No boletim de ocorrência registrado pela Polícia Militar no 23° DP da capital paulista, o caso é registrado como suicídio. Ninguém na família ficou sabendo de sua morte e o rapaz acabou sendo enterrado como indigente dia 3 de março.
“Para a família, ele nunca falou nada, era muito fechado, mas nunca deixou transparecer nada. Para gente, ele estava normal. Um final de semana antes, ele foi em uma festa de inauguração de um comércio do meu primo. Todo mundo falando que ele estava feliz, alegre, não dá para entender”, disse à reportagem do Brasil de Fato, à época, Sabrina Gomes, irmã de Cleber.
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Ela sempre rebateu a teoria da PM de que o irmão tivesse tirado a própria vida e não entendia por que outras hipóteses não eram investigadas. Ela lembre que ele era gay, e que poderia ter sido vítima de homofobia, por exemplo. Existiria um universo de possibilidades, mas não o suicídio, porque não faria sentido.
Quatro meses depois, Luiz Felipe Bernardes dos Santos, o Macalé, teve um destino idêntico. Arquiteto e artista, ele seria achado morto também no vão do viaduto Sumaré. No registro da ocorrência pela PM, na mesma delegacia, aparece a mesma versão: suicídio.
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“Falamos a semana inteira, eu fui convidado para um projeto de humor e queria que ele me ajudasse. No sábado estávamos juntos no bar, ele estava bem. Ele nunca teve pensamentos suicidas e não havia motivos para isso”, relatou indignado o educador Sócrates Magno, amigo próximo de Macalé, ao Brasil de Fato.
A história de Macalé é ainda mais estranha. Naquele sábado, em meio à pandemia, ele ficou num bar da região da Consolação até 21h, horário em que os estabelecimentos tinham que fechar na época da Covid-19. O amigo que estava com ele foi embora e Macalé foi então para um outro bar ali mesmo pela região da Avenida Paulista, onde permaneceu 1h35, chamando na sequência um carro de aplicativo e desembarcando em casa à 1h53.
De fato, ele esteve em casa, pois o primo que mora nos fundos confirmou que o celular do arquiteto foi deixado lá depois que ele chegou com o carro de aplicativo. A mochila que ele usava nas fotos em que aparece nos bares também estava lá, mas uma coisa chamou a atenção de todos. A casa estava revirada, com roupas jogadas, e o computador e o anel de ouro de formatura de Macalé nunca foram achados.
O crime segue até hoje classificado como suicídio, embora parentes e amigos afirmem que essa possibilidade jamais fosse real.
Caso de rapaz jogado da ponte por PM gerou comoção
Uma cena estarrecedora registrada na madrugada de segunda-feira (2), no bairro Cidade Ademar, na Zona Sul da capital paulista, trouxe uma comoção estrondosa em todo o país e voltou a colocar no centro de uma crise a Polícia Militar de São Paulo, comandada pelo governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos). Um PM, com o auxílio de outros três colegas, arremessou um homem do alto de uma ponte para um rio contaminado com esgoto que passa logo abaixo da estrutura.
A ação criminosa foi registrada em vídeo. Nas imagens, é possível ver um dos PMs levantando uma moto caída no chão, enquanto outro agente surge segurando um homem de camiseta azul. Na sequência, o policial empurra o homem da ponte.
Com a repercussão do episódio, que só virou notícia em todo o país por ter sido filmado por uma testemunha, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) anunciou que os 13 PM que estavam na ocorrência serão afastados das ruas e terão que cumprir expediente na Corregedoria da corporação enquanto uma investigação é conduzida.
Já o comandante-geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo, coronel Cássio Araújo de Freitas, deu uma declaração inacreditável a respeito do absurdo caso em que um PM jogou um homem do alto de uma ponte dentro do rio, no bairro de Cidade Ademar, na Zona Sul da capital. O episódio tornou-se notícia em todo o país e gerou uma onda de repúdio à cada vez mais crescente onda de violência policial imposta pelas forças de segurança paulistas.
“Eu considero um erro básico. Um erro emocional de jogar o rapaz ali. Aquilo era quase infantil um negócio daquele. Comete um erro básico, vai ser julgado por aquilo”, disse o coronel, como se falasse de um ato banal qualquer.