Mais de 87% das vítimas de letalidade policial no Brasil são negras, revela o mais recente levantamento do boletim "Pele Alvo: Mortes Que Revelam Um Padrão". Os dados, coletados em nove estados, mostram um cenário de violência racial sistêmica, com estados do Nordeste concentrando as maiores taxas de mortes de jovens negros.
No Amazonas, por exemplo, 92,6% das vítimas fatais nas mãos dos agentes eram negras. Na Bahia, esse número sobe para 94,6%, e em Pernambuco, chega a 95,7%. Outros estados como Ceará, Maranhão, Pará, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo também apresentam taxas elevadas, todas acima de 66%. O estudo foi feito pela Rede de Observatórios da Segurança e divulgado nesta quinta-feira (7).
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“O perfil do suspeito policial é fortalecido nas corporações. O policial aprende que deve tratar diferente um jovem branco vestido de terno na cidade e um jovem negro de bermuda e chinelo em uma favela. A questão é: 99,9% dos jovens negros das favelas e periferias estão de bermuda e chinelo. E todos passam a ser vistos como perigosos e como possíveis alvos que a polícia, se precisar, pode matar”, destacou a pesquisadora no boletim.
Jovens, principalmente entre 18 e 29 anos, são os principais alvos da letalidade policial no país. A situação é particularmente grave no Ceará, onde quase 70% das vítimas são desse grupo. Ainda mais chocante é o fato de que crianças e adolescentes entre 12 e 17 anos representarem 243 das vítimas em todos os estados analisados.
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A Bahia se destaca como o estado com a maior letalidade policial do país, registrando 1.702 mortes em 2023. Esse número é o segundo maior desde 2019. O Rio de Janeiro aparece em segundo lugar, com 871 mortes, evidenciando a gravidade da situação em ambos os estados.
Violência policial em SP
O relatório “O Estado Dos Direitos Humanos no Mundo”, divulgado pela Anistia Internacional em abril deste ano, também revelou que a maioria das vítimas em operações e abordagens policiais pertence a comunidades negras e periféricas.
O texto ressaltou que as operações policiais fortemente armadas orientadas para a “guerra às drogas” nas favelas e bairros marginalizados resultaram, além do alto número de mortes, em outras violações dos direitos humanos, como invasões ilegais, destruição de propriedades, tortura, outros maus-tratos, restrições à liberdade de circulação, desaparecimentos forçados e suspensão de serviços essenciais, como escolas e centros de saúde.
A organização, em parceria com o Conselho Nacional de Direitos Humanos e outras entidades, documentou 11 casos de violações graves dos direitos humanos realizadas por agentes do Estado na Operação Escudo durante o governo Tarcísio, incluindo execuções extrajudiciais, entrada ilegal em residências e tortura.
Dados levantados pelo Instituto Sou da Paz, divulgados pela Folha de S.Paulo, mostraram que a polícia paulista cometeu 78% mais assassinatos no comparativo entre os dois períodos. Uma em cada 3 vítimas é negra. Segundo o instituto, nos primeiros oito meses de 2024, 441 pessoas foram mortas pela polícia no Estado. No mesmo período do ano passado foram 247 mortos.
Dos mais de 400 assassinatos, 283 foram de pessoas negras e 138 de brancos - outras 20 tiveram a raça ou cor ignoradas nos documentos pela polícia. No mesmo período do ano passado, foram mortos 154 negros e 87 brancos. Os negros são maioria nos assassinatos conduzidos pela polícia mesmo representando 41% da população paulista.
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