O CEO do Carrefour, Alexandre Bompard, pediu desculpas ao Brasil pelas declarações a respeito dos requisitos e padrões de venda da carne oriunda do Mercosul. A carta, inclusive, já estaria pronta.
No documento, Bompard destaca a longa parceria da marca com a indústria frigorífica, uma convivência de 50 anos que seria também um sinal da qualidade do produto brasileiro.
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O gesto vem após reações ao anúncio recente feito por Bompard anunciando que o Carrefour não compraria mais carne de países do Mercosul para abastecer suas lojas na França. Membros do governo Lula subiram o tom contra a rede varejista francesa, enquanto frigoríficos brasileiros deram início a um boicote: deixaram de comercializar carne para as lojas brasileiras do Carrefour.
Bompard, então, recuou em carta entregue ao ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, por meio do embaixador francês no Brasil.
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"Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito as normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas", diz um trecho da carta.
Leia a íntegra:
"Ao Excelentíssimo Ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil,
Senhor Carlos Fávaro,
A declaração de apoio do Carrefour França aos produtores agrícolas franceses causou discordâncias no Brasil. Como Diretor-Presidente do Grupo Carrefour e amigo de longa data do país, venho, respeitosamente, esclarecê-la.
O Carrefour é um grupo descentralizado e enraizado em cada país onde está presente, francês na França e brasileiro no Brasil.
Na França, o Carrefour é o primeiro parceiro da agricultura francesa: compramos quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades na França, e assim seguiremos fazendo. A decisão do Carrefour França não teve como objetivo mudar as regras de um mercado amplamente estruturado em suas cadeias de abastecimento locais, que segue as preferências regionais de nossos clientes. Com essa decisão, quisemos assegurar aos agricultores franceses, que atravessam uma grave crise, a perenidade do nosso apoio e das nossas compras locais.
Do outro lado do Atlântico, no Brasil, compramos dos produtores brasileiros quase toda a carne que necessitamos para as nossas atividades, e seguiremos fazendo assim. São os mesmos valores de criar raízes e parceria que inspiram há 50 anos nossa relação com o setor agropecuário brasileiro, cujo profissionalismo, cuidado à terra e produtores conhecemos.
O Grupo Carrefour Brasil é profundamente brasileiro, com mais de 130.000 colaboradores, se desenvolveu e continua se desenvolvendo sob minha presidência em parceria com produtores e fornecedores do Brasil, valorizando o trabalho do setor produtivo e sempre em benefício de nossos clientes. Nos últimos anos, o Grupo Carrefour Brasil acelerou seu desenvolvimento, dobrando tanto o volume de seus investimentos no país quanto suas compras da agricultura brasileira. Mais amplamente, o Brasil é o país em que o Carrefour mais investiu sob minha presidência, o que confirma nossa ambição e nosso comprometimento com o país. Assim seguiremos prestigiando a produção e os atores locais e fomentando a economia do Brasil.
Sabemos que a agricultura brasileira fornece carne de alta qualidade, respeito as normas e sabor. Se a comunicação do Carrefour França gerou confusão e pode ter sido interpretada como questionamento de nossa parceria com a agricultura brasileira e como uma crítica a ela, pedimos desculpas.
O Carrefour está empenhado em trabalhar, na França e no Brasil, em prol de uma agricultura próspera, seguindo nosso propósito pela transição alimentar para todos. Asseguro, Senhor Ministro, nosso compromisso de longo prazo ao lado da agricultura e dos produtores brasileiros.
Aproveito a oportunidade para renovar os protestos de estima e consideração.
Atenciosamente,
Alexandre Bompard
Diretor-Presidente do Grupo Carrefour"
Início da crise com o Carrefour
Em 20 de novembro, em uma carta direcionada para Arnaud Rousseau, presidente da Federação Nacional dos Sindicatos de Agricultores da França (FNSEA), o CEO do grupo francês declarou que, "em solidariedade ao mundo agrícola, o Carrefour se compromete a não comercializar nenhuma carne do Mercosul", fazendo referência ao bloco formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Falou ainda, em postagens em redes sociais, esperar adesão por parte de outras empresas. "Esperamos inspirar outros atores do setor agroalimentar e impulsionar um movimento mais amplo de solidariedade, além do papel da distribuição, que já lidera a luta em favor da origem francesa da carne que comercializa."
Na ocasião, o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil (Mapa) divulgou nota contestando as declarações de Bompard. "O Mapa não aceitará tentativas vãs de manchar ou desmerecer a reconhecida qualidade e segurança dos produtos e dos compromissos ambientais brasileiros", apontou o texto do governo brasileiro.