O governo Lula subiu o tom com a rede Carrefour e exige uma retratação formal após as declarações do CEO global da empresa, Alexandre Bompard, aos produtores franceses, que são contra o acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul, pois acreditam que serão prejudicados.
Diante de tal quadro, os produtores franceses têm realizado uma série de manifestações contra o governo de Emmanuel Macron, nas quais exigem do presidente da França que não leve adiante o acordo entre a União Europeia e o Mercosul.
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No comunicado, Alexandre Bompard se compromete a não mais comprar carne do Mercosul. "Assumo hoje o compromisso de não comercializar nenhuma carne proveniente do Mercosul [...] No Carrefour, estamos prontos, qualquer que seja o preço e a quantidade de carne que o Mercosul venha a nos oferecer [...] Em toda a França, ouvimos o desespero e a indignação dos agricultores diante do projeto de acordo de livre-comércio entre a União Europeia e o Mercosul e o risco de inundação do mercado francês com carne que não atende às suas exigências e normas", disparou o CEO do Carrefour.
O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, declarou que é "legítimo" o Carrefour querer privilegiar os produtores franceses, mas afirmou que é inaceitável questionar a questão sanitária. "O movimento de prestigiar os produtores franceses é legítimo. O problema é quando ele fala em não cumprimento de regras sanitárias. Aí não aceitamos. Eles compram a carne brasileira há 40 anos", afirmou Carlos Fávaro ao G1.
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"Não é pelo boicote econômico. O problema é a forma com que o CEO do Carrefour tratou, o primeiro parágrafo da carta, da manifestação dele, que fala com relação à qualidade sanitária das carnes brasileiras, que é inadmissível falar", declarou o ministro da Agricultura.
O ministro complementa: "Eu estou feliz com a atitude dos nossos fornecedores. Se, para o povo francês, o Carrefour não serve para comprar carne brasileira, o Carrefour também não compre carne brasileira para colocar nas suas lojas aqui no Brasil."
A crise entre o Carrefour e o Brasil já chegou em solo francês, e a Embaixada do Brasil na França publicou um longo comunicado em que refuta as declarações do CEO do Carrefour. Confira o comunicado abaixo:
“Nota à Imprensa
Embaixada do Brasil em Paris
O governo brasileiro lamenta a publicação recente do Sr. Alexandre Bompard na rede social X a respeito da decisão do Carrefour de suspender a compra de carnes com origem nos países do Mercosul.
A referida comunicação reflete entendimentos e temores infundados sobre a sustentabilidade e a qualidade dos produtos ofertados pela agropecuária brasileira, os quais não se coadunam com a prática de negócios do próprio Carrefour que, diariamente, oferece esses mesmos produtos a seus mais de 2 milhões de consumidores brasileiros, bem como sobre eventual risco aos produtores e consumidores europeus decorrente de importações do Mercosul.
No intuito de combater esta patente desinformação, o governo brasileiro tem o dever de esclarecer que:
- É falsa a declaração de que há risco de "transbordamento de carne do Mercosul no mercado francês, que não respeita as suas exigências e normas".
- A União Europeia consome 6,5 milhões de toneladas de carne bovina por ano, das quais apenas 5% são importadas. A Europa exporta mais carne do que importa. A quota de carne bovina oferecida ao Mercosul corresponde a apenas 1,5% do consumo europeu.
- O acordo comercial entre Mercosul e União Europeia não compromete os elevados padrões produtivos e sanitários adotados em ambas as regiões.
- O Brasil orgulha-se de ser, há décadas, fornecedor seguro de proteína animal ao mercado europeu, bem como de sua capacidade de atender plenamente às exigências e controles sanitários de mais de 160 países, incluindo os rigorosos controles da União Europeia.
- Além disso, cabe observar que os produtores brasileiros estão sujeitos a normas de sustentabilidade e produção frequentemente mais rigorosas do que as da UE. Nosso Código Florestal reserva entre 20 e 80% da área total das propriedades rurais para preservação da vegetação nativa (80% em todo o bioma amazônico), cifras sem paralelo na regulação ambiental europeia.
O Brasil respeita, democraticamente, a oposição de qualquer setor ao acordo de livre-comércio Mercosul-União Europeia. Tal posição, no entanto, não pode justificar uma campanha pública baseada na disseminação generalizada de desinformação contra produtos brasileiros.”