Dois atos simultâneos por justiça e memória à vereadora e ao motorista, acontecem nas ruas das duas maiores cidades do país: Rio de Janeiro e São Paulo, enquanto Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, assassinos confessos de Marielle Franco e Anderson Gomes, são julgados a júri popular nesta quarta-feira (30) pela primeira vez seis anos após crime brutal que chocou o país.
Integrantes de diversos movimentos sociais se reuniram para prestar homenagem à Marielle e Anderson, brutalmente assassinados em março de 2018, e pedir a condenação imediata dos réus. Em ato simbólico, manifestantes se reuniram na escadaria da Rua Cardeal Arcoverde, em Pinheiros, em São Paulo, local marcado pelo mural em preto e branco em homenagem à Marielle.
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Em frente ao local do julgamento, no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ), o segundo ato que contou com a presença de Anielle Franco, irmã de Marielle e ministra da Igualdade Racial, a mãe da vereadora, Marinete da Silva, e a viúva Mônica Benício, reuniu mais de 300 manifestantes.
Faixas foram estendidas, e os participantes ecoaram palavras de resistência, reforçando a memória e o legado de Marielle Franco: 'Marielle vive, Marielle viverá. Mulheres negras não param de lutar' e 'Marielle perguntou, eu também vou perguntar: quantas mais têm que morrer pra essa guerra acabar?' Em meio aos protestos, girassóis foram distribuídos, flores que se tornaram um símbolo de força e lembrança em homenagem a Marielle. Veja imagens enviadas com exclusividade à Fórum pelo fotógrafo Danilo Santana:
Anielle Franco relembrou assassinato da irmã em frente ao tribunal. “Perguntaram para a gente como conseguimos chegar aqui. Parecia que a gente estava chegando no velório. São quase sete anos de muita dor, de um vazio de uma mulher que lutava exatamente contra isso e foi assassinada da maneira que foi”, disse Anielle.
A ministra também afirmou que o maior legado da irmã “são as pessoas que têm lutado lado a lado conosco. A gente está hoje um pouco sem palavras, muito mexido com tudo, porque é reviver aquele momento”.
Marinete da Silva segui a linha da filha mais nova e afirmou que, mesmo após quase seis anos, este dia significa reviver o momento em que sua primeira filha foi assassinada. “A sensação que eu tenho é de estar vivendo aquela dor, mas a gente vai tentar vencer depois de tanto tempo”.
O ex-deputado Marcelo Freixo, que era próximo à Marielle, a deputada federal Benedita da Silva (PT), a víúva da vereadora Mônica Benício, o pastor Henrique Vieira (PSOL) e o deputado federal Chico Alencar (PSOL) compartilharam os atos em suas redes sociais e destacaram a importância do julgamento. "Estendemos essa faixa na fachada da Câmara Municipal do Rio, para que todos saibam que será dado mais um passo importante na luta por justiça."
Júri popular
Lessa e Queiroz estão presos desde 2019 e ano passado começaram a fazer delação premiada com a Polícia Federal. Em março deste ano, Lessa entregou os nomes de Chiquinho Brazão, deputado federal, Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do Rio, e Rivaldo Barbosa, chefe da Polícia Civil, como mandantes do crime.
Um grupo de 21 cidadãos foi selecionado para participar do Tribunal do Júri. Dentre esses, apenas sete serão escolhidos aleatoriamente para decidir sobre o caso.
O julgamento, com duração prevista de dois dias, contará com o depoimento de nove testemunhas. Sete delas foram indicadas pelo Ministério Público: a assessora Fernanda Chaves, única sobrevivente do crime; Marinete da Silva, mãe de Marielle; Mônica Benício, viúva da vereadora; Ágatha Reis, viúva de Anderson; além de uma perita criminal e dois agentes da Polícia Civil.
As duas testemunhas restantes foram indicadas pela defesa de Ronnie Lessa. A defesa de Élcio de Queiroz, por sua vez, optou por não apresentar testemunhas. Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz prestarão depoimentos por videoconferência de suas unidades prisionais. O primeiro é o responsável pelos disparos que resultaram na morte da vereadora, enquanto o segundo conduziu o veículo utilizado na execução. O julgamento está sendo transmitido ao vivo pelo canal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro no YouTube, e estava previsto para começar às 9h:
O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) vai pedir pena máxima, de 84 anos, para Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, acusados do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes em 2018. O pedido deve ser feito pelo Conselho de Sentença do IV Tribunal do Júri durante julgamento do caso nesta quarta-feira (30).
Ronnie e Queiroz foram denunciados pelo Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado para o Caso Marielle Franco e Anderson Gomes (Gaeco/FTMA) duplo homicídio triplamente qualificado, um homicídio tentado, e pela receptação do veículo usado no dia do crime.