ANTICORRUPÇÃO ELE

Escola de inglês e loja de Gustavo Gayer eram mantidas com dinheiro público

Deputado bolsonarista usava verba da Câmara para alugar espaço onde seus negócios funcionavam. Entenda o caso envolvendo o parlamentar do discurso anticorrupção

Créditos: Reprodução/Redes sociais
Escrito en BRASIL el

O deputado federal bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO), que foi nesta manhã (25) alvo de uma operação da Polícia Federal sob suspeita de desviar valores da cota parlamentar a que tem direito, e de ser líder de uma organização criminosa que falsificava documentos para a criação de uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) fraudulenta, pagava o aluguel de seus negócios pessoais, uma escola de inglês e uma loja de camisetas, em Goiânia (GO), com dinheiro público.

De acordo com o inquérito da PF, o espaço onde funcionavam suas firmas tinha um custo mensal de R$ 6,5 mil e era pago com dinheiro que oficialmente serviria para manter seu escritório político na capital goiana. Os salários dos funcionários dos estabelecimentos também seriam custeados pela verba disponibilizada ao deputado para manter “secretários”, em funções que deveriam ser políticas, no estado.

Mensagens trocadas entre o secretário parlamentar de Gayer, Marco Aurelio Nascimento, e o assessor do deputado, João Paulo Cavalcante, às quais o jornal O Estado de S. Paulo teve acesso, mostram que os dois tinham plena ciência do que o “patrão” estava fazendo, e que aquilo era crime.

“A escola está sendo paga com recuso público e tá sendo usada para um fim totalmente que tipo num existe né, num tem como ser assim e aí eles vão levando ou seja ainda não entenderam a gravidade sabe... O Gustavo hoje ele é uma vidraça, ele é um alvo, e se for pra cima, moço, infelizmente a gente tá tipo errando, né. Nesse sentido a gente tá pregando uma coisa e tá vivendo outra... Infelizmente a gente tem muitas coisas erradas acontecendo aí”, dizem no diálogo.

Peça central numa organização criminosa, diz PF ao STF

A Polícia Federal informou em seu relatório reportado ao Supremo Tribunal Federal que o deputado bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO), notório por seu discurso anticorrupção e reacionário, é a “peça central” de uma organização criminosa que desviava dinheiro da cota parlamentar e falsificava documentos com o objetivo de criar uma Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) fraudulenta.

No documento encaminhado ao STF, a PF diz que Gayer é suspeito de ter praticado “os possíveis crimes, responsável por direcionar as verbas parlamentares para atividades de particulares, as quais tinham o intuito de movimentar atos antidemocráticos, e autorizar a participação dos demais integrantes do grupo nestas atividades”. No inquérito, o bolsonarista é investigado por ter utilizado secretários parlamentares que recebiam salários provenientes do dinheiro público para que eles executassem tarefas de ordem partículas. “[O deputado] teria utilizado verbas públicas para manter, ainda que parcialmente, essas atividades privadas, uma vez que funcionariam em local custeado com verbas de cota parlamentar”, lê-se na denúncia.

Gayer dá desculpas e vem com o papo de “democracia relativa”

O deputado Gustavo Gayer foi às redes sociais chorar e dizer que a polícia bateu à sua porta às 6h. “Não falam o porquê que tô sofrendo busca e apreensão, claramente querendo prejudicar meu candidato Fred Rodrigues (PL-GO) aqui em Goiânia. Esses policiais viraram jagunços de um ditador”, reclamou em um vídeo divulgado em seu perfil no X, referindo-se a Alexandre de Moraes. “Vieram à minha casa, levaram meu celular, HD, essa democracia relativa está custando caro para o nosso país.”

Durante uma das buscas, foram encontrados mais de R$ 70 mil em dinheiro vivo na casa de um assessor de Gayer. A Polícia Federal informou que recursos públicos estavam sendo usados para financiar empreendimentos privados. Os mandados estão sendo executados no imóvel funcional do deputado em Brasília, bem como em sua residência.