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Fórum antecipou esquema de corrupção de Gustavo Gayer que baseou operação da PF

Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia em junho, o historiador e cientista político Carlito Neto denunciou deputado por peculato e afirmou que tinha provas, as quais foram encaminhadas ao MPF

À esquerda, o historiador Carlito Neto e à direita, o deputado Gustavo Gayer.Créditos: Reprodução de vídeo/Youtube
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A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira (25) um esquema de corrupção em Brasília que envolve desvio de verba parlamentar e fraudes para uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). A operação, intitulada Discalculia, mira uma associação criminosa que lucrava com o dinheiro público e um dos principais alvos é o deputado federal bolsonarista Gustavo Gayer (PL-GO)

A operação investiga um esquema de desvio de verbas parlamentares na OSCIP, marcada por uma falsificação em sua Ata de Assembleia, que, de forma retroativa, data de 2003. Na época, o quadro social da OSCIP era composto por crianças de 1 a 9 anos, segundo os registros disponíveis. 

Em resposta aos delitos, que incluem associação criminosa, falsidade ideológica, falsificação de documentos particulares e peculato-desvio, aproximadamente 60 agentes da Polícia Federal estão executando 19 mandados de busca e apreensão. Esses mandados foram emitidos pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e estão sendo cumpridos em várias cidades, como Goiânia, Aparecida de Goiânia, Valparaíso de Goiás, Cidade Ocidental e Brasília.

Gayer apareceu nas redes sociais para dizer a polícia bateu à sua porta às 6h. “Não falam o por quê que tô sofrendo busca e apreensão, claramente querendo prejudicar meu candidato Fred Rodrigues (PL-GO) aqui em Goiânia. Esses policiais viraram jagunços de um ditador”, reclamou em um vídeo divulgado em seu perfil no X, referindo-se a Alexandre de Moraes. “Vieram à minha casa, levaram meu celular, HD, essa democracia relativa está custando caro para o nosso país.”

LEIA MAIS: Gustavo Gayer: PF faz buscas na casa do bolsonarista por suspeita de corrupção

Fórum adiantou caso

Em entrevista ao programa Fórum Onze e Meia no dia 6 de junho deste ano, o historiador, cientista político e comunicador Carlito Neto foi enfático ao acusar de peculato o deputado federal e pré-candidato a prefeito de Goiânia Gayer. Carlito acusou o parlamentar de utilizar verbas públicas para custear o aluguel de suas empresas privadas em um imóvel em Goiânia e afirmou possuir provas.

"O Gustavo Gayer, e eu posso falar aqui com boca cheia, porque eu tenho prova, ele é ladrão, tá? Ele roubou dinheiro público pra pagar aluguel de um endereço de uma empresa privada. Eu falo isso porque eu tenho provas, ele não me processa", declarou Neto na entrevista.

"Me bloqueou nas redes sociais, porque ele é a favor da liberdade de expressão. Me bloqueou nas redes sociais, não respondeu os meus contatos pra que ele explique porque que ele usou dinheiro público pra pagar aluguel de uma empresa privada", completou.

Neto reuniu documentos e comprovantes que apontam possíveis irregularidades envolvendo o deputado bolsonarista. Segundo ele, Gayer mantém um gabinete no Setor Bueno, em Goiânia, onde também funciona sua empresa de cursos, a Academia Gayer LTDA, que não tem relação com atividades parlamentares. O uso do mesmo espaço para negócios privados poderia configurar peculato, ou "rachadinha”.

Carlito também destacou que o deputado teria envolvimento com a empresa DESFAZUELI, que tem como sócio o filho de Gayer e compartilha o endereço com a companhia de redes sociais que presta serviços ao parlamentar. Um dos sócios da DESFAZUELI também atua na “Academia” de Gayer. O CNPJ foi aberto em julho de 2022. O endereço original da empresa era na Rua T-38, número 147.

De acordo com a prestação de contas de Gayer ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), recursos de campanha foram utilizados para cobrir o aluguel do mesmo endereço no mesmo ano. O valor de R$ 3 mil foi pago pela campanha para o local onde, simultaneamente, funcionavam suas empresas. 

Durante alguns anos, também operou a empresa do parlamentar sob o nome fantasia "Gustavo Gayer Language Institute". Essa empresa, registrada na prestação de contas ao TSE em 2022, ocupava o mesmo lugar onde hoje está instalado o gabinete.

Imagem extraída do Google Maps. Foto: Arquivo
Imagem extraída do Google Maps. Foto: Arquivo
Foto: Arquivo
Imagem extraída do Google Maps em 2024 do gabinete de Gustavo Gayer, em Goiânia. Foto: Google Maps/Reprodução

A empresa tinha sua sede no sobrado até maio de 2023, quando pediu mudança para a Junta Comercial do Estado de Goias. A mudança foi confirmada em junho. Até lá, os valores do aluguel do número 147 foram pagos com dinheiro da Câmara dos Deputados.

Em um vídeo publicado ainda em outubro de 2022, o então recém-eleito Gustavo Gayer incentivou seus seguidores a conhecerem sua escola de inglês e adquirirem camisetas em apoio a Bolsonaro. Ele próprio divulgou o endereço do estabelecimento, localizado na Rua T-38, nº 146, quadra 116 - lote 11, no Setor Bueno.

Em março de 2023, no primeiro mês de seu mandato, Gayer usou recursos da Câmara para pagar R$ 6 mil pelo aluguel de um imóvel localizado no mesmo endereço divulgado anteriormente. Nos meses seguintes, os pagamentos de aluguel para o gabinete em Goiás passaram a constar no endereço Rua T-38, nº 147, quadra 116 - lote 11, Setor Bueno, com apenas um número de diferença. Essas informações estão registradas em documentos públicos no site da Câmara.

O edifício que serviu como escola de inglês (146, segundo as redes do deputado), QG de campanha (147, segundo o TSE), gabinete do parlamentar (146 e 147, segundo a Câmara dos Deputados) e sede da empresa Academia Gayer (147, segundo a Junta Comercial) parece ser o mesmo para quem o vê de fora. De acordo com Carlito, estes são indícios de que o parlamentar "roubou dinheiro público pra pagar aluguel de um endereço de uma empresa privada". Neste link, do portal Folha Democrata, é possível acessar as provas dos documentos revelados por Carlito Neto.

Gayer nega todas as acusações. Carlito informou ter encaminhado uma denúncia ao Ministério Público Federal (MPF) e à Câmara cos Deputados. Assista o vídeo na íntegra, onde Carlito mostra os documentos, em um vídeo em que detalha a acusação:

Vídeo onde Carlito cita o caso, no dia 6 de junho, no Fórum Onze e Meia:

À época, a reportagem da Fórum questionou o deputado Gustavo Gayer sobre as acusações de Carlito e sobre os imóveis na rua T-38. Por meio de assessoria, o gabinete não negou a acusação.

Foi enviada a seguinte resposta:

"Boa tarde,

Estou sem tempo de digitar uma receita de bolo, nesse momento.

Acredito que o deputado tem menos tempo ainda, mas agradeço o interesse"

A Fórum segue com espaço aberto para esclarecimento do caso.