Após registrar alta nos quatro anos de governo Bolsonaro, o número de casos de violência contra jornalistas voltou a cair em 2023. O relatório Violência Contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, lançado nesta quinta-feira (25) pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), mostra uma queda de 51,86%. Ao todo, foram 181 casos em 2023, enquanto em 2022 foram 376.
Apesar da queda, a Fenaj afirma que o número permanece alto, influenciado, principalmente, pelo legado de incentivo aos ataques à imprensa deixado pelo governo anterior. “As agressões à categoria e ao Jornalismo continuam e, em determinadas categorias de violência, até cresceram significativamente em 2023, quando comparadas ao ano anterior”, afirmou Samira de Castro, presidenta da entidade.
Te podría interesar
Samira reforça que durante o governo Bolsonaro, “ele próprio foi o principal agressor, atacando pessoalmente a imprensa e incentivando seus apoiadores a também se tornarem agressores". Entre 2019 e 2022, Bolsonaro realizou 570 ataques a veículos de comunicação e aos jornalistas, uma média de 142,5 de agressões por ano e duas agressões por dia.
A volta da democracia – que sabemos, continua inconclusa e imperfeita – teve reflexo direto e imediato na liberdade de imprensa. O fim da institucionalização da violência contra jornalistas, perpetrada por Bolsonaro, fez cair o número de agressões diretas aos profissionais e fez desabar os ataques genéricos e generalizados a veículos de mídia e a profissionais, que categorizamos como Descredibilização da imprensa.
Esses ataques foram os mais registrados em 2022, visto que foi uma estratégia adotada por Bolsonaro em seu governo, afirma o relatório. Naquele ano, foram 87 casos de ataques genéricos e generalizados (23,14% do total), que buscaram desqualificar a informação jornalística. Já em 2023, foram 7 casos, uma queda de 91,95%.
O relatório analisa diversos tipos de violência, como assassinatos, atentados, agressões físicas, censura e cerceamento da atividade jornalística. Esse último tipo é o que mais preocupa a entidade atualmente, visto que registrou crescimento de 92,31%, na comparação com 2022.
Esse tipo de violência acontece através de ações judiciais e ataques cibernéticos, que subiram de 13 para 25 casos.
O documento ainda mapeia os principais agressões. Em primeiro lugar, estão políticos, assessores e parentes (24,31%) e em segundo lugar aparecem os manifestante de extrema direita (16,02%).
Os ataques golpistas de 8 de janeiro são citados como exemplo do desdobramento da política de violência aos jornalistas durante o governo Bolsonaro. "Os apoiadores de Bolsonaro, entretanto, seguiram agredindo a categoria. Em manifestações antidemocráticas e até mesmo golpistas, eles foram os agressores em 31 episódios de violência. A maioria aconteceu nos acampamentos montados em frente a quartéis.
O relatório ainda comemora que o fato de não ter havido nenhum caso de assassinato de jornalista em 2023, uma realidade contrastante com a mundial.
Ataques à Revista Fórum
O relatório da Fenaj citou um episódio de violência direcionado aos jornalistas da Fórum após publicação de uma reportagem em que era exposta a violência a que jornalistas do Estadão teriam sido submetidos na produção de reportagens que associassem Flávio Dino a organizações criminosas.
"O jornalista Renato Rovai e a revista Fórum, da qual ele é o editor, foram alvos de ataques, após a publicação de reportagem sobre denúncia contra a jornalista Andreza Matais, editora-executiva de Política e chefe da sucursal do Estadão em Brasília, enviada ao Ministério Público do Trabalho, por jornalistas a ela subordinados", diz o relatório.